Crítica: Shepherd (2021)

Se a universal experiência do luto pudesse ser traduzida em um gênero cinematográfico, ela seria uma história de horror? Shepherd (UK, 2021, 103 min.), novo filme do diretor e roteirista galês Russell Owen, explora esta possibilidade enquanto acompanha um homem traumatizado pela morte de sua esposa grávida em um acidente de carro. Esposa que ele sabe que era infiel a ele. Sentimentos de perda, traição e culpa se misturam em um caldo tóxico que gradualmente se torna cada vez mais horripilante.

Eric Black, interpretado com um olhar frio por Tom Hughes (do recente Infinite), é o tipo de homem calado, que não demonstra o que está sentindo nem mesmo para os mais próximos. A palavra que ele mais profere é “Baxter”, o nome de seu fiel cachorro de estimação. Depois de uma malsucedida tentativa de suicídio e da rejeição de sua mãe censuradora e fanática religiosa (Greta Scacchi, de Acima de Qualquer Suspeita), ele aceita um emprego em uma remota ilha escocesa, supostamente não-habitada, com exceção das ovelhas que se tornam sua obrigação (daí o título do filme, “Pastor”, na tradução livre).

SHEPHERD (2021)

Com exceção de um telefone pouco confiável, o único contato de Eric com o mundo exterior é Fisher (Kate Dickie, de A Bruxa), uma misteriosa e sombria mulher que opera a balsa que vai e volta da ilha, sempre em longos intervalos de tempo. Assombrado por ameaçadoras visões da referida mulher, e também de sua mãe e de sua falecida esposa (Gaia Weiss), Eric agora se encontra preso ao local, que carrega um perigoso segredo sobrenatural, que colocará sua sanidade e sua própria vida em risco.

A sensacional fotografia de Richard Stoddard captura o estéril território da ilha com eficácia arrepiante. Fortes ventos, ondas gigantes e um score atmosférico são ouvidos incessantemente ao longo do filme, colando no cérebro sem dar um respiro ao espectador de toda a hostilidade sentida no ambiente ao redor. Tábuas que rangem e sombras que se movem na noite já são recursos manjados em filmes do gênero, e umas das cenas que se passa em um farol chupa bastante do clássico Um Corpo que Cai do mestre Hitchcock, mas a originalidade das locações do filme se sobressai aos clichês mais óbvios.

Hughes está ótimo na produção, destacando a vulnerabilidade de Eric, um homem assolado pelos terrores do luto e isolamento, e seu personagem dá ao filme a profundidade necessária para caminhar entre o drama psicológico e o horror sobrenatural. A habilidade do filme em caminhar na linha tênue que separa paranoia do paranormal constrói um bom nível de tensão que mantém o público sempre atento ao desenrolar dos eventos. Um pequeno epílogo ambientado no continente parece um pouco fora de tom e talvez seja possivelmente desnecessário, mas ainda assim consegue deixar algumas questões intrigantes não-respondidas, o que permite que Shepherd permaneça na cabeça de seu público muito depois dos créditos finais.

Avaliação: 2.5 de 5.

Shepherd deve ganhar um lançamento mundial em VOD ou streaming ainda neste mês de dezembro.

O Trailer Oficial de SHEPHERD (2021)

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