Crítica: Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City (Resident Evil: Welcome to Raccoon City) | 2021

Quando a Sony anunciou que iria relançar a franquia Resident Evil nos cinemas, minha reação foi um misto de cautela e otimismo. Confesso que fiquei curioso para ver como o diretor Johannes Roberts (dos regulares Medo Profundo e Os Estranhos: Caçada Noturna), abordaria o material fonte, principalmente após o promissor trailer do filme. Infelizmente, Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City (Resident Evil: Welcome to Raccoon City, ALE/CAN/EUA, 2021, 107 min.), desaponta como filme de horror; o filme tem algumas boas ideias, mas entre o péssimo roteiro a cargo do próprio Roberts e um terceiro ato apressado, não me resta dúvida ao afirmar que dificilmente veremos uma nova franquia surgir depois do fraco resultado final da produção.

O plot de Bem-Vindo a Raccoon City adapta para as telas as histórias dos dois primeiros games da saga Resident Evil, onde uma porção da trama foca em Chris Redfield (Robbie Amell), Jill Valentine (Hannah John-Kamen), e Albert Wesker (Tom Hopper), enquanto exploram a Mansão Spencer. A outra narrativa acompanha Leon Kennedy (Avan Jogia) e Claire Redfield (Kaya Scodelario), enquanto a dupla procura por uma saída de Raccoon City, antes que a cidade literalmente exploda pelos ares. Já deixo bem claro que o elenco não é um problema, já que todos visivelmente se esforçam em seus papéis, o problema está nos personagens mal desenvolvidos pelo roteiro, que transforma todos em meras caricaturas sem nenhuma profundidade.

RESIDENT EVIL: BEM-VINDO A RACCOON CITY (RESIDENT EVIL: WELCOME TO RACCOON CITY) | 2021

O roteiro é com certeza o pior dos problemas da produção, o que não é novidade quando falamos de adaptações de games para o cinema. Aqui, Roberts espreme as tramas de dois jogos da franquia de sucesso dos games em 107 minutos, o que deixa a sensação de que o filme começa a correr mais do que as próprias pernas quando vai chegando em seu terceiro ato. Eu até dou algum crédito para Roberts por tentar criar um filme que tenha uma relação mais forte com os games do que os produtos da interminável franquia criada por Paul W.S. Anderson e sua musa Milla Jovovich, mas ainda assim, falta ao filme de Roberts um objetivo mais realista para focar sua narrativa, talvez adaptando a história do primeiro game apenas. Seria muito melhor do que apenas tentar empilhar numerosas subtramas em um curto espaço de tempo.

Contudo, o cenário que dá nome ao filme, a famigerada Raccoon City, é intrigante e bem explorada. No primeiro ato, o filme estabelece o local como uma cidade decadente e com a economia em frangalhos, depois que Umbrella, a poderosa e extremamente influente corporação conhecida por desenvolver drogas farmacêuticas e armas (pensa numa combinação!), abandona a cidade, com exceção de alguns poucos funcionários que permanecem trabalhando de maneira suspeita no local. A atmosfera criada e várias cenas que focam na cidade em si realmente ajudam a desenvolver um cenário que parece novo mas que carrega toda a carga deste local fictício que todos os fãs dos games (e cultura pop em geral), conhecem muito bem. Seria bacana inclusive, saber mais sobre os meandros da própria cidade, mas infelizmente o filme não investe nisso.

O que vemos em algumas passagens, entretanto, é o impacto que a Umbrella causou não apenas na cidade mas em seus residentes. As paredes do orfanato de Raccoon City, por exemplo, são infestadas de velhos pôsteres com propagandas da companhia, e a delegacia da cidade trabalha em seu limite depois de cortes no orçamento. Tais exemplos são sutis e espertos na maneira em que estabelecem o tom, e novamente, gostaria de ver mais sobre esta relação predatória entre Umbrella e Raccoon City, antes da iminente e inevitável destruição da cidade. Porém Bem-Vindo a Raccoon City não é este tipo de filme.

Com relação à atração principal, não faltam zumbis (e outras criaturas infectadas que os jogadores dos games com certeza irão reconhecer), mas não esperem muita ação ao estilo dos filmes estrelados por Jovovich. Uma das sequências em particular é bastante tensa e divertida, mas se você embarcar no filme esperando ação constante com zumbis sendo demolidos, sairá do cinema desapontado. Até a chega do segundo ato, quando a infecção começa a tomar a cidade, o que se nota é uma surpreendente falta de ação. Nós vemos os zumbis arrombarem o portão da delegacia, mas é decepcionante não poder acompanhar o caos violento causado por eles em sua totalidade. O foco principal do game Resident Evil 2 estava contido à estação de polícia e algumas outras áreas, mas ainda assim a sensação é de uma oportunidade desperdiçada de realmente mostrar o tamanho do dano causado na cidade.

Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City certamente não é a pior adaptação de um game para as telas ou mesmo o pior filme com a alcunha Resident Evil. Entretanto, tal padrão é nivelado por baixo, sabemos disso. O diretor Johannes Roberts tentou se manter próximo do material fonte e merece algum crédito por isso, mas com um roteiro descompensado, um terceiro ato apressado e a falta de elementos que tornem o filme realmente assustador, o resultado é decepcionante. Para os fãs inveterados dos games, entretanto, o filme pode ser até divertido, nem que seja só para encontrar todos os easter eggs e referências espalhadas nos cantos escuros de Raccoon City.

Avaliação: 1.5 de 5.

Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City estreia nos cinemas brasileiros no próximo dia 02 de dezembro.

O Trailer Oficial de RESIDENT EVIL: BEM-VINDO A RACCOON CITY (RESIDENT EVIL: WELCOME TO RACCOON CITY) | 2021

2 comentários sobre “Crítica: Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City (Resident Evil: Welcome to Raccoon City) | 2021

  1. A pergunta que não quer falar JAMAIS: Por que fazem o que fazem com franquias de games, Hq’s etc por quê?
    Eles tem dinheiro. Tem tecnologias disponíveis. Tem a disposição dos fãs (caso queiram opinião). Podem construir e reconstruir tudo a partir de CGI etc
    Por que fazem isso e tornam tudo um fracasso se poderiam ganhar rios, toneladas de dinheiro, indicação ao Oscar etc etc etc
    Quem um dia nós responderá?
    Abs

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  2. Pingback: Crítica: V/H/S/99 (2022) – Os Filmes do Kacic

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