Crítica: Renfield: Dando Sangue Pelo Chefe (Renfield) | 2023

Quem acompanha meus textos sabe o quanto sou fã do mitológico Nicolas Cage, sempre um dos meus eternos atores favoritos de todos os tempos. Mas até quem não é tão fã do ator assim vai se divertir à beça com este Renfield: Dando Sangue Pelo Chefe (Renfield, EUA, 2023, 93 min.). Cage está absolutamente perfeito como o famigerado Conde Drácula, assim como o cada vez melhor Nicholas Hoult (do recente O Menu), está ótimo no papel de seu servo, o epônimo R.M. Renfield.

Para aqueles que não estão familiarizados com o folclore em torno do Conde Drácula, Renfield é um homem abençoado/amaldiçoado com juventude eterna, sob o preço de ser o lacaio do vampirão por toda a eternidade. Uma das grandes vantagens deste Renfield ser uma produção da Universal Pictures é que assim o filme pôde utilizar as imagens do Drácula original de 1931, mesclando digitalmente Cage e Hoult nas imagens de Bela Lugosi e Dwight Frye, que interpretaram os respectivos papéis no filme original. Trata-se de uma sacada de gênio, que ao mesmo tempo aproveita e homenageia o filme original, já que o conceito é de que estas versões de Drácula e Renfield são as mesmas de 90 anos atrás.

Nicolas Cage como Conde Drácula em RENFIELD: DANDO SANGUE PELO CHEFE (RENFIELD) | 2023

Contudo, o passar de todos estes anos não foram moleza, já que caçadores de vampiros perseguiram e quase destruíram Drácula, forçando a dupla a se esconder em Nova Orleans, até que o vampiro possa se recuperar. Renfield recebe a tarefa de encontrar novas vítimas para seu mestre se alimentar, porém, ele começa a desenvolver uma consciência. A ponto de se inscrever em um grupo de apoio para ajudá-lo a lidar com seus sentimentos conflitantes em relação ao Conde. Mas ao mesmo tempo, identificar os abusadores de seus companheiros de grupo e servi-los como “refeição” para seu chefe.

Isso leva Drácula e Renfield ao conflito com criminosos locais e suas operações de tráfico de drogas, e também com a força policial corrupta da cidade. Quando um conveniente encontro entre Renfield, criminosos e polícia acontece, Renfield se revela um fenômeno no combate mano-a-mano, demonstrando uma habilidade sobrenatural sempre que ele come algum inseto (outro aceno bacana ao original). A batalha que se segue é explosiva, excitante e repleta de derramamento de sangue gratuito, e leva ao surgimento de uma improvável amizade entre Renfield e a oficial de polícia Rebecca Quincy (Awkwafina, de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis), que vinha monitorando as atividades criminosas na cidade. É através desta amizade que Renfield começa a acreditar que ele pode ser capaz de viver uma vida normal livre de seu mestre. Mas é claro que Drácula, contrariado, não pensa assim.

Não há sequer um momento sem graça em Renfield. Quando a história dá uma reduzida no ritmo para se concentrar no humor ou explorar a amizade entre Renfield e Rebecca, o filme ainda cativa. A combinação da direção energética de Chris McKay (A Guerra do Amanhã) com o esperto e criativo roteiro a cargo de Robert Kirkman (criador do universo The Walking Dead) e Ryan Ridley (de séries como Rick & Morty e Community) mantém o ritmo, e a ação sangrenta e pitadas cômicas são perfeitamente colocadas. O background cômico de McKay demonstrado na série Robot Chicken e Lego Batman: O Filme está em total evidência aqui. Mesmo pequenos diálogos de personagens secundários fazem a diferença e fortalecem o conjunto como um todo.

Nicholas Hoult interpreta de maneira eficiente o homem comum metido em uma situação extraordinária, enquanto que Cage simplesmente engole tudo ao redor com sua fúria crua e feroz e timing cômico. Não é porque eu sou fã não, mas Cage está simplesmente maravilhoso. O ator está na idade perfeita para o papel; seja no perfil, no cabelo impecavelmente anos 30 ou na perícia física. Onde ele realmente se destaca é no controle de suas sobrancelhas e mãos, combinando a atitude garbosa do Drácula de Lugosi com a força animal de Christopher Lee. O filme mantém Drácula como um anacronismo Vitoriano, da mesma maneira que o ótimo O Que Fazemos nas Sombras abraça o look do vampiro gótico, deixando as afetações e floreios góticos como artifícios para fazer humor. Ao focar em Renfield, a história permite que Drácula seja a ameaçadora presença que esperamos que seja, e o personagem possui o tempo de tela exato para funcionar.

Hoult se sai melhor quando adapta a postura abatida de um homem castigado pelo tempo, ainda que como figura de ação, ele realmente impressione. Sua sinceridade e culpa pesam sobre ele, até que ele toma a decisão de se rebelar contra seu mestre. Assistir esta transição revelatória é a divertida essência do filme. Como Drácula, ele é um homem fora de sincronia com seu tempo: ele não envelheceu e é sustentado por forças sombrias, mas saber que Renfield luta contra seu famigerado destino é boa parte dos motivos para se assistir ao filme.

Muito já foi dito sobre a desastrosa tentativa da Universal de relançar seu ‘Monsterverse’ com a bagunça que foi aquele A Múmia em 2017, levando muitos a acreditar que faltava ao estúdio a habilidade para capitalizar em cima de seu lendário catálogo histórico. Com O Homem Invisível (2020) e agora com Renfield, parece que o estúdio descobriu como fazer as coisas funcionarem; Comece por abraçar a censura 17 anos e reconhecer que em seu núcleo, estes são filmes de terror, e não de super-heróis. Eles não precisam ser interconectados. Deixe os mash-ups para Abbott e Costello. Confesso que até fiquei um pouco surpreso que a Netflix, e não a Universal, é a responsável pela produção do vindouro reboot de Frankenstein, dirigido por Guillermo Del Toro.

Renfield: Dando Sangue Pelo Chefe é um destes filmes censura 17 anos, repleto de ação violenta e gore. Muito gore. É um filme cuja violência e gore mais empolgam do que aterrorizam, e cujo bom humor e sua afiada dupla de protagonistas mais do que compensam a sessão.

Avaliação: 3 de 5.

Renfield: Dando Sangue Pelo Chefe estreia nos cinemas brasileiros no dia 27 de abril.

O Trailer Oficial de RENFIELD: DANDO SANGUE PELO CHEFE (RENFIELD) | 2023

2 comentários sobre “Crítica: Renfield: Dando Sangue Pelo Chefe (Renfield) | 2023

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