Crítica: Mergulho Noturno (Night Swim) | 2024

Uma pergunta: se você mora numa casa com piscina, e a piscina é assombrada, o que realmente é assombrada? A casa ou a piscina? Se pensarmos bem, isso pode se aplicar a qualquer cômodo ou aparato de uma residência. “Ah, eu moro numa casa bem tranquila, mas o vaso sanitário é assombrado. Não dê a descarga lá de jeito nenhum!” ou “- Sua cozinha é muito bonita! – Sim, mas não abra essa geladeira, ela é assombrada.” Anyway, estou divagando…

Porém, foi com este tipo de questionamento cretino que eu encerrei a sessão deste Mergulho Noturno (Night Swim, EUA/UK, 2024, 98 min), que dado o calibre dos nomes envolvidos na produção (os produtores Jason Blum e James Wan, que juntos foram responsáveis por boa parte dos grandes lançamentos do gênero horror dos últimos anos, vide as franquias Halloween, Invocação do Mal, A Freira, e filmes solo como Maligno e M3gan), e também o fato de que o curta no qual o filme é baseado tenha recebido ótimas críticas na época de seu lançamento, parecia ser algo muito melhor do que acabou sendo. Apesar da premissa promissora e do elenco comprometido, Mergulho Noturno nunca vai além de suas limitações.

Amelie Hoeferle em MERGULHO NOTURNO (NIGHT SWIM) | 2024

O filme tem início com uma sequência pré-narrativa padrão, que nos avisa que a piscina no núcleo do filme esconde algo muito mais sinistro do que cloro em excesso. Uma garota desaparece nas profundezas da piscina de seu quintal, e depois, quando finalmente é revelada a razão de porque a estrutura está tomando a vida de certos indivíduos, o roteiro do também diretor Bryce McGuire até que entrega um bom gancho – que envolve a noção do termo sacrifício.

Portanto, é uma pena que entre a sequência de abertura e a revelação final, Mergulho Noturno falhe em empolgar ou assustar seu público, que precisa aturar uma boa encheção de linguiça e sustos vazios. E não é como se McGuire tivesse a pior ideia do mundo ao estabelecer emocionalmente seu filme, já que a família Waller, protagonizada por Wyatt Russell (Black Mirror: Playtest) e a indicada ao Oscar Kerry Condon (Os Banshees de Inisherin), se prova como o coração do filme.

O Ray Waller interpretado por Russell é um jogador de beisebol profissional às vésperas do ressurgimento de sua carreira, até que ele é diagnosticado com esclerose múltipla. É o fim de sua carreira e também do estilo de vida itinerante da família. Nada que um pouco de terapia aquática não possa ajudar a mitigar, então, é uma maravilhosa coincidência o fato de que Ray e sua esposa, Eve (Condon), encontrem uma espaçosa casa nos subúrbios por um preço muito abaixo do valor de mercado; a corretora (Nancy Lenehan), é esperta o suficiente para deixar de lado o fato de que a casa possui o hábito de ter crianças desaparecendo na piscina no quintal dos fundos, como forma de bancar sua venda.

Felizes com a ideia de que podem finalmente ficar em um lugar só e criar raízes, Ray, Eve, sua filha adolescente, Izzy (Amelie Hoeferle), e seu filho pré-adolescente, Elliot (Gavin Warren), fecham o negócio e imediatamente começam a trabalhar na reforma da piscina. A piscina em si possui uma óbvia atração para Ray, e quando os sintomas de sua doença começam a regredir miraculosamente, faz total sentido que eles creditem isso como resultado da terapia na água, mas há uma sensação de que é mais do que isso, e Eve começa a desconfiar.

Mas é claro, as crianças também começam a experimentar seus próprios episódios dentro da piscina (uma brincadeira de esconde-esconde que termina mal), e a eventual revelação de quem (ou o quê) está assombrando o local é promissora, mas tudo demora demais para acontecer, e aos poucos, o público deixa de se importar. Com seus 98 minutos, Mergulho Noturno possui a duração ideal para estabelecer bem sua narrativa, construir suas regras, assustar seus personagens o suficiente, e descobrir como vencer a entidade maligna dentro de seu próprio jogo. Mas de algum modo, é como se o filme tivesse o dobro de sua duração, já que a narrativa passa tempo demais focando no drama da família Waller e deixando de lado seu potencial para fazer horror.

E ainda que certos filmes de horror já tenham mais que provado que excesso de gore e violência não é sinônimo de qualidade, Mergulho Noturno se mostra incapaz de trabalhar bem a opção alternativa – os famosos jump scares – que você chega a praticamente implorar para acontecer em algum momento e derramar todo aquele sangue desnecessário em cena. Apesar de honesto com o que propõe (a ideia absurda de uma piscina assombrada inacreditavelmente funciona), Mergulho Noturno infelizmente se esquece completamente do fator diversão, e o resultado não faz justiça nem à sua ideia central, e muito menos ao entusiasmo do fã do gênero. Melhor aproveitar a piscina do clube.

Avaliação: 2 de 5.

Mergulho Noturno estreia nos cinemas brasileiros no dia 18 de janeiro.

O Trailer Oficial de MERGULHO NOTURNO (NIGHT SWIM) | 2024

3 comentários sobre “Crítica: Mergulho Noturno (Night Swim) | 2024

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