Os 120 Filmes de Terror Para Ver Antes de Morrer (120 – 81)

Tudo começou como uma brincadeira no Facebook: a ideia de postar listas com meus filmes preferidos separados por gênero, um filme por dia. Ao finalizar as postagens, veio a vontade de transformar a brincadeira em uma nova categoria aqui do site: OS TOPS DO KACIC! Então, a partir de agora, teremos não apenas críticas, mas também listas com meus filmes preferidos. Mas não é só isso: Cada filme das listas terá sua própria crítica, então, pensem que agora vocês terão mais de cem críticas em apenas um post! É ou não é uma boa ideia? Rs…

Não é segredo para ninguém que me conhece que o horror é meu gênero favorito, tanto no cinema quanto na literatura, ao lado da ficção-científica. Portanto, resolvi começar Os Tops do Kacic por este gênero que tanto amo. E não foi fácil separar “apenas” 120 filmes dentro do gênero, sendo que a quantidade de filmes de terror que eu vi ao longo da vida é simplesmente gigantesca. Foram muitos, MUITOS (sério, vocês não tem idéia) filmes que precisei ver e rever, para chegar nesta lista final. Sem falar que 2021, 2022 e 2023 foram três anos excelentes para o gênero, e alguns filmes lançados no período precisaram entrar na lista, de acordo com minha preferência, o que fez com que a lista fosse mais uma vez totalmente revista e aumentada do que a princípio seriam 101 filmes, para 120. Sim, me dei ao luxo de acrescentar mais DEZENOVE filmes no total.

LEMBRANDO!: Esta lista é de acordo com a MINHA PREFERÊNCIA! E minha visão do gênero é um tanto estranha; o que eu considero assustador ou relevante dentro do gênero muitas vezes não é o que a maioria do público espera. Portanto, alguns filmes queridos por vocês leitores, e queridinhos pela crítica em geral, ficaram de fora. Querem uma amostra? Todos os Pânicos, todos os Sexta-Feira 13, Premonições, Brinquedos Assassinos e todos os Invocação do Mal dançaram. Só para vocês terem uma ideia da quantidade de filmes que eu precisei eliminar da lista. O processo de seleção foi insano, eu diria que pelo menos outros 100 filmes foram considerados e desconsiderados. Praticamente uma segunda lista. Outro ponto: Certos filmes que algumas pessoas consideram como Horror, não são vistos da mesma maneira por mim. Louca Obsessão, por exemplo, eu considero suspense, está fora da lista; A Mosca, O Enigma de Outro Mundo, eu considero sci-fi, e estão fora da lista. E por aí vai…

Uma observação: Esta lista é o que podemos chamar de um “organismo vivo”. Se no futuro surgir algum filme que eu julgue ser digno de estar nesta lista, ela será alterada.

Um último ponto, mas não menos importante: Este amor que eu tenho pelo gênero horror veio da minha falecida mãe, que me apresentou o universo do mestre Stephen King, e o resto é história… Mãe, dedico esta lista pra você.

Portanto, sem mais delongas, vamos ao que interessa. Fiquem à vontade para curtir, comentar, compartilhar, sempre com educação e respeito. O espaço aqui também é de vocês.

Começando…

120. O ADVOGADO DO DIABO (THE DEVIL’S ADVOCATE) | 1997
Dir. Taylor Hackford. Roteiro: Jonathan Lemkin e Tony Gilroy, baseado no livro de Andrew Neiderman.
Elenco: Keanu Reeves, Al Pacino, Charlize Theron, Connie Nielsen, Jeffrey Jones, Craig T. Nelson, Laura Harrington, Heather Matarazzo, Delroy Lindo. 144 min.

Sobre o que é?
Kevin Lomax (Keanu Reeves), um jovem e impetuoso advogado que nunca perdeu um caso, é recrutado pela mais poderosa firma de advocacia do mundo. Apesar de sua mãe não gostar muito da ideia (ela compara Nova York com a Babilônia), ele aceita a proposta e o dinheirão que vem junto. Ele logo cai nas graças de seu novo chefe e mentor, John Milton (Al Pacino), e sua carreira está prestes a alçar voos estratosféricos. Mas não demora muito para a ambição de Lomax cobrar seu preço, que se reflete principalmente em sua jovem e bela esposa (Charlize Theron).

Opinião Pessoal:
Como sempre acontece nas minhas listas, selecionar o último filme da lista acaba sendo mais difícil do que escolher a primeira posição. Isso porque escolher o último filme do ranking, significa deixar inúmeros outros de fora. Para que este O ADVOGADO DO DIABO pudesse figurar aqui na posição 120, pelo menos outros 30 ótimos filmes tiveram que ficar de fora. Mas o filme se justifica. O astro Keanu Reeves é conhecido por seu estilo sutil, silencioso de atuação, o que torna sua parceria com o notório devorador de cenas Al Pacino neste O ADVOGADO DO DIABO algo no mínimo interessante. A química entre a dupla funciona perfeitamente, e o filme do diretor Taylor Hackford se estabelece como um thriller dramático legal com uma pitada de sobrenatural deliciosamente maligna. A trama é um tanto mastigada, mas existe algo estranhamente cativante no material. Naturalmente, Pacino rouba o show, mas Reeves entrega um ótimo protagonista, que passa a enxergar um estranho e perigoso novo mundo, assim como o espectador que embarca nesta cativante viagem.

Cena Preferida:
Como comentei, as interações entre Pacino e Reeves são a grande força do filme, mas a sequência de assustadores eventos que acometem a personagem interpretada por Charlize Theron formam o aspecto mais impressionante da produção.

Avaliação: 5 de 5.

119. O TELEFONE PRETO (THE BLACK PHONE) | 2021
Dir. Scott Derrickson. Roteiro: Scott Derrickson e C. Robert Cargill, baseado no conto de Joe Hill.
Elenco: Ethan Hawke, Mason Thames, Madeleine McGraw, Jeremy Davies, James Ransone. 102 min.

Sobre o que é?
Finney Blake (Mason Thames), é um tímido garoto de 13 anos que é sequestrado por um sádico assassino conhecido como “The Grabber”, e colocado em um porão à prova de som. Quando um telefone desconectado na parede começa a tocar, Finney descobre que pode ouvir as vozes das vítimas anteriores do assassino. E elas estão determinadas a garantir que o que aconteceu com elas não aconteça com Finney.

Opinião Pessoal:
O TELEFONE PRETO marca outro sólido esforço do bom diretor Scott Derrickson, o colocando como uma das referências do horror cinematográfico atual. Os sustos funcionam, assim como a tensão. É um filme onde o público se conecta e se importa com os personagens, até bem antes do sequestrador aparecer com sua van escura. Mas é mesmo nas performances de seu elenco central que residem as maiores forças da produção. Thames é o coração do filme, enquanto que McGraw revela-se um talento raro e excepcional. Entretanto, Ethan Hawke é uma força da natureza, atuando na contramão dos personagens que construiu ao longo da carreira, de maneira perturbadora e memorável. O TELEFONE PRETO adapta de maneira incrivelmente eficiente o conto de Joe Hill (filho de Stephen King), e mais do que merece seu lugar nesta lista.

Cena Preferida:
Gosto bastante do climax do filme, onde tanto Thames quanto Hawke entregam tudo o que têm. Inclusive, é difícil escolher apenas uma cena dentre tantas em que Hawke simplesmente dá um show.

Confira aqui minha crítica completa de O TELEFONE PRETO (THE BLACK PHONE)

Avaliação: 5 de 5.

118. SKINAMARINK: CANÇÃO DE NINAR (SKINAMARINK) | 2022
Direção e Roteiro: Kyle Edward Ball.
Elenco: Lucas Paul, Dali Rose Tetreault, Ross Paul, Jaime Hill. 100 min.

Sobre o que é?
Kaylee, uma menina de seis anos de idade, e Kevin, seu irmão mais novo, acordam uma manhã e descobrem que todas as portas e janelas dentro de sua casa desapareceram. Todos os telefones estão mudos. O pai deles também está desaparecido. Depois de uma noite dormindo na casa lacrada, sempre na esperança de que um adulto venha resgatá-los, coisas ainda mais estranhas começam a acontecer. As coisas desaparecem. Sons estranhos emanam do andar de cima. As luzes se apagam sozinhas. Depois de um tempo, fica claro que eles não estão realmente sozinhos.

Opinião Pessoal:
Antes de qualquer coisa é preciso deixar claro que este SKINAMARINK é experimental. Se este não for seu tipo de coisa, nem se dê ao trabalho de continuar lendo. Caso você ainda esteja aqui, saiba que SKINAMARINK pode ser considerado muitas coisas, inclusive pejorativas. Mas uma coisa com certeza ele não é: esquecível. Uma vez que você embarca na proposta claustrofóbica do diretor e roteirista Kyle Edward Ball, não tem mais volta. Seu filme gruda na mente e no âmago do espectador, e as absurdas qualidades técnicas do filme (som, fotografia) começam a fazer seu trabalho. O filme de Ball é tão cabuloso que não cabem comentários sobre as atuações (nenhum dos atores do filme sequer mostra o rosto), muito menos da trilha-sonora inexistente ou qualquer outro floreio. É em sua fria e calculista apresentação do horror que SKINAMARINK se estabelece como uma obra-prima do horror moderno (sim, obra-prima, para quem suportá-la), onde o único cenário da produção parece cada vez mais distante do tempo e do espaço, e cada vez mais mergulhado na escuridão sufocante. Aliás, se conseguir, assista ao filme no cinema. Se não puder e for assistir em casa, apague todas as luzes e coloque seu fone de ouvido. Você pode até não gostar do que vê, mas garanto que será uma experiência aterrorizante e inesquecível. SKINAMARINK é horror em sua essência; implacavelmente cru.

Cena Preferida:
Desde o princípio fica claro que existe algo maligno dentro da casa. Mas teria este Mal vindo de fora? Ou é algo que já habitava o local? O pai diz que Kevin bateu a cabeça. A mãe está chorando. As coisas não estão bem.
E então nós vemos um slideshow com as fotos da família – fotos das crianças; mas elas estão distorcidas, com as faces borradas. Seria para representar a natureza deformada da vida de Kevin e Kaylee em casa? Tudo é ambíguo, e nada fica realmente claro. Mas trata-se de um momento aterrorizante, em um filme realmente assustador.

Avaliação: 5 de 5.

117. A MORTE DO DEMÔNIO: A ASCENSÃO (EVIL DEAD RISE) | 2023
Direção e Roteiro: Lee Cronin.
Elenco: Alyssa Sutherland, Lily Sullivan, Gabrielle Echols, Morgan Davies, Nell Fisher. 96 min.

Sobre o que é?
Durante uma pausa em suas constantes viagens na estrada, a cansada Beth (Lily Sullivan), decide finalmente visitar sua irmã mais velha, Ellie (Alyssa Sutherland), que está criando sozinha seus três filhos em um pequeno apartamento em Los Angeles. A reunião das irmãs é abreviada pela descoberta de um misterioso livro nas entranhas do prédio de Ellie, que liberta uma força demoníaca que coloca Beth e sua família em uma verdadeira batalha pela sobrevivência.

Opinião Pessoal:
Os três primeiros filmes da franquia Evil Dead são conhecidos pelos elementos cômicos misturados com o horror, mas no remake/reboot de 2013, dirigido pelo uruguaio Fede Alvarez, as coisas meio que foram alteradas para ir de encontro às demandas dos dias atuais: menos humor, mais sangue. Dez anos depois, esta sequência do diretor e roteirista Lee Cronin se revela uma sangrenta e barbárica diversão, que não decepciona nem os admiradores mais hardcore do universo criado pelo aqui produtor Sam Raimi, há mais de 40 anos.
Cronin conduz sua história de maneira sinistra e efetiva, oferecendo um surpreendente frescor ao que estamos acostumados a ver no universo Evil Dead. O ritmo da produção, que vai se acelerando à medida em que as coisas vão ficando piores, não tem medo de chegar ao limite, ou até ultrapassá-lo, o que deixa este A MORTE DO DEMÔNIO: A ASCENSÃO em linha com os filmes anteriores. O filme abre uma Caixa de Pandora de ideias sobre em que este conceito pode ser transformado e moldado no futuro, e questiona que convenções podem ser reinventadas para uma nova era de histórias.
O futuro da franquia Evil Dead se torna promissor e otimista com a chegada de A MORTE DO DEMÔNIO: A ASCENSÃO. É um filme que honra suas tradições ao cobri-las com o sangue de todos os envolvidos na trama, e que não se esquiva do que fez a franquia ser tão incrível: rios de sangue, um Mal implacável “vestindo” faces familiares, e aquelas boas e velhas armas utilizadas na batalha contra as forças demoníacas. O mito Ash Williams e sua serra-elétrica com certeza estão orgulhosos.

Cena Preferida:
Todas as cenas em que Alyssa Sutherland está presente são sensacionais. Sutherland está absolutamente vil, perturbadora e completamente enlouquecida como a matriarca Ellie, cuja besta dentro dela está determinada a aproveitar até o último suspiro de sua hospedeira para cometer atos de maldade indescritível. A atriz é dona do filme, mais do que convincente tanto na maneira gentil e delicada com que Ellie cuida de seus filhos, como na dedicação ao terrível e diabólico destino da personagem, que enfrenta algo pior do que a própria morte.

Confira aqui minha crítica completa do filme: A MORTE DO DEMÔNIO: A ASCENSÃO (EVIL DEAD RISE)

Avaliação: 5 de 5.

116. DEADSTREAM (2022)
Direção e Roteiro: Joseph Winter e Vanessa Winter.
Elenco: Joseph Winter, Melanie Stone. 87 min.

Sobre o que é?
O YouTuber Shawn Ruddy (Joseph Winter), foi cancelado e perdeu seus patrocinadores depois de se comportar de maneira irresponsável e até ofensiva por diversas vezes. Em uma tentativa de ganhar seus seguidores de volta, Shawn planeja passar uma noite em uma casa supostamente assombrada, e transmitir ao vivo todo o evento.

Opinião Pessoal:
O que acontece quando você coloca um influencer dentro de um terror found-footage? Esta é a pergunta que os diretores e roteiristas Joseph Winter e Vanessa Winter fazem com seu DEADSTREAM, e cuja resposta é um filme simultaneamente hilariante e aterrorizante! DEADSTREAM é uma verdadeira gema interminavelmente divertida sobre um influencer transmitindo ao vivo uma noite dentro de uma notória, decrépita e decadente casa assombrada, entregue com sustos genuinamente aterrorizantes, roteiro esperto e um excelente trabalho de maquiagem e efeitos visuais práticos.
Subvertendo o clássico conto da casa mal assombrada, o filme está sempre autoconsciente de que se trata ele próprio de um terror found-footage, e o faz através de reviravoltas técnicas e irônicas que funcionam admiravelmente bem, não só para escrutinizar a cultura dos influencers, mas principalmente para humanizar seu protagonista — mostrando para público e crítica que ainda há terreno a ser explorado dentro do gênero.
Com esta mistura dos melhores aspectos de A Bruxa de Blair com a mesma vibe energética e insana do clássico Evil Dead, Joseph e Vanessa Winter criam um excelente trabalho de horror que é deliciosamente meta, sangrento e assustador.

Cena Preferida:
Todos os efeitos-especiais em torno das assombrações dão a cada um dos espíritos da casa um físico suntuoso que não é comum em filmes do gênero. As assombrações aqui desorientam, condenam, arrebentam portas e expelem gosma nojenta, derramando bile em Shawn e o forçando a engolir globos oculares. E por aí vai… DEADSTREAM é um filme que entrega o que promete: assombrações de primeira qualidade.

Confira aqui minha crítica completa de DEADSTREAM (2022)

Avaliação: 5 de 5.

115. MAY: OBSESSÃO ASSASSINA (MAY) | 2002
Direção e Roteiro: Lucky McKee.
Elenco: Angela Bettis, Jeremy Sisto, Anna Faris, James Duval, Will Estes, Ken Davitian. 93 min.

Sobre o que é?
A jovem e solitária May (Angela Bettis), enfrentou uma infância difícil, devido ao seu problema de visão. E apesar das lentes de contato a terem ajudado a se ajustar como uma jovem mulher, sua profunda inabilidade em lidar com as pessoas continua a ser um problema. Mas depois que Adam (Jeremy Sisto), um jovem obcecado em consertar carros antigos, e Polly (Anna Faris), sua colega de trabalho, começam a se interessar pelas excentricidades de May, sua solidão parece estar prestes a acabar. Mas será que a instável May conseguirá lidar com esta nova situação em sua vida?

Opinião Pessoal:
Esta pequena produção de baixo orçamento, que marca a estreia do diretor Lucky McKee (Bubba Ho-Tep) em longas, é um dos perfeitos exemplos de que não só dinheiro faz um bom filme. Na verdade, trata-se de um filme tão incômodo, que é difícil até encontrar palavras para descrevê-lo. O roteiro criativo, as atuações realistas, a direção inspirada, tudo conspira para criar um estudo de personagem ao mesmo tempo triste e perturbador.
A frágil Angela Bettis está excepcional como a May do título, que nasceu com problemas de visão e vesga, e cuja mãe neurótica a fez usar um tapa-olho durante boa parte da infância. May foi criada para acreditar que sua única escolha para encontrar uma amizade seria esconder suas diferenças, ou se refugiar dentro de suas fantasias. Mas há mais diferenças dentro da protagonista do que até mesmo sua mãe seria capaz de enxergar, e depois que May constata que as pessoas não são perfeitas, ela fará de tudo para ser finalmente vista.
MAY é um filme sombrio, doloroso e verdadeiramente insano, que merece ser descoberto.

Cena Preferida:
A revelação final, quando May finalmente termina sua “obra”, é um verdadeiro soco no estômago do espectador. O horror só não é maior do que a sensação de pesar.

Avaliação: 5 de 5.

114. NOITES BRUTAIS (BARBARIAN) | 2022
Direção e Roteiro: Zach Cregger.
Elenco: Georgina Campbell, Bill Skarsgård, Justin Long, Matthew Patrick Davis, Richard Brake, Kate Bosworth, Sara Paxton. 102 min.

Sobre o que é?
Tess (Georgina Campbell), chega a um Airbnb em uma noite chuvosa em uma região arruinada da cidade de Detroit. Ao chegar na casa, ela descobre que o imóvel já está alugado e sendo utilizado por Keith (Bill Skarsgård), devido a uma confusão dos locatários do local. Após um breve diálogo, Keith convence Tess a passar a noite, e se eu escrever mais uma linha sobre o plot aqui, estarei adentrando o território dos spoilers.

Opinião Pessoal:
A primeira hora deste NOITES BRUTAIS é tão boa que eu não acredito até agora. Durante 60 minutos, o filme do diretor Zach Cregger é um verdadeiro primor. Um horror moderno, com um nível de tensão inacreditável e um roteiro instigante e original. A entrada em cena de um terceiro personagem, o egocêntrico AJ (Justin Long), coloca as coisas em real perspectiva, e ainda que Long esteja ótimo mais uma vez (além de ser uma figurinha carimbada do cinema de horror), é pouco depois de sua chegada que o filme começa a se perder. E nem é por conta do roteiro do próprio Cregger, que se segura bem, mas sim pela tremenda suspensão de descrença que Cregger pede a seu público. A quantidade de absurdos na meia hora final de NOITES BRUTAIS é inacreditável, e não só quase coloca tudo a perder, como ainda enfraquece a tensão do que havia sido visto até então.
Ainda assim, nem que seja por sua primorosa hora inicial (sério, poucas vezes me peguei tão envolvido em um filme como nos primeiros 60 minutos deste aqui), pelas atuações do trio de protagonistas, e pela excelente trilha incidental onde o sintetizador praticamente situa o filme nos anos oitenta, NOITES BRUTAIS merece seu lugar nesta lista.

Cena Preferida:
Como comentei anteriormente, toda a primeira hora de NOITES BRUTAIS é perfeita. E a cena em que finalmente começamos a entender o que realmente está se passando no local onde Tess e Keith estão ficando, é simplesmente de arrepiar. Foi um dos maiores sustos que eu já tomei no cinema.

Avaliação: 5 de 5.

113. FALE COMIGO (TALK TO ME) | 2022
Dir. Danny Philippou e Michael Philippou. Roteiro: Danny Philippou e Bill Hinzman, baseado no conceito de Daley Pearson.
Elenco: Sophie Wilde, Joe Bird, Alexandra Jensen, Miranda Otto. 95 min.

Sobre o que é?
Quando um grupo de amigos descobre como conjurar espíritos utilizando uma mão embalsamada, eles se viciam na coisa e transformam o evento em brincadeira. Mas quando um deles vai longe demais e abre a porta para o mundo espiritual, eles precisarão escolher em quem acreditar: os mortos ou os vivos.

Opinião Pessoal:
O arrepiante terror indie FALE COMIGO conjura a familiar imagem de um grupo de adolescentes se reunindo para obviamente aprontar alguma. Só que aqui a galera não está interessada em bebidas ou drogas, apesar delas estarem presentes no ambiente. Não, o que a tchurma realmente quer é comungar com os mortos… e convidar espíritos para possuir seus corpos e suas almas. Trata-se de uma engenhosa ideia para um filme de terror, e muitos dos arrepios que os Philippous causam está em quão naturalmente sua perturbadora parábola é apresentada.
É fácil enxergar porque o filme chamou a atenção da conceituada produtora A24; FALE COMIGO renova (ou melhor, eleva) cansados conceitos do horror ao mesmo tempo em que revela emergentes novos talentos do gênero. E mais: o alto nível de sensibilidade e identificação em FALE COMIGO transforma o filme em um potente coquetel para o jovem público moderno, que pode vir a reconhecer eternas inseguranças nesta distinta representação dos estúpidos jogos atuais que encontramos espalhados pela internet e Deus sabe onde mais. Se não por isso, FALE COMIGO ainda culmina em uma conclusão brutal que é a melhor a surgir no gênero em muito tempo. Você pode até tentar impedir que o pavor entre por aquela fresta do seu subconsciente, mas não vai conseguir.

Cena Preferida:
As aterrorizantes e brutais sequências em que uma das entidades se apodera do corpo do jovem Riley são dignas de dar um nó no estômago do espectador. Um excelente trabalho de direção dos Philippou, e uma primorosa atuação do jovem Joe Bird.

Confira aqui minha crítica completa de FALE COMIGO (TALK TO ME)

Avaliação: 5 de 5.

112. OLHOS FAMINTOS (JEEPERS CREEPERS) | 2001
Direção e Roteiro: Victor Salva.
Elenco: Gina Philips, Justin Long, Jonathan Breck, Brandon Smith, Eileen Brennan. 90 min.

Sobre o que é?
Após fazer uma horripilante descoberta no porão de uma velha igreja abandonada, Trish (Philips) e seu irmão Darry (Long), veem a viagem de sua casa para a universidade se transformar em uma assustadora luta por suas vidas: eles passam a ser implacavelmente perseguidos por uma terrível e indestrutível criatura, cujo real propósito vai aos poucos sendo revelado.

Opinião Pessoal:
Este OLHOS FAMINTOS garante sua posição nesta lista não pelo histórico de seu diretor, Victor Salva, um abusador sexual condenado, mas sim pela maneira extremamente efetiva com que Salva constrói seu filme, que se inicia com a simplicidade de um road movie e se desenvolve como um thriller eletrizante, onde brilha a jovem dupla de protagonistas (Justin Long ao longo dos anos se tornou praticamente uma figurinha carimbada do gênero). Uma ousada escolha do roteiro no terço final, que torna a criatura conhecida pela polícia e não mais apenas pela dupla de protagonistas, garante um gás totalmente novo na trama, e a corajosa e macabra conclusão do filme é a cereja do bolo. Mas é mesmo em sua repugnante e fascinante criatura, conhecida como ‘The Creeper’, que OLHOS FAMINTOS realmente se supera: com sua pele encaroçada preta como a noite, seus dentes afiados e seu velho caminhão envenenado, o monstro criado por Salva e pelo ator Jonathan Breck é uma das criaturas mais incríveis e impressionantes do cinema.
O filme teve três sequências, onde apenas a segunda é interessante. O terceiro e quarto filmes são horrorosos.

Cena Preferida:
A primeira aparição da criatura, e o estrago que ela causa em uma viatura da polícia e nos policiais que a conduzem, imediatamente alçam o patamar da produção. Nascia ali um dos monstros mais inesquecíveis do horror.

Confira aqui minha crítica de OLHOS FAMINTOS: RENASCIDO (JEEPERS CREEPERS: REBORN)

Avaliação: 5 de 5.

111. NAS PROFUNDEZAS DO SOLO (DIGGING UP THE MARROW) | 2014
Direção e Roteiro: Adam Green.
Elenco: Ray Wise, Adam Green, Will Barratt e Kane Hodder, com participações especiais de Tom Holland, Mick Garris, Alex Pardee, Don Coscarelli e Tony Todd. 98 min.

Sobre o que é?
Um cineasta (Green), à procura de novas ideias para seu próximo filme, embarca em uma arrepiante odisséia depois de encontrar um homem, o misterioso William Dekker (Wise), que diz poder produzir sólidas evidências de que os monstros são reais.

Opinião Pessoal:
Sem cerimônia, já vou logo dizendo que os minutos finais deste NAS PROFUNDEZAS DO SOLO são terrivelmente decepcionantes. Se a conclusão do filme de Adam Green (Pânico na Neve, Terror no Pântano) fosse do mesmo nível de tudo o que veio antes, com certeza o filme estaria na primeira metade desta lista. Mas deixando o final do filme de lado, é preciso dizer que NAS PROFUNDEZAS DO SOLO é um dos filmes mais originais e inteligentes a surgir no gênero em muito tempo. O veterano Ray Wise está sensacional, e seu curioso personagem funciona como o fio condutor de um documentário fake que brinca a todo momento com a metalinguagem, onde figurinhas carimbadas do horror, como os diretores Tom Holland (A Hora do Espanto, Brinquedo Assassino), Don Coscarelli (Bubba Ho-Tep, franquia Fantasma) e Mick Garris (Sonâmbulos, A Dança da Morte, Mestres do Horror), e atores como Tony Todd (O Mistério de Candyman, Premonição) e Kane Hodder (o Jason Vorhees de diversos filmes da franquia Sexta-Feira 13), expõem suas opiniões sobre o gênero e a natureza daquilo que chamamos de monstros. Natureza esta que aliás, é explorada com extrema esperteza por Green e cia; NAS PROFUNDEZAS DO SOLO possui aquela que considero a mais interessante e original “explicação” para o que são os “monstros” que nos assombram na escuridão da noite.

Cena Preferida:
NAS PROFUNDEZAS DO SOLO utiliza as incríveis ilustrações do genial artista Alex Pardee para dar vida aos monstros do filme. E a cena em que Green e seu câmera dão de cara com as abomináveis criaturas idealizadas por Pardee, é uma das mais assustadoras e divertidas sequências do gênero nos últimos tempos. Para quem não conhece o incrível trabalho do artista, sugiro que o sigam no Instagram.

Avaliação: 5 de 5.

110. ANYTHING FOR JACKSON (2020)
Dir. Justin G. Dyck. Roteiro: Keith Cooper.
Elenco: Sheila McCarthy, Julian Richings, Konstantina Mantelos, Yannick Bisson, Lanette Ware. 97 min.

Sobre o que é?
Após perder seu único neto, o pequeno Jackson, em um acidente de carro, Audrey (McCarthy) e Henry (Richings), um médico, sequestram uma das pacientes de Henry, que está grávida, com a intenção de performar um “exorcismo reverso”, colocando Jackson dentro da criança ainda não-nascida. Porém, o casal logo percebe que o falecido Jackson não é o único candidato a reencarnar no futuro bebê.

Opinião Pessoal:
Durante a pandemia do coronavírus, naquela seca danada de novos filmes, ANYTHING FOR JACKSON foi a mais agradável das surpresas, a ponto de garantir seu lugar aqui na minha lista dos meus favoritos de todos os tempos. Uma espécie de mistura entre Sobrenatural de James Wan, O Bebê de Rosemary e filmes de exorcismo diversos, ANYTHING FOR JACKSON consegue driblar as referências e os clichês para se revelar um terror original e genuinamente assustador. Muito do sucesso do filme se deve a sua excelente dupla de protagonistas, os veteranos Sheila McCarthy e Julian Richings, que empregam credibilidade nos papéis dos avós em luto que farão de tudo, TUDO MESMO, para ter seu neto de volta. O roteiro esperto de Keith Cooper aproveita ao máximo a situação, pontuando a narrativa com humor e sustos muito bem aplicados, que resultam numa conclusão surpreendentemente madura e inteligente.

Cena Preferida:
A cena do “fantasma sufocado”, interpretado pelo artista performático Troy James, é garantia de pesadelo na madrugada. De arrepiar!

Avaliação: 5 de 5.

109. O FILHO DAS TREVAS (THE RESURRECTED) | 1991
Dir. Dan O’Bannon. Roteiro: Brent V. Friedman, baseado no conto de H.P. Lovecraft.
Elenco: John Terry, Jane Sibbett, Chris Sarandon, Robert Romanus. 108 min.

Sobre o que é?
Claire Ward (Sibbett), a esposa do engenheiro químico Charles Dexter Ward (Sarandon), procura a ajuda de John March (Terry), um detetive particular, para descobrir o que seu marido anda fazendo em uma remota residência que pertence à família dele há séculos. Quando John e Claire encontram um diário de um dos ancestrais de Charles, que remonta ao ano de 1771, eles começam a suspeitar que experimentos sobrenaturais estão sendo conduzidos no local.

Opinião Pessoal:
Este RENASCIDO DAS TREVAS é sem dúvida uma das melhores adaptações para o cinema da obra do mestre H.P. Lovecraft, mais precisamente do conto “The Case of Charles Dexter Ward”, dirigida pelo prematuramente falecido Dan O’Bannon, roteirista do clássico Alien: O Oitavo Passageiro, e da pérola B do gênero, A Volta dos Mortos-Vivos.
A direção segura de O’Bannon imprime um bom ritmo na construção da história, sempre mantendo o suspense. O roteiro de Brent V. Friedman (Necronomicon: O Livro Proibido dos Mortos) também é bastante sólido, e culmina em um gosmento e divertido clímax. Nada diferente do que se poderia esperar de uma produção de Brian Yuzna, principal nome do terror B da década de 80, responsável pela produção de uma centena de obras (mais ou menos) baseadas em Lovecraft.
Outra grande qualidade da produção está na atuação de Chris Sarandon, outro nome de destaque do gênero na década de oitenta, com créditos em filmes muito famosos como A Hora do Espanto e Brinquedo Assassino. Sua performance é acima da média para este tipo de filme, e ajuda a compensar alguns dos efeitos-especiais que envelheceram não muito bem. Para os fãs do horror, e especialmente para mim, RENASCIDO DAS TREVAS ainda é uma ótima pedida, e mais do que merece seu lugar nesta lista.

Cena Preferida:
O mencionado clímax do filme. Uma verdadeira orgia de sangue, vísceras e… gosma.

Avaliação: 5 de 5.

108. O GRITO (THE GRUDGE) | 2004
Dir. Takashi Shimizu. Roteiro: Stephen Susco e Takashi Shimizu.
Elenco: Sarah Michelle Gellar, Jason Behr, Clea DuVall, William Mapother, KaDee Strickland, Grace Zabriskie, Ted Raimi, Ryo Ishibashi e Bill Pullman. 99 min.

Sobre o que é?
Matthew Williams (Mapother), sua esposa, Jennifer (DuVall), e a mãe dela, Emma (Zabriskie), são americanos tentando uma vida nova em Tóquio. Eles se mudam para uma casa que foi o local de ocorrências sobrenaturais no passado, e não demora para que a nova casa comece a aterrorizar a família, uma vez que a residência é o lar de uma maldição que toma as vidas de todos que entram em contato com ela.

Opinião Pessoal:
Esta versão americana do J-Horror Ju-on (2002), um dos precursores do terror japonês a ser exportado para o público ocidental, é um dos pouquíssimos remakes presentes nesta lista. O diretor Takashi Shimizu, também realizador do filme original, aprimora a questão técnica que deixava a desejar em sua versão nipônica do filme e o resultado é aterrorizante. A fantasmagórica antagonista, Kayako, é uma das criaturas mais arrepiantes a dar as caras no cinema, e cada uma de suas aparições no filme é de arrepiar a medula. A gracinha Sarah Michelle Gellar também faz a diferença como protagonista, e a breve presença de Bill Pullman garante credibilidade. O elenco coadjuvante também é acima da média, e a narrativa não exatamente linear do filme (para muitos o calcanhar de Aquiles da produção), para mim funciona muito bem, e ajuda a fortalecer o clima de estranheza e tragédia iminente que permeia toda a narrativa. Sem falar que o filme tem aquele que talvez seja o maior susto que já tomei no cinema. Soltei até um Filha da P…! na hora. kkkkkkkkkkk

Cena Preferida:
Todas as sequências que mostram a maldição de Kayako e cia atormentando a família americana (especialmente a personagem da veterana Grace Zabriskie) é sensacional. Seja de dia, de noite ou de madrugada, a opressão sobrenatural é sentida pelos personagens e espectadores. Se isso não é terror de qualidade, então não sei o que é.

Avaliação: 5 de 5.

107. GRITOS MORTAIS (DEAD SILENCE) | 2007
Dir. James Wan. Roteiro: Leigh Whannell e James Wan.
Elenco: Ryan Kwanten, Amber Valletta, Donnie Wahlberg, Michael Fairman, Bob Gunton, Laura Regan, Judith Roberts, Keir Gilchrist. 89 min.

Sobre o que é?
Depois que sua esposa sofre uma morte brutal, Jamie Ashen (Kwanten) retorna para sua cidade natal, a sinistra Ravens Fair, para tentar decifrar o mistério em torno da morte de sua amada. Uma vez lá, ele descobre a lenda de Mary Shaw (Roberts), uma ventríloqua assassinada cuja arrepiante presença continua a assombrar a cidade.

Opinião Pessoal:
A recepção da crítica para alguns filmes é simplesmente inexplicável. Na época de seu lançamento, GRITOS MORTAIS marcava o aguardado retorno do então promissor novato James Wan à direção, depois do inesperado sucesso de Jogos Mortais. Porém, GRITOS MORTAIS foi mal recebido pela crítica e recepcionado de maneira morna pelo público. O próprio Wan e seu roteirista Leigh Whannell se declararam completamente insatisfeitos com o produto final devido à interferência do estúdio, então de certa forma é até injusto implicar a crítica em geral no insucesso do filme.
Mas sob meu olhar, GRITOS MORTAIS merece cravar seu lugar nesta lista, simplesmente pelo fato de que o filme faz muito bem o que todo filme de terror deveria fazer: assustar. Sim, o roteiro é xexelento (apesar de eu adorar a absurda reviravolta final) e o protagonista é meia-boca, mas quando Wan e Whannell criaram a sinistra figura de Mary Shaw e seu boneco Billy, não dá para negar que a dupla estava inspirada. Shaw é simplesmente uma das figuras mais horripilantes de todos os tempos no cinema de horror, e o trabalho da veterana Judith Roberts em personificar a assustadora figura é louvável. O filme pode dever em vários aspectos, Mas GRITOS MORTAIS e sua Mary Shaw é puro combustível de pesadelo.

Cena Preferida:
A sequência em que um dos personagens relembra sua aterrorizante experiência com Mary Shaw em um porão escuro quando criança, é de extrair suor da medula; uma das cenas mais macabras de todos os tempos. Fiquei um bom tempo com medo daquela velha dos infernos.

Avaliação: 5 de 5.

106. PULSE (KAIRO) | 2001
Direção e Roteiro: Kiyoshi Kurosawa.
Elenco: Haruhiko Katô, Kumiko Asô, Koyuki, Kurume Arisaka, com Shun Sugata e Kôji Yakusho. 118 min.

Sobre o que é?
Depois que o universitário Taguchi (Kenji Mizuhashi) se suicida, vários jovens de Tóquio começam a sofrer aterrorizantes visões transmitidas pela internet. Enquanto isso, três histórias aparentemente sem conexão acompanham Michi (Asô), Ryosuke (Katô) e Harue (Koyuki), que tentam resolver o mistério por trás das fantasmagóricas visões que espreitam além da tela de seus computadores.

Opinião Pessoal:
PULSE, ao lado de Ringu e Ju-On, formam um trio de clássicos do horror japonês que foram todos refilmados pelo cinema de Hollywood, alguns com melhores resultados que outros. O remake americano de PULSE por exemplo, lançado em 2006, é horroroso. Porém, este original dirigido pelo grande Kiyoshi Kurosawa, é um excepcional exemplar do J-Horror, que mostra nosso mundo sendo invadido por fantasmas utilizando um meio um tanto quanto inusitado: a internet. É claro, a internet de 2001 é uma criatura muito diferente do que é hoje, e PULSE foi uma maneira esperta de utilizar a relativa novidade para assustar as massas.
Como muitas histórias de fantasma japonesas, PULSE é extremamente bem filmada e utiliza de um ritmo lento e tétrico para construir tensão incômoda e produzir alguns sustos arrepiantes. Suas entidades sobrenaturais não são exageradas, e nos lembram que fantasmas não precisam ser monstruosidades em CGI. PULSE é uma obra singular de Kurosawa, não é seu melhor filme (ele ainda vai pintar nesta lista), mas é sem dúvida uma obra à frente do seu tempo, que coloca nossa “amada” internet como uma alegoria/portal para forças do mal ao mesmo tempo em que tece um relevante comentário sobre o mundo em que vivemos hoje, cada vez mais dependente da tecnologia.

Cena Preferida:
A brilhante cena que ficou conhecida como “Yabe e o Fantasma”, que coloca um dos personagens frente a frente com a alma penada dentro de um apartamento abandonado. O que acontece na cena me deixou um bom tempo com medo do escuro. Que cena morfética!

Avaliação: 5 de 5.

105. DEIXA ELA ENTRAR (LET THE RIGHT ONE IN/LAT DEN RÄTTE KOMMA IN) | 2008
Dir. Tomas Alfredson. Roteiro: John Ajvide Lindqvist.
Elenco: Kåre Hedebrant, Lina Leandersson, Per Ragnar, Henrik Dahl, Ika Nord. 114 min.

Sobre o que é?
Oskar (Hedebrant), é um sensível garoto de 12 anos vítima de bullying e que vive com sua mãe em um subúrbio da Suécia. Quando ele conhece sua nova vizinha, a misteriosa Eli (Leandersson), eles começam uma amizade. Inicialmente reservados um com o outro, Oskar e Eli desenvolvem um forte laço afetivo, mas logo fica nítido que Eli não é uma garota comum. Ela guarda um macabro e sangrento segredo que está conectado a uma série de assassinatos locais.

Opinião Pessoal:
DEIXA ELA ENTRAR é uma história de vampiro nascida das sombras; um filme de segredos sussurrados que subverte os clichês do subgênero do vampirismo. O filme de Tomas Alfredson se desvia das definições e das diferenças entre luz e escuridão, caçador e presa, entre o Bem e o Mal, e situa seus personagens (todos eles) em uma zona cinzenta onde todos são vítimas, principalmente de suas próprias ações. A heroína de Alfredson é sensível e compreensiva, mas nunca é permitido que o público se esqueça de que ela é também uma assassina de sangue-frio. Na época de seu lançamento, DEIXA ELA ENTRAR foi apelidado de “O antídoto para a saga Crepúsculo”; uma pequena gema do horror que trouxe mistério e magia de volta aos filmes de vampiro; a personificação da velha anedota sobre a serpente que acaba picando o caubói que lhe dá abrigo: “Porque eu sou uma serpente, estúpido. É o que eu faço.”
O filme de Alfredson é ao mesmo tempo terno e aterrorizante, engraçado e triste. E sim, OK, é também um romance, ainda que do tipo mais rico, estranho e provocativo. Uma obra-prima moderna do gênero.
Obs.: O filme de Alfredson ganhou um remake americano dirigido por Matt Reeves (O Batman, Cloverfield: Monstro) apenas três anos depois de seu lançamento. Inclusive, trata-se de uma refilmagem bastante eficiente e bem-executada.

Cena Preferida:
Acho fascinante o arco do personagem Håkan (Per Ragnar), e seu sacrifício definitivo, que acontece num quarto de hospital, é de gelar o sangue.

Avaliação: 5 de 5.

104. DO ALÉM (FROM BEYOND) | 1996
Dir. Stuart Gordon. Roteiro: Dennis Paoli, Brian Yuzna e Stuart Gordon, baseado no conto de H.P. Lovecraft.
Elenco: Jeffrey Combs, Barbara Crampton, Ted Sorel, Ken Foree. 90 min.

Sobre o que é?
O obcecado cientista Dr. Pretorius (Sorel) descobre um modo de acessar um universo paralelo através do estímulo da glândula pineal (glândula que produz a melatonina, um hormônio que modula os padrões de sono). Quando ele supostamente é morto por forças desta outra dimensão, seu assistente, Dr. Crawford Tillinghast (Combs), é acusado do assassinato. Depois que a psiquiatra Katherine McMichaels (Crampton) e o detetive Bubba Brownlee (Foree) assumem o caso, o trio arrisca um retorno ao mundo paralelo para resolver o mistério.

Opinião Pessoal:
Este gosmento e divertidíssimo DO ALÉM marca o segundo filme do mestre do terror B, o finado Stuart Gordon. DO ALÉM foi lançado em 1986, um ano depois do clássico A Hora dos Mortos-Vivos (Re-Animator), e enquanto que o filme de estreia de Gordon era praticamente uma comédia de terror involuntária, DO ALÉM é um exercício de horror propriamente dito, ainda que os 37 anos de existência do filme tenham deixado evidente o orçamento limitado da produção.
Assim como Re-Animator, DO ALÉM também é baseado na obra de H.P. Lovecraft, e conta a história de um pequeno grupo de cientistas que vão investigar uma cena de crime, onde existe uma máquina criada por um deles que estimula a glândula pineal (chamada no espiritismo de “terceiro olho”), permitindo que eles possam enxergar além da nossa dimensão. Logicamente, não demora para que os efeitos aterrorizantes da máquina afetem todos os envolvidos.
Digam o que quiserem, mas Stuart Gordon sabia criar um belo gorefest. Mesmo com um roteiro esquálido, o diretor aproveita ao máximo seu trio central de protagonistas – o canastrão Jeffrey Combs, o carismático Ken Foree (O Despertar dos Mortos, de Romero) e a musa scream queen Barbara Crampton – mergulhando-os em toneladas de gosma, sangue, e combatendo criaturas medonhas (em todos os sentidos).
Apesar dos risos involuntários que provoca hoje em dia, é nítido que DO ALÉM foi feito e interpretado com muita paixão por nomes que amam e amavam muito o gênero, e o filme ainda funciona muito bem como um exemplar raiz do porn horror popularizado por Gordon mais de três décadas atrás.

Cena Preferida:
O filme tem alguns momentos “antológicos”, como a apelativa e inesquecível visão de Crampton no auge de sua beleza usando um traje sadomasoquista, Combs fazendo um estrago dentro de um hospital no terceiro ato (alguém quer sugar um olho aí?), e Ken Foree só de cuecas lutando contra um verme gigante de outra dimensão.

Avaliação: 5 de 5.

103. NÓS (US) | 2019
Direção e Roteiro: Jordan Peele.
Elenco: Lupita Nyong’o, Winston Duke, Elisabeth Moss, Tim Heidecker, Shahadi Wright Joseph, Evan Alex, Yahya Abdul-Mateen II, Anna Diop. 121 min.

Sobre o que é?
Acompanhada por sua família, Adelaide Wilson (Nyong’o) retorna à casa de praia onde cresceu. Assombrada por uma experiência traumática do passado, Adelaide teme que algo ruim esteja para acontecer. E seus piores medos logo se tornam realidade quando quatro estranhos mascarados chegam ao local, forçando os Wilsons a lutar pela vida. Quando as máscaras caem, Adelaide e família ficam horrorizadas ao constatar que os invasores são idênticos a eles.

Opinião Pessoal:
Como aquela garota apareceu no espelho no parque de diversões? Por que aquele cara com as mãos ensanguentadas está parado na beira da praia? E qual é a história das tesouras? Quem, exatamente, são as quatro pessoas de macacão vermelho parados na frente da casa? — e o que elas querem com o casal Wilson e seus filhos? O segundo filme de Jordan Peele faz muito mais do que apenas provar que seu Corra! não foi apenas um golpe de sorte; trata-se de um conto genuinamente aterrorizante que confronta a percepção do espectador de como ele enxerga o inimigo, que aqui é… bem, é só checar o título do filme mais uma vez.
O impressionante quarteto de intérpretes no centro deste conto acerta na mosca tanto em sua interpretação como uma família comum sob pressão quanto como os psicóticos dopplegängers que os perseguem, mas é a excepcional Lupita Nyong’o quem simplesmente arrebenta, entregando duas de suas melhores performances em um só filme (e, ocasionalmente, na mesma cena). NÓS utiliza o horror como metáfora para fornecer um profundo olhar sobre uma nação dividida e a ascensão dos oprimidos. Não é pouco.

Cena Preferida:
O fascinante e aterrorizante monólogo da dopplegänger de Adelaide, com sua voz embargada e olhar congelante. Um trabalho absolutamente primoroso de Nyong’o e de Peele como roteirista.

Avaliação: 5 de 5.

102. REJEITADOS PELO DIABO (THE DEVIL’S REJECTS) | 2005
Direção e Roteiro: Rob Zombie.
Elenco: Sid Haig, Sheri Moon Zombie, Bill Moseley, William Forsythe, Ken Foree, Matthew McGrory, Leslie Easterbrook, Geoffrey Lewis, Tom Towles, Michael Berryman. 109 min.

Sobre o que é?
Depois de uma batida na fazenda da psicopata família Firefly, dois membros do clã, Otis (Moseley) e Baby (Zombie), conseguem fugir do local. Em um remoto motel de estrada, os assassinos se reúnem com o pai de Baby, Capt. Spaulding (Haig), que é igualmente demente e cujo intento é continuar a matança. E enquanto eles continuam a atormentar e matar diversas vítimas, o vingativo Xerife Wydell (Forsythe), segue no encalço dos Firefly.

Opinião Pessoal:
Rob Zombie sempre foi um diretor polêmico e divisivo, mas a grande maioria do público irá concordar que REJEITADOS PELO DIABO é de longe o melhor trabalho do diretor. Seguindo com a saga da insana e maligna família Firefly iniciada em seu anterior (e inferior) A Casa dos 1000 Corpos, REJEITADOS acompanha os membros sobreviventes do clã, enquanto continuam sua brutal carnificina pelas estrada do Texas, com a polícia em seus calcanhares.
Enquanto que o primeiro filme claramente presta homenagem ao clássico O Massacre da Serra-Elétrica, REJEITADOS PELO DIABO segue mais a estrutura de um road movie. Um bem SANGRENTO road movie. Zombie declarou certa vez que sua ideia era criar um Western violento, e ele certamente atingiu seu objetivo, uma vez que seus inesquecíveis personagens (interpretados com sangue nos olhos pelo falecido Haig, o assustador Moseley e a esposa do diretor, Sheri), aniquilam qualquer infeliz que cruza seu caminho nesta verdadeira viagem através do inferno. Rob Zombie definitivamente nunca esteve melhor.

Cena Preferida:
Não tem como não ser a furiosa sequência final ao som da minha canção de Rock preferida, ‘Free Bird’, da banda Lynyrd Skynyrd. Me atrevo a dizer que trata-se de uma cena que já nasceu clássica.

Avaliação: 5 de 5.

101. GRITO DE HORROR (THE HOWLING) | 1981
Dir. Joe Dante. Roteiro: Gary Brandner, John Sayles, Terence H. Winkless.
Elenco: Dee Wallace, Patrick Macnee, Dennis Dugan, Christopher Stone, Kevin McCarthy, John Carradine, Slim Pickens, Robert Picardo, Dick Miller. 91 min.

Sobre o que é?
Em Los Angeles, a jornalista Karen White (Wallace) fica traumatizada ao ajudar a polícia a prender um serial killer. O médico dela recomenda que ela passe a frequentar um retiro psiquiátrico conduzido pelo Dr. George Waggner (Macnee), mas enquanto Karen faz a terapia, seu colega, Chris (Dugan), investiga as bizarras circunstâncias em torno de seu trauma. Quando seu trabalho o leva a suspeitar do sobrenatural, ele começa a temer pela vida de Karen.

Opinião Pessoal:
Frequentemente comparado ao mais popular Um Lobisomem Americano em Londres, lançado no mesmo ano e com um orçamento maior, este GRITO DE HORROR pode ser considerado inferior ao filme dirigido por John Landis. Mas por pouco. O filme de Joe Dante (amigo pessoal de Landis), continua ótimo, se segurando muito bem nos dias de hoje, mesmo após 40 longos anos de seu lançamento. Com uma oportuna mistura de humor e horror (uma marca registrada de seu diretor) e sua trama original, GRITO DE HORROR combina elementos de todo o espectro do horror no cinema: os clichês dos slasher movies, a tensão atmosférica dos thrillers sobrenaturais, e é claro, a influência dos bons e velhos filmes de monstro.
Os efeitos práticos e de maquiagem continuam sensacionais, e carregam uma curiosidade: os efeitos e maquiagem do filme seriam criados pelo mago Rick Baker, que acabou trabalhando em Um Lobisomem Americano em Londres. Então, Baker deixou seu aprendiz encarregado do trabalho. Seu aprendiz: Rob Bottin, que um ano depois, viria a criar os efeitos de nada mais nada menos que O Enigma de Outro Mundo. E apesar da cena da transformação de Um Lobisomem Americano em Londres ser até hoje lembrada como talvez a melhor cena de transformação do cinema, os lobisomens já transformados de GRITO DE HORROR são assustadoramente realistas e aterrorizantes. Suas presas escorrendo sangue, e seus braços e garras excessivamente longas são inesquecíveis para qualquer um que assistiu ao filme.

Cena Preferida:
A cena da transformação do personagem interpretado por Robert Picardo em um dos lobisomens do filme pode não ser do mesmo nível da transformação do filme de Landis, mas também impressiona bastante. E o design final da criatura transformada é superior ao do filme citado.

Avaliação: 5 de 5.

100. THE SADNESS (2021)
Direção e Roteiro: Rob Jabbaz.
Elenco: Berant Zhu, Regina Lei, Ying-Ru Chen, Tzu-Chiang Wang, Emerson Tsai, Wei-Hua Lan, Ralf Chiu. 99 min.

Sobre o que é?
Depois de um ano combatendo uma pandemia de sintomas relativamente benignos, uma nação asiática finalmente baixa sua guarda. É aí que o vírus sofre uma mutação espontânea, dando início a uma praga que afeta o cérebro humano. As ruas explodem em violência e depravação, à medida que os infectados são propelidos a cometer os atos mais brutais e cruéis imagináveis. Assassinatos, tortura, estupro e mutilação são apenas o começo. Neste cenário infernal, um jovem casal é levado ao limite da sanidade enquanto tentam se reencontrar em meio ao caos.

Opinião Pessoal:
Este THE SADNESS é o filme de estreia do diretor e roteirista Rob Jabbaz, e se trata de um horror genuinamente perturbador ambientado na cidade de Taipei, em Taiwan, durante a epidemia de um misterioso vírus chamado Alvin. Pouco depois do final da epidemia do COVID, Alvin surge e se espalha rapidamente, transformando os infectados não em zumbis comedores de cérebro, mas em estupradores e assassinos sádicos. Trata-se de uma espécie de filme de zumbi sob efeito de crack; uma gorefest ultra repugnante com o mais incômodo dos plots: o público em geral se alimentando não da carne ou intestinos, mas sim do genuíno sofrimento humano.
Não tenho como não afirmar que se trata de um tremendo twist no gênero, que Jabbaz entrega diretamente na jugular do espectador, descartando qualquer tipo de humor e mantendo seu esquálido roteiro apoiado em choque atrás de choque, sempre escalando em direção ao desconcertante. O resultado é algo incrivelmente eficaz, mas também profundamente desagradável, sem a menor preocupação de agradar seu público. Jabbaz evoca aspectos da onda extreme do cinema asiático da década de 2000, onde nomes como Takashi Miike e Chan-wook Park surgiram, e o que se vê na tela são atrocidades descomunais, verdadeiras orgias de sangue onde órgãos, membros e tudo que você imaginar são arrancados por puro prazer doentio. Nem preciso dizer que os fãs de gore e horror de natureza explícita irão se esbaldar, porém o restante do público dificilmente embarcará na mesma vibe.
THE SADNESS é um tipo bastante específico de filme de terror; do tipo que tem apelo com o lado mais depravado de todos nós, mais aterrorizante em seu niilismo e falta de esperança do que em sua violência desmedida. Não é o tipo de horror que funciona como uma simples e divertida fuga do dia-a-dia mundano, ou mesmo um filme que ofereça uma libertação catártica de nossos medos mais profundos. THE SADNESS é um poço sem fundo de maldade e sofrimento; um filme que deita e rola no obsceno, mas que não deixa de ser uma realização ímpar.

Cena Preferida:
O horripilante massacre no metrô, onde um dos personagens mais cabulosos dos últimos tempos, apelidado somente de “Homem de Negócios” e outros assassinos dementes e depravados, transformam o vagão do trem em um verdadeiro açougue.

Confira minha crítica completa do filme: Crítica: THE SADNESS (2021)

Avaliação: 5 de 5.

99. POSSUM (2018)
Direção e Roteiro: Matthew Holness.
Elenco: Sean Harris, Alun Armstrong, Charlie Eales, Ryan Enever, Andy Blithe. 85 min.

Sobre o que é?
Após retornar para a casa onde viveu sua infância, Philip (Harris), um manipulador de marionetes em desgraça, precisa confrontar seu padrasto perverso e os segredos que o torturaram por toda a vida.

Opinião Pessoal:
À primeira vista, este POSSUM pode parecer uma básica história de fantasmas. Mas não deixe a primeira impressão enganá-lo; POSSUM é um aterrador estudo psicológico sobre um homem traumatizado tentando existir na pequena cidade onde cresceu, lutando contra os demônios de algo terrível que vivenciou, mas que é incapaz de expressar. O diretor e roteirista Matthew Holness conduz seu experimento macabro sem dó nem piedade: perambulações induzidas por hipnose, pessoas desalojadas, mutilação animal, lugares imundos e corrompidos, crianças desaparecidas. O resultado é uma captura da essência dos pesadelos, onde a estranheza é incômoda, quase insuportável.
O sempre excepcional Sean Harris está impecável, assim como o veterano Alun Armstrong, e ambos encabeçam um filme que merecia um reconhecimento maior. O filme de estreia de Holness obteve apenas um lançamento extremamente limitado no Reino Unido e EUA, e o total nas bilheterias foi de pouco mais de 30 mil dólares. POSSUM é um pequeno filme profundamente perturbador mas incrivelmente corajoso, com pouquíssimos diálogos e apenas os resquícios de um plot. Apenas o suficiente para fazer com que a trama seja impulsionada. Trata-se de uma gema do horror dramático reminiscente das iterações, ritmo e desconcertante atmosfera do clássico Stalker, do gênio Andrei Tarkovsky. Um pesadelo cinematográfico que merecia uma plateia maior.

Cena Preferida:
A criatura/boneco que dá nome ao filme é a definição do termo arrepiante. Uma perturbadora criação com traços humanos (ainda que possua uma face humana que você nunca verá em nenhum lugar) e longas e cabeludas pernas de aranha. A impressionante sequência em que Philip, sentado em sua cama, assiste a Possum sair de dentro de sua bolsa (pernas primeiro, depois aquela face infernal, o observando por alguns segundos) definitivamente não o deixará dormir bem à noite por muito tempo.

Avaliação: 5 de 5.

98. CORAÇÃO SATÂNICO (ANGEL HEART) | 1987
Dir. Alan Parker. Roteiro: William Hjortsberg e Alan Parker.
Elenco: Mickey Rourke, Robert De Niro, Lisa Bonet, Charlotte Rampling, Pruitt Taylor Vince. 113 min.

Sobre o que é?
Harry Angel (Rourke) é um detetive contratado pelo misterioso Louis Cyphre (De Niro), para descobrir o paradeiro do icônico cantor Johnny Favorite. No entanto, todas as pessoas que Angel questiona sobre Favorite parecem encontrar um destino trágico. As pistas levam Angel para Nova Orleans, onde ele descobre que Favorite adentrou o mundo da Magia Negra, e que agora ele próprio corre grave perigo.

Opinião Pessoal:
Um dos melhores exemplares do gênero nos anos 80, CORAÇÃO SATÂNICO serve também para nos lembrar o quanto Mickey Rourke era excelente (muitos anos mais tarde Darren Aronofsky nos lembrou disso em O Lutador, mas em circunstâncias diferentes da carreira do ator). Rourke carrega este horror neo-noir do grande Alan Parker, no papel de um detetive particular que ao adentrar o mundo místico da cidade de Nova Orleans, vê sua sanidade entrar em um redemoinho de morte e terríveis surpresas. O filme de Parker traz uma intrigante mistura de história de investigação com horror sobrenatural, uma fotografia primorosa, além de performances sensacionais de Rourke e do mito Robert De Niro, em um pequeno mas inesquecível papel. CORAÇÃO SATÂNICO foi injustamente uma decepção de público e crítica quando foi lançado, mas os anos seguintes trouxeram ao filme o reconhecimento que merece. Trata-se de um pequeno clássico que Christopher Nolan em pessoa já citou como uma influência em sua carreira. Se o homem falou, tá falado!

Cena Preferida:
CORAÇÃO SATÂNICO, como quase todos os bons filmes dos anos 80, está repleto de cenas inesquecíveis. Mas a sequência em que Harry conhece Cyphre é absolutamente magnética. Dois monstros sagrados da arte da atuação fazendo o que fazem melhor.

Avaliação: 5 de 5.

97. VÔO NOTURNO (THE NIGHT FLIER) | 1997
Dir. Mark Pavia. Roteiro: Mark Pavia e Jack O’Donnell, baseado no conto de Stephen King.
Elenco: Miguel Ferrer, Julie Entwisle, Dan Monahan, Michael H. Moss. 97 min.

Sobre o que é?
Richard Dees (Ferrer) e Katherine Blair (Entwisle), são dois repórteres rivais de um tablóide que estão investigando a história do “Piloto da Noite”, um serial killer que viaja em seu avião particular, fazendo vítimas em pequenos aeroportos de cidades do interior. Ao se aprofundar na investigação, Dees começa a suspeitar de que talvez o Piloto da Noite seja na verdade um vampiro.

Opinião Pessoal:
Esta pequena produção B de poucas credenciais é uma das adaptações menos lembradas da obra do Mestre do Horror, Stephen King. O que é injusto, para dizer o mínimo. Apesar das visíveis restrições orçamentárias, VÔO NOTURNO é um dos melhores filmes de vampiro que existem por aí. A narrativa é simples e direta, e o humor ácido existente no conto de King é muito bem transplantado para a tela. O eterno coadjuvante e falecido Miguel Ferrer entrega sua melhor atuação da carreira, e todos os elementos que circundam o tal Piloto da Noite, incluindo o próprio, são excelentes. VÔO NOTURNO é um perfeito exemplo de um filme de terror raiz, que vai direto ao assunto e assusta ao mesmo tempo em que diverte. Não dá pra pedir muito mais do que isso.

Cena Preferida:
O aterrorizante encontro entre Dees e o Piloto da Noite no clímax do filme. Uma sequência de horror perfeitamente construída e executada.

Avaliação: 5 de 5.

96. SORRIA (SMILE) | 2022
Direção e Roteiro: Parker Finn.
Elenco: Sosie Bacon, Jessie T. Usher, Kyle Gallner, Robin Weigert, Caitlin Stasey, Kal Penn, Rob Morgan. 115 min.

Sobre o que é?
Após testemunhar um bizarro e traumático incidente envolvendo uma paciente, a Dra. Rose Cotter (Bacon) começa a vivenciar assustadoras ocorrências que ela não consegue explicar. À medida em que o terror começa a se apossar de sua vida, Rose deve confrontar seu passado problemático para conseguir sobreviver e escapar de sua horripilante nova realidade.

Opinião Pessoal:
O filme de estreia do novato diretor Parker Finn, SORRIA é cuidadosamente calibrado para causar diferentes efeitos em diferentes espectadores. Para aqueles que não são muito envolvidos com o horror, trata-se de um eficiente scarefest, cheio de grandes sustos e alto nível de tensão. Porém, SORRIA funciona de maneira totalmente distinta para o fã do gênero, que vai reconhecer as maneiras com que Finn emula seu trabalho em outros filmes populares de terror (o filme claramente espelha a versão americana de O Chamado, que eu particularmente adoro).
SORRIA é um filme repleto de truques e artifícios cujo intuito é levar o espectador ao susto. A quantidade de jump scares é tanta que chega a ser engraçado. Finn utiliza ruídos altos e abruptos e cortes brutalmente rápidos para fazer com que o espectador grite e se esquive de coisas tão mundanas quanto Rose mordendo um hambúrguer ou arrancando uma unha. Mas não importa o quanto os sustos legítimos se acumulem excessivamente, eles são surpreendentes e convincentes. A edição e a música são conectadas de maneira impressionante, e buscam o máximo impacto sempre que a tensão e o suspense são interrompidos por alguma surpresa abrupta e horripilante. Onde outros filmes que vieram depois e que também seguiram os passos de O Chamado soaram apenas derivativos (incluindo suas próprias sequências), SORRIA utiliza a familiaridade da história para gerar ansiedade e antecipação, o que o torna um filme de horror extremamente eficiente, e eu diria até implacável, de maneira incomum.

Cena Preferida:
SORRIA possui algumas sequências de tirar o sono, como por exemplo a cena em que uma das personagens caminha em direção à janela do carro para falar com a protagonista e cuja cabeça está pendurada em seu pescoço torcido. Mas ainda prefiro a sinistra sequência em que a protagonista se vê frente a frente com a primeira vítima da maldição que está prestes a tomar conta de sua vida. É de fato impossível esquecer o macabro sorriso no rosto da infeliz.

Confira minha crítica completa do filme: SORRIA (SMILE) | 2022

Avaliação: 5 de 5.

95. ESPÍRITOS: A MORTE ESTÁ AO SEU LADO (SHUTTER) | 2004
Dir. Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom. Roteiro: Banjong Pisanthanakun, Parkpoom Wongpoom e Sophon Sakdaphisit.
Elenco: Ananda Everingham, Natthaweeranuch Thongmee, Achita Sikamana, Unnop Chanpaibool, Titikarn Tongprasearth, Sivagorn Muttamara. 97 min.

Sobre o que é?
Após atropelar uma jovem com seu carro, Jane (Thongmee) e seu namorado fotógrafo, Tun (Everingham), começam a ver uma figura sombria no fundo das fotos tiradas por Tun. Preocupada com a possibilidade de que a figura seja o espírito vingativo da jovem atropelada, Jane começa a pesquisar sobre a mulher, sem saber que está prestes a fazer uma chocante descoberta.

Opinião Pessoal:
Este ESPÍRITOS surgiu pouco após o boom de filmes de terror japoneses e suas refilmagens no final da década de 90 e início dos anos 2000. Porém, o filme é uma produção tailandesa, o que causou certa desconfiança do público e crítica na época de seu lançamento, que o comparou aos exemplares nipônicos e remakes de orçamento maior e um frescor mais original. Mas não se iluda: ESPÍRITOS: A MORTE ESTÁ AO SEU LADO é um dos melhores filmes sobre o tema, não só pela maneira eficiente (e divertida) com que apresenta sua ameaça sobrenatural, mas principalmente pelo cuidado acima da média do roteiro, que constrói um quebra-cabeças intrigante e assustador, cuja conclusão é até hoje sempre lembrada pelos fãs do horror. E não é para menos: depois de assistir ESPÍRITOS: A MORTE ESTÁ AO SEU LADO, você nunca mais vai ouvir a expressão “encosto” da mesma forma. kkkkkk
Uma curiosidade: o mercado de distribuição nacional simplesmente “criou” uma sequência para o filme. O horror ‘Alone“, dirigido pelos mesmos Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom em 2007, produção que não tem nenhuma relação com este ESPÍRITOS a não ser as credenciais de seus diretores, foi batizado aqui de Espíritos 2: Você Nunca Está Sozinho. É cada uma…
Ah sim… o filme também ganhou um remake americano em 2008. Bem inferior, para variar.

Cena Preferida:
Não tem como não ser a revelação final, muito bem demonstrada na simplicidade de uma fotografia. O arrepio na espinha está garantido.

Avaliação: 5 de 5.

94. HISTÓRIAS DE ALÉM-TÚMULO (GHOST STORIES) | 2017
Direção e Roteiro: Jeremy Dyson e Andy Nyman.
Elenco: Andy Nyman, Paul Whitehouse, Alex Lawther e Martin Freeman. 98 min.

Sobre o que é?
O Professor Phillip Goodman (Nyman) dedica sua vida a expor médiuns falsos e esquemas sobrenaturais fraudulentos. Seu ceticismo é logo colocado à prova quando ele recebe a notícia da existência de três casos assustadores e inexplicáveis: perturbadoras visões em um manicômio abandonado; um acidente de carro em uma floresta; e o espírito de uma criança ainda não-nascida. Mas o mais assustador, é que cada história macabra parece ter uma sinistra conexão com a vida do professor.

Opinião Pessoal:
Este HISTÓRIAS DE ALÉM-TÚMULO junta duas vertentes do horror que eu simplesmente adoro: o sempre classudo horror britânico, e as antologias. Primeira antologia de horror a aparecer nesta lista, o filme de Jeremy Dyson e Andy Nyman dribla seus intrincados primeiros minutos para se revelar uma deliciosa história de horror à moda antiga, onde seus capítulos não são necessariamente histórias independentes umas das outras, mas são na realidade um complemento da jornada do protagonista, que em sua ânsia de desmentir o sobrenatural, acaba embarcando em uma arrepiante e surpreendente jornada. A narrativa inteligente por si só já vale a sessão, porém o filme ainda oferece um tremendo bônus nas atuações do jovem Alex Lawther (que já havia arrebentado no melhor episódio da antologia sci-fi Black Mirror), e do sempre sensacional Martin Freeman, que dá as caras no segmento final da produção e imediatamente eleva o patamar do que se vê em cena. HISTÓRIAS DE ALÉM-TÚMULO entrega tudo o que seu título promete e um pouco mais. Os sustos estão mais do que garantidos.

Cena Preferida:
Não é bem uma cena, mas todo o segundo segmento, protagonizado pelo talentoso e igualmente estranho Alex Lawther. À partir do momento em que o protagonista pisa na casa do rapaz, o clima de tensão e terror é palpável, mas não desprovido de alguns bons risos nervosos.

Avaliação: 5 de 5.

93. NECRONOMICON: O LIVRO PROIBIDO DOS MORTOS (NECRONOMICON) | 1993
Dir. Christophe Gans, Shûsuke Kaneko e Brian Yuzna. Roteiro: Brent V. Friedman, Christophe Gans, Kazunori Itô e Brian Yuzna, baseado em contos de H.P. Lovecraft.
Elenco: Jeffrey Combs, Bruce Payne, Belinda Bauer, Richard Lynch, David Warner, Dennis Christopher, Signy Coleman, Don Calfa, Judith Drake. 96 min.

Sobre o que é?
Nos anos 30, o mestre do horror H.P. Lovecraft (Combs), está à procura do Necronomicon, o profano livro dos mortos. Ele o encontra em uma biblioteca protegida por monges 24 horas por dia, e decide copiar algumas das histórias, que se desenrolam diante de nossos olhos. E dos dele.

Opinião Pessoal:
Olha ele de novo! Mais uma aparição do produtor Brian Yuzna nesta lista. Depois de O Filho das Trevas (posição 108) e Do Além (posição 103), o produtor aparece mais uma vez por aqui com este NECRONOMICON, e aqui Yuzna inclusive se arrisca na direção, dirigindo o prólogo, o epílogo e o terceiro segmento desta antologia baseada (entre aspas) na obra do mestre H.P. Lovecraft. Lovecraft, inclusive, é homenageado de maneira bem bacana aqui, já que o celebrado autor aparece como um dos personagens, interpretado pelo esquisitão Jeffrey Combs. Combs interpreta Lovecraft (sob uma maquiagem que o deixou a cara do Bruce Campbell) no prólogo e epílogo do filme, “puxando” as três histórias que formam a antologia em si. O primeiro segmento, ‘Os Afogados’, com direção do francês Christophe Gans (Terror em Silent Hill), estabelece muito bem o tom da produção, que encontra seu melhor segmento no segundo, ‘O Frio’, dirigido pelo japonês Shûsuke Kaneko, que dirigiu o episódio sem saber uma só palavra em inglês. O terceiro segmento, ‘Sussurros’, dirigido por Yuzna, é simplesmente inacreditável. Uma orgia de sangue, gosma e gritos onde os efeitos são ao mesmo tempo toscos e repelentes, em que a dupla de veteranos, Don Calfa (A Volta dos Mortos-Vivos) e Judith Drake, estão genuinamente assustadores. A conclusão do segmento é digna de pesadelo. Resumindo, NECRONOMICON: O LIVRO PROIBIDO DOS MORTOS é aquela típica e deliciosa antologia de terror B que ajudou a tornar o gênero tão divertido e apaixonante para os fãs.

Cena Preferida:
A cena final do último segmento, apesar das restrições orçamentárias e mesmo após todos estes anos, continua assustadoramente incômoda.

Avaliação: 5 de 5.

92. SOUTHBOUND (2015)
Dir. Roxanne Benjamin, Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett e Chad Villella (Radio Silence), David Bruckner, Patrick Horvath e Justin Martinez. Roteiro: Matt Bettinelli-Olpin, Roxanne Benjamin, Susan Burke, David Bruckner, Patrick Horvath e Dallas Richard Hallam.
Elenco: Kristina Pesic, Fabianne Therese, Nathalie Love, Hannah Marks, Dana Gould, Susan Burke, Maria Olsen, Karina Fontes, Roxanne Benjamin, Brad Miska e Larry Fessenden. 89 min.

Sobre o que é?
Em um isolado trecho de uma rodovia no deserto, diferentes grupos de viajantes – dois homens fugindo de seu passado; uma banda a caminho de seu próximo show; um jovem lutando para chegar em casa; um homem em busca de sua irmã desaparecida, e uma família em férias – são forçados a confrontar seus piores medos e seus segredos mais sombrios em uma série de contos de terror interconectados.

Opinião Pessoal:
A maioria dos filmes estruturados como antologias tem altos e baixos. É quase que inevitável. Este SOUTHBOUND porém, é muito mais equilibrado e contém mais tecido conectivo do que a grande maioria dos filmes do gênero. Todos os segmentos do filme mantém um nível acima da média, e um deles especialmente (já falarei dele), está entre os melhores que já vi em todos os tempos.
O primeiro segmento, ‘The Way Out’, dirigido pela trupe de cineastas conhecida como Radio Silence (dos recentes Pânico 5 e 6), apresenta a dupla de amigos Mitch e Jack, que estão em fuga, e evidentemente após fazerem alguma bobagem muito grande, já que estão sendo perseguidos por misteriosas e apavorantes criaturas flutuantes.
O segmento seguinte é “Siren”, dirigido pela então estreante Roxanne Benjamin (There’s Something Wrong with the Children), que introduz as amigas Sadie, Kim e Ava, membros de uma banda a caminho de um show. Quando a van do grupo quebra, elas aceitam uma carona de um casal um tanto generoso demais, que insiste para que o grupo siga com eles até sua casa, para um cochilo e uma refeição quente enquanto esperam pelo conserto do carro. Entretanto, assim que chegam ao local, fica bem claro que o casal não está oferecendo exatamente a boa e velha hospitalidade…
E agora sim é hora de falar do segmento que eu considero (e olha que eu já vi MUITA coisa nesse gênero) um dos melhores contos de horror já filmados ou adaptados para o cinema e TV (ao lado do espetacular ‘Safe Haven’, da antologia V/H/S/2, que não entrou na lista, mas de qualquer maneira fica a dica). O segmento se chama “Accident”, escrito e dirigido por David Bruckner (hoje um dos maiores nomes do horror atual, com títulos como O Ritual, A Casa Sombria e Hellraiser no currículo), e que apresenta a via-crucis do jovem Lucas (Mather Zickel), que após atropelar acidentalmente uma mulher com seu carro em um desolado trecho de rodovia, embarca em uma solitária e agoniante jornada para salvá-la. A sensacional mini-narrativa de Bruckner se conecta com perfeição à ótima performance do desconhecido Zickel, e constrói uma quantidade insana de tensão, para em seguida jogar no espectador um material mais que macabro e, sem dúvidas, uma das sequências cinematográficas mais maravilhosamente chocantes que pude ver um filme de horror.
Não é uma missão fácil manter o mesmo nível do melhor episódio de uma antologia, e com certeza, “Jailbreak”, escrito e dirigido por Patrick Horvath (do fraco Pesadelos do Passado 2), acaba desapontando. No segmento, Danny é um homem que procura desesperadamente por sua irmã Jesse, que está desaparecida há anos. E quando Danny finalmente consegue descobrir o paradeiro de Jesse, é que as coisas realmente ficam feias, já que sua irmã encontra-se em uma cidade que é basicamente, um cruzamento entre realidade e o próprio inferno.
Para fechar, a trupe Radio Silence retorna para amarrar a antologia com o segmento final, “The Way In”. Aqui o foco é em Jem (Hassie Harrison), uma jovem que embarca em uma última viagem com seus pais, antes de começar a faculdade em uma cidade distante. Eles se hospedam em sua deslumbrante casa de férias, mas logo alguém bate à porta, e Jem e sua família passam a ser aterrorizados por três intrusos mascarados.
Mais ou menos na metade deste “The Way In”, fica evidente como os parceiros da Radio Silence planejam encerrar sua antologia como um todo. E quando isso finalmente acontece, o resultado é surpreendente e bastante satisfatório. SOUTHBOUND é uma das pouquíssimas antologias que amarra muito bem todos seus segmentos com sua proposta central, e com certeza merece seu lugar nesta lista.

Cena Preferida:
Não vou citar apenas uma cena, mas sim todo o aterrorizante segmento dirigido por Bruckner. Como já mencionado aqui, trata-se de 15 minutos de uma verdadeira aula de horror e tensão. Imperdível para os fãs do gênero.

Avaliação: 5 de 5.

91. HOTEL DA MORTE (THE INNKEEPERS) | 2011
Direção e Roteiro: Ti West.
Elenco: Sara Paxton, Pat Healy, Kelly McGillis, Lena Dunham. 101 min.

Sobre o que é?
Claire (Paxton) e Luke (Healy), os dois últimos funcionários de um antigo hotel prestes a fechar, estão determinados a levantar um bom dinheiro revelando o passado assombrado do local. Porém, logo eles começam a testemunhar eventos perturbadores, enquanto velhos hóspedes chegam para se hospedar.

Opinião Pessoal:
Posso me gabar de ter acompanhado a carreira do diretor Ti West desde sua fase embrionária, com filmes como A Casa do Diabo, O Sacramento, e segmentos das antologias V/H/S/, até se estabelecer como um dos principais nomes do gênero atualmente, tendo entregado no mesmo ano de 2022, ao lado da atriz Mia Goth, os hits X: A Marca da Morte e Pearl. De fato, é nítido o quanto West amadureceu ao longo dos anos como cineasta, mas ainda assim meu filme preferido dele ainda é este spookfest HOTEL DA MORTE, escrito e dirigido por ele em 2011.
Não deixem a premissa banal do filme enganá-los, a produção oferece muito mais do que isso. A dupla afiada de atores centrais formada pela bela Sara Paxton (A Última Casa) e o sempre competente Pat Healy (que merecia uma fama muito maior do que possui), ajuda a tornar o filme, que começa quase que como uma inspirada comédia de horror, em algo muito mais assustador. West sabiamente usa e abusa do recurso mais valioso que existe quando falamos de um filme de suspense/horror: o que mais nos assusta, é o que não vemos. Com longas pausas e ação minimalista, West sabe que o poder da sugestão é mais assustador do que sangue e carnificina sem sentido.

Cena Preferida:
HOTEL DA MORTE possui alguns dos melhores jumpscares de que se tem notícia. A cena do piano e o susto no laptop são dois ótimos exemplos disso.

Avaliação: 5 de 5.

90. UMA NOITE ALUCINANTE 3 (ARMY OF DARKNESS) | 1992
Dir. Sam Raimi. Roteiro: Sam Raimi e Ivan Raimi.
Elenco: Bruce Campbell, Embeth Davidtz, Ian Abercrombie, Bridget Fonda, Ted Raimi, Bill Moseley. 96 min.

Sobre o que é?
Neste terceiro filme da franquia Evil Dead, o sobrevivente dos filmes anteriores, Ash Williams (Campbell), se encontra preso na época medieval. Agora, ele deve encontrar o Necronomicon, o livro dos mortos, a única coisa que pode enviá-lo de volta para os dias atuais. Infelizmente (e como já era de se esperar), ele acaba libertando o Mal que estava preso no livro e seu exército.

Opinião Pessoal:
Apesar dos três filmes da trilogia Evil Dead original terem sido dirigidos e escritos por Sam Raimi e seu irmão Ivan, é curioso quando comparamos este UMA NOITE ALUCINANTE 3 com os outros filmes da franquia. Enquanto que A Morte do Demônio pode ser considerado um terror em sua essência, a sequência Uma Noite Alucinante 2 adentra mais o território da comédia. Já este terceiro filme pode ser considerado uma comédia de horror propriamente dita. E não há absolutamente NADA de errado com isso, uma vez que UMA NOITE ALUCINANTE 3 merece um lugar como uma das melhores comédias de horror de todos os tempos. É aqui que o azarado Ash de Bruce Campbell se torna o personagem icônico e amado que conhecemos hoje, onde o ator dá um verdadeiro show seja na atuação cômica quanto nas coreografias malucas e no humor físico do filme. Sem falar que os efeitos práticos e os diálogos inspirados dos Raimi são outras atrações à parte.
UMA NOITE ALUCINANTE 3 pode não ser aquela experiência de horror propriamente dita que você está procurando, mas isso não impede que o filme alcance a grandeza que merece.
Vale lembrar que mais de vinte anos depois, Ash retornou à ativa na divertidíssima série Ash Vs. Evil Dead, cuja atmosfera é praticamente idêntica à deste terceiro filme.

Cena Preferida:
A inacreditável cena em que Ash “dá à luz” ao “Ash do Mal” é impagável (digna dos Três Patetas, diga-se de passagem). E o célebre discurso do “pau de fogo” também não pode ser esquecido.

Confira aqui minha crítica de A MORTE DO DEMÔNIO: A ASCENSÃO (EVIL DEAD RISE)

Avaliação: 5 de 5.

89. PAGUE PARA ENTRAR, REZE PARA SAIR (THE FUNHOUSE) | 1981
Dir. Tobe Hooper. Roteiro: Lawrence J. Block.
Elenco: Elizabeth Berridge, Shawn Carson, Cooper Huckabee, Miles Chapin, Kevin Conway, Sylvia Miles. 96 min.

Sobre o que é?
A adolescente rebelde Amy (Berridge), desafia seus pais ao ir até um decadente parque de diversões itinerante que chegou à cidade. Acompanhada de seu namorado e um casal de amigos, ela acha divertida a ideia de passar a noite na “Funhouse”, a Casa dos Horrores do local. Mas quando eles testemunham um assassinato, Amy e seus amigos precisarão escapar dos perigos que os aguardam lá dentro.

Opinião Pessoal:
Antes de qualquer coisa, PAGUE PARA ENTRAR, REZE PARA SAIR é um dos pouquíssimos filmes (se é que existem mais) cujo título nacional é melhor que o original. Fala sério, que nome bacana! Hoje o filme do diretor Tobe Hooper (que aparecerá novamente nesta lista) com certeza não carrega o mesmo impacto da época de seu lançamento, mas seu filme absolutamente me aterrorizou na infância, a ponto de até hoje eu não suportar parques de diversão itinerantes, especialmente aqueles de que ficam na praia. Mas apesar do filme estar presente nesta lista também pelo fator memória afetiva, é inegável que PAGUE PARA ENTRAR, REZE PARA SAIR é um slasher em sua essência, raiz. A fotografia e a estética da produção são feias, puídas, o que acaba agindo em favor do filme, que se estabelece como uma experiência cinematográfica incômoda e ainda assustadora. Sem falar no perturbador “monstro” do filme, que até hoje impressiona e repele.

Cena Preferida:
[SPOILERS]… Pode até soar injusto com os momentos mais aterrorizantes do filme, mas eu simplesmente adoro a cena final da produção, quando a protagonista finalmente sai da Casa dos Horrores e a observa pela última vez. Há algo de especial na maneira com que Hooper captura sua cena, a ponto de até parecer um outro filme.

Avaliação: 5 de 5.

88. VOZES DA ESCURIDÃO (A DARK SONG) | 2016
Direção e Roteiro: Liam Gavin.
Elenco: Steve Oram, Catherine Walker, Susan Loughnane, Mark Huberman. 100 min.

Sobre o que é?
Sophia Howard (Walker), aluga uma casa no interior do País de Gales e contrata o ocultista Joseph Solomon (Oram) para tentar contato com seu filho, que foi sequestrado e morto por adolescentes que praticavam magia negra. Ao longo dos dias, Sophia segue o direcionamento de Solomon em rituais para purificar sua alma. No entanto, Sophia possui um plano secreto que colocará a vida de ambos em risco.

Opinião Pessoal:
Algo curioso é que logo após assistir a este horror irlandês em meados de 2017, o filme à princípio não me agradou. Contudo, algo com relação à minha percepção do filme não se encaixava, e então resolvi dar uma segunda chance para esta pequena produção do gênero. E honestamente, eu não poderia ter feito uma escolha melhor. VOZES DA ESCURIDÃO é uma produção que exige paciência e principalmente certa tolerância do espectador, que quando finalmente compreende a profundidade do escopo do filme, com certeza sente-se estranhamente recompensado. A ponto do filme hoje ter um lugar nesta lista dos meus preferidos de todos os tempos.
Com um desenrolar bastante intrincado, VOZES DA ESCURIDÃO é na realidade um conto dark sobre luto e perdão, cuja vertente do terror encontra seu viés em um ritual de magia literalmente infernal. Ao mesmo tempo em que o ritual pode garantir à sofrida dupla de protagonistas a realização de seus desejos mais profundos, a cerimônia pode também condenar suas almas para sempre.
O diretor Gavin trata o elemento “mágico” da narrativa como algo doloroso, rigoroso e complexo, à medida em que a improvável dupla trancafia-se na remota mansão para um ritual de seis meses de duração, que demandará, literalmente, o sangue, o suor e as lágrimas de ambos os personagens, especialmente Sophia, que é interminavelmente testada, e cuja determinação só não é maior do que sua total consciência do tamanho do sacrifício que terá de fazer para ter o que quer. Sem falar no fato de que o próprio Joseph não é uma pessoa fácil de se conviver, especialmente sob as circunstâncias expostas pela produção.
A forte dinâmica entre Walker e Oram (e por consequência a de seus personagens), e a maneira com que ambos passam a desprezar e depender um do outro durante sua enlouquecedora jornada espiritual, fazem do núcleo do filme uma fascinante subversão dos thrillers sobre ocultismo, e estabelece VOZES DA ESCURIDÃO como um dos mais originais e imprevisíveis filmes de horror em minha memória recente.

Cena Preferida:
A mesmerizante sequência final, que funciona como objeto de catarse para não só a sofrida protagonista mas também para o público, que sofre junto com ela. Sem falar que a cena traz aquela que talvez seja a mais bela e intimidadora representação de um “beep” (não vou dar esse spoiler) da história do cinema.

Avaliação: 5 de 5.

87. ARRASTE-ME PARA O INFERNO (DRAG ME TO HELL) | 2009
Dir. Sam Raimi. Roteiro: Sam Raimi e Ivan Raimi.
Elenco: Alison Lohman, Justin Long, Lorna Raver, Dileep Rao, David Paymer, Bojana Novakovic e Adriana Barraza. 99 min.

Sobre o que é?
Christine Brown (Alison Lohman), possui um namorado apaixonado (Justin Long) e um ótimo emprego em um banco da cidade de Los Angeles. Mas sua vida abençoada se transforma em um verdadeiro inferno, quando num esforço para impressionar seu chefe, ela nega um empréstimo para uma velhinha, que usaria o dinheiro para salvar sua casa. Em retaliação, a velha coloca uma maldição em Christine, ameaçando sua alma com a danação eterna. Ela então busca a ajuda de um médium, mas o preço para quebrar a maldição e salvar sua alma pode ser muito mais alto do que ela pode pagar.

Opinião Pessoal:
Foram necessários 17 anos, os 17 anos desde Uma Noite Alucinante 3 (posição 89 desta lista) para que o diretor Sam Raimi retornasse ao gênero que o consagrou. E o retorno não poderia ter sido melhor do que com este ARRASTE-ME PARA O INFERNO, uma assustadora e divertida incursão ao horror bem ao estilo Raimi, onde o humor anda de mãos dadas com o terror. Mas não é só na narrativa que Raimi evoca seus tempos como o condutor da franquia Evil Dead. O diretor traz de volta seus insanos movimentos de câmera e edição acelerada, e o resultado é um horror incrivelmente divertido, que com algumas ideias de concepções diferentes, poderia muito bem ser um quarto filme da franquia criada por Raimi. Mas é importante ressaltar que ARRASTE-ME PARA O INFERNO sobrevive muito bem como a história individual que é, inserindo toda uma mitologia em torno da bruxaria e da magia negra, que cai como uma luva no estilo de seu diretor. A gracinha Alison Lohman (que depois sumiu) está ótima no filme, e os efeitos de gore são classe A na escala de nojeira. Não há muito mais que um fã de horror possa pedir.

Cena Preferida:
ARRASTE-ME PARA O INFERNO possui algumas sequências realmente inesquecíveis, especialmente as que trazem a presença sinistra da veterana Lorna Raver no papel da velha cigana encapetada (a cena em que a protagonista dá as caras no velório da velha é de cair o c… da bunda, por exemplo). Mas ainda prefiro a sequência final da produção. Mesmo já sabendo que alguma coisa iria acontecer, a maneira com que Raimi encerra seu filme é simplesmente espetacular.

Avaliação: 5 de 5.

86. MALIGNO (MALIGNANT) | 2021
Dir. James Wan. Roteiro: James Wan, Ingrid Bisu e Akela Cooper.
Elenco: Annabelle Wallis, Maddie Hasson, Susanna Thompson, Jake Abel, Jacqueline McKenzie, Paula Marshall, Zoë Bell. 111 min.

Sobre o que é?
Madison (a bela Annabelle Wallis), é uma vítima de seguidos abusos domésticos, sendo que a última agressão a deixa com uma terrível ferida na cabeça. Pouco depois, sua casa é invadida, seu marido agressor é brutalmente assassinado, e Madison é hospitalizada, perdendo o bebê que esperava. Ao sair do hospital, Madison começa a ter horripilantes visões, onde testemunha uma série de violentos assassinatos cometidos pela mesma figura sinistra que a atacou em sua casa. Ela então confessa para sua irmã que um espírito maligno tem se comunicado com ela, e que o mesmo pode estar de alguma forma conectado à memórias reprimidas de sua misteriosa infância.

Opinião Pessoal:
Depois de se estabelecer como o grande nome do horror da atualidade, com franquias do quilate de Jogos Mortais, Sobrenatural e Invocação do Mal no currículo, James Wan retornou com este MALIGNO, onde brinca com um leque de temas que vão desde visões diabólicas, passando por traumas da infância, e chegando a espíritos malignos que espreitam na escuridão. O filme de Wan muitas vezes parece querer afundar em sua própria execução, e em alguns momentos, é nítida a luta do irregular roteiro em manter o espectador ligado o tempo todo na trama. Entretanto, Maligno entrega um terceiro ato que me deixou estupefato, confirmando que Wan permanece como um dos mais consistentes nomes do entretenimento cinematográfico atual.
Visualmente, Wan mostra-se cada vez mais preparado. O diretor conjura imagens que se perpetuam na cabeça do espectador, muito depois do filme ter acabado, além de elaborar alguns assassinatos cabulosos, dignos dos piores pesadelos das mentes mais doentias. À medida que os sinais do roteiro apontam para o que parece ser uma conclusão decepcionante e óbvia, até os fãs mais fervorosos de Wan podem ter pensado que o diretor simplesmente perdeu suas habilidades para assustar seu público.
Mas qualquer receio com relação ao talento de Wan para colocar pavor na medula óssea de seus fãs é completamente deixado de lado, uma vez que as cortinas se levantam para revelar a verdade deliciosamente horripilante que se escondia em seu filme. O que se vê no terceiro ato de MALIGNO é um clímax frenético encharcado de sangue, de ação violenta e ultrajante, propelida por uma revelação de cair o queixo que é tão ridiculamente audaciosa que tem que ser vista para que possam acreditar no que digo. Sua conclusão é tão desafiadora e demente, e executada com tanta confiança e compromisso por Wan, que qualquer deslize que tenha vindo anteriormente na trama é rapidamente esquecido.

Cena Preferida:
A cena em que o personagem ‘Gabriel’ desperta dentro da cela de uma delegacia no terceiro e inacreditável ato do filme. Um verdadeiro deleite para os fãs do horror.

Confira aqui minha crítica completa de MALIGNO (MALIGNANT)

Avaliação: 5 de 5.

85. A ENTIDADE (SINISTER) | 2012
Dir. Scott Derrickson. Roteiro: Scott Derrickson & C. Robert Cargill.
Elenco: Ethan Hawke, Juliet Rylance, James Ransone, Fred Thompson, Clare Foley e Vincent D’Onofrio. 110 min.

Sobre o que é?
O escritor Ellison Oswald (Hawke) está na pior; ele não lança um best-seller há mais de dez anos e se encontra cada vez mais desesperado para escrever um sucesso. Então, quando ele descobre a existência de um ‘snuff film’ que mostra a morte dos integrantes de uma família, ele decide solucionar o mistério. Ele se muda com sua própria família para a casa das vítimas e começa a trabalhar. No entanto, quando velhas filmagens e outras pistas apontam para a presença de uma força sobrenatural, Ellison descobre que viver nesta casa pode ser fatal.

Opinião Pessoal:
Considerado por muitos o filme de horror moderno mais assustador da atualidade, A ENTIDADE realmente pode ser considerado algo sinistro, como seu título original evoca. O sempre competente Ethan Hawke está ótimo mais uma vez, no papel de um escritor sobre crimes verdadeiros que se muda com sua família para uma casa onde horripilantes assassinatos aconteceram (sim, pensa numa ideia de jerico). É claro que não demora para as coisas tomarem um rumo cabuloso na vida do escritor e sua família, o que já era previsível. Porém, o plot simples é executado de maneira tão eficiente, que faz com que o filme do bom diretor Scott Derrickson fique grudado no subconsciente por um longo tempo.
Nota: O filme ganhou uma sequência infinitamente inferior em 2015, e Hawke e o diretor Derrickson se reuniram no ano passado no sólido O Telefone Preto, posição 119 desta lista.

Cena Preferida:
As fitas em Super-8 contendo diversos assassinatos que o protagonista encontra no sótão de sua nova casa já são de arrepiar a medula, mas é a face demoníaca que aparece nas cenas dos crimes que é digna dos piores pesadelos.

Avaliação: 5 de 5.

84. THE VOID (2016)
Direção e Roteiro: Jeremy Gillespie & Steven Kostanski.
Elenco: Aaron Poole, Kenneth Welsh, Ellen Wong, Kathleen Munroe, Daniel Fathers, Art Hindle. 90 min.

Sobre o que é?
Quando o xerife Carter (Aaron Poole), encontra um homem ensanguentado vagando por uma estrada deserta, ele se apressa em levá-lo ao hospital no esquálido turno da noite. Enquanto sinistras figuras encapuzadas surgem e cercam o local, os pacientes e funcionários começam a enlouquecer. Tentando proteger os sobreviventes, Carter os leva às profundezas do hospital, onde eles descobrem um portal para algo imensamente diabólico.

Opinião Pessoal:
Executado com baixo orçamento mas com muita imaginação e energia sanguinolenta, este THE VOID transpira a vibe do cinema fantástico que proliferava nos idos dos anos oitenta. A Noite dos Arrepios, A Volta dos Mortos-Vivos, Força Sinistra, o cinema de John Carpenter e a literatura de H.P. Lovecraft e Stephen King dão o tom desta pequena gema do gênero.
Apesar do baixo orçamento da produção ser totalmente perceptível durante o andamento da obra, THE VOID é dotado de grandes qualidades técnicas, graças aos talentos de Gillespie e Kostanski, especialistas em trabalhos de maquiagem, prostética e efeitos mecatrônicos. Tal vocação para o gore faz bastante diferença no resultado da produção, cujos efeitos e concepção de criaturas lembram bastante algumas passagens do clássico O Enigma de Outro Mundo.
A produção, entretanto, busca nítida inspiração no universo macabro de H.P. Lovecraft e suas tenebrosas criaturas tentaculares oriundas de diabólicas dimensões paralelas. Esta energia mórbida da produção dá ao filme um tom pesado, mas que não deixa de ser bastante divertido, especialmente quando o sangue começa a escorrer pra valer dentro da narrativa, onde a inventividade de sua promissora dupla de realizadores faz do filme um prato cheio para o fã do horror oitentista.
Deixando inclusive uma porta aberta para uma continuação, THE VOID é um gostoso e sangrento mergulho saudosista em um cinema que como podemos perceber pelo entretenimento que vem surgindo nos dias de hoje, continua a deixar bastante saudade. Os anos setenta vieram para mudar a face do cinema. A década de noventa, estabeleceu o cinemão do entretenimento, mais uma vez transformando o cinema como o conhecemos hoje. A década de oitenta, nada teve de revolucionária. Contudo, sem dúvida nenhuma apresentou o cinema mais divertido de que tenho lembrança. THE VOID traz um pouquinho deste sabor de volta, mesmo que mergulhado em bastante sangue e vísceras.

Cena Preferida:
Não vou citar uma cena específica, mas sim o já mencionado trabalho de efeitos práticos e gore. Todos absolutamente excelentes!

Avaliação: 5 de 5.

83. A AUTÓPSIA (THE AUTOPSY OF JANE DOE) | 2016
Dir. André Øvredal. Roteiro: Ian Goldberg e Richard Naing.
Elenco: Brian Cox, Emile Hirsch, Ophelia Lovibond, Michael McElhatton, Olwen Catherine Kelly. 86 min.

Sobre o que é?
Enquanto investiga o assassinato de uma família, o xerife Sheldon e sua equipe se surpreendem com a descoberta do corpo de uma estranha enterrada no porão que não parece pertencer à cena do crime. Ele leva o cadáver de ‘Jane Doe’ tarde da noite até o legista Tommy Tilden (Cox), e pede para que Tilden descubra a causa da morte até a manhã seguinte, para que ele possa responder à imprensa. Austin (Hirsch), o filho e assistente de Tommy, decide ajudar o pai durante a autópsia, e ao longo da noite trágica e chuvosa, eles descobrem estranhos e arrepiantes segredos sobre Jane Doe.

Opinião Pessoal:
Dirigido pelo cineasta norueguês André Øvredal, este A AUTÓPSIA é um claustrofóbico mergulho dentro de um pesadelo bem real. Tudo é muito real no filme, que em nenhum momento trapaceia o espectador, e entrega a ele exatamente o que está vendo. Terror de primeira categoria, em uma roupagem simples e linguagem direta, protagonizado por dois fortes intérpretes centrais. Os intérpretes são o veterano Brian Cox e o carismático Emile Hirsch, que interpretam pai e filho respectivamente, responsáveis pelo necrotério e crematório de uma pequena cidade americana, que ao longo do enxuto roteiro da produção, são aterrorizados de todas as maneiras possíveis e imagináveis.
Øvredal é extremamente eficaz no nível de suspense apresentado, e insere no filme atmosfera tétrica e clima mórbido em doses cavalares, onde os corredores escuros e antigos do necrotério se transformam em um verdadeiro labirinto infernal.
Longe de ser algo apelativo como o curta espanhol Aftermath (1994) por exemplo, que usava a dissecação de um corpo humano apenas como pretexto para fazer horror banhado em litros de gore e apelação, A AUTÓPSIA acertadamente segue o caminho do mistério para trincar os dentes do espectador. É claro que rolam também algumas gotas de sangue no processo, mas com certeza vocês não me verão reclamar disso.

Cena Preferida:
A AUTÓPSIA é todo permeado por pequenos momentos que vão se tornando cada vez mais assombrosos. Mas em cada um deles, brilha as atuações de Cox e Hirsch, extremamente entrosados e críveis como pai e filho. Poucas vezes um filme de horror foi tão bem apoiado em seus protagonistas.

Avaliação: 5 de 5.

82. O EXORCISTA III (THE EXORCIST III) | 1990
Direção e Roteiro: William Peter Blatty.
Elenco: George C. Scott, Ed Flanders, Brad Dourif, Jason Miller, Nancy Fish, Scott Wilson, Lee Richardson. 110 min.

Sobre o que é?
O experiente Tenente Kinderman (Scott) percebe semelhanças entre sua atual investigação de uma série de assassinatos com os métodos utilizados pelo assassino apelidado de “Gemini” (Dourif), que foi executado quinze anos atrás. Ele logo descobre um paciente internado em uma instituição psiquiátrica (Miller), que alega ser o serial killer morto, mas que possui uma inacreditável semelhança com um padre que Kinderman conheceu e que morreu durante um exorcismo. À medida que mais corpos são encontrados, Kinderman procura por conexões entre os dois homens supostamente mortos.

Opinião Pessoal:
Sequências de filmes de terror geralmente enfrentam a mesma batalha que as sequências de comédias travam. Elas precisam expandir o conceito original, e ao mesmo tempo não cair na repetição. Em 1990, a mera ideia de mais uma sequência (depois do desastroso O Exorcista II: O Herege), parecia ainda mais absurda. Ainda mais quando é preciso fazer jus àquele que talvez seja o maior filme do gênero em todos os tempos. Mas o que faz deste O EXORCISTA III um filme genuinamente ótimo é a maneira com que conduz sua própria narrativa ao mesmo tempo em que complementa a obra original.
Com o autor da obra original William Peter Blatty na direção, O EXORCISTA III transforma a série em um thriller meticulosamente investigativo. Impecavelmente interpretado pelo saudoso e espetacular George C. Scott, seu Ten. Kinderman enfrenta uma crise de fé similar a do Padre Damien Karras no filme original. Kinderman se tornou um homem colérico em relação a violência ao redor, e Scott faz um trabalho particularmente devastador ao mostrar como sua investigação aos poucos elimina a fé do veterano policial em Deus e na lei. Trata-se de um interessante reflexo tanto do desespero que assombrou Chris MacNeil (Ellen Burstyn), como as dúvidas que atormentaram o Padre Karras em O Exorcista.
A violência em cena é mantida em um nível relativamente mínimo, ainda que algumas cenas brutais e sustos bem aplicados elevam significativamente a parcela de horror do filme. Tanto O Exorcista quanto este O EXORCISTA III examinam o que significa para uma pessoa normal vivenciar algo além deste mundo, algo tão aterrorizante que é capaz de nos abalar profundamente.

Obs.: não caia na cilada de que a ‘versão do diretor’ lançada em 2016 sob a alcunha O Exorcista III: Legião é melhor do que esta versão original lançada nos cinemas em 1990. A versão revisada é sofrível. Fique com o original.

Cena Preferida:
A sequência em que Kinderman caminha por um hospital gera ansiedade e antecipação como poucas sequências dentro do gênero. Com sua ambientação estéril e silenciosa, a cena culmina em um dos momentos mais icônicos do terror no cinema.

Avaliação: 5 de 5.

81. 1408 (2007)
Dir. Mikael Håfström. Roteiro: Matt Greenberg, Scott Alexander e Larry Karaszewski.
Elenco: John Cusack, Samuel L. Jackson, Mary McCormack, Tony Shalhoub, Len Cariou, Isiah Whitlock Jr. 112 min.

Sobre o que é?
Mike Enslin (Cusack), é um autor bem-sucedido que ganhou fama mundial desmentindo fenômenos sobrenaturais. Isso até ele se hospedar no Hotel Dolphin. Ignorando os avisos do gerente do local (Jackson), ele descobre o verdadeiro significado do terror quando decide passar a noite em um quarto supostamente assombrado.

Opinião Pessoal:
Você provavelmente não sabia disso, mas este 1408 é o filme de horror mais bem sucedido baseado na obra do mestre Stephen King. Um surpreendente sucesso de público e crítica em 2007, o filme definitivamente merece os louros que colheu. O plot simples, onde John Cusack (na época em que ainda era um dos melhores atores em atividade) insiste em se hospedar em um quarto de hotel que deixou maluco todos que lá se hospedaram, é um brilhante exercício de tensão sobrenatural. Enquanto o personagem de Cusack circula pelo quarto, a realidade como a conhecemos é aos poucos dissolvida, assim como a mente do protagonista. E o resultado é nada menos que perturbador, graças também à direção inventivamente sinistra do cineasta sueco Mikael Håfström.
Curiosidade: 1408 possui QUATRO finais diferentes, mas nenhum deles é unanimemente satisfatório; é a jornada em direção à loucura que faz do filme o que ele é.

Cena Preferida:
O filme possui ótimas sequências cujo potencial de horror vai aumentando à medida que os eventos em torno do protagonista vão se tornando cada vez mais enlouquecidos. Mas gosto bastante da cena em que Enslin, pela janela, consegue chamar a atenção de um morador do prédio vizinho, com resultados aterrorizantes.

Avaliação: 5 de 5.

Por enquanto é isso, galera! O que estão achando da lista até agora? Deixem seus comentários! E não deixem de acompanhar os próximos filmes da lista aqui:

Os 120 Filmes de Terror Para Ver Antes de Morrer (80 – 41)

7 comentários sobre “Os 120 Filmes de Terror Para Ver Antes de Morrer (120 – 81)

  1. Pingback: Os 120 Filmes de Terror Para Ver Antes de Morrer (80 – 41) | Os Filmes do Kacic

  2. Eitcha, 120 tu já pegou na pedrada hein. Então, vou ver com calma suas colocações, mas te daria uma macete mas pra engajamento, divida e vá postando nos próximos de pouco em pouco, isso gera hype para saber os próximos capítulos.
    Abraços e que tenham um excelente ano novo.

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    • Valeu pela preocupação, Vitor! Na verdade eu já dividi, mas achei melhor postar os três posts seguidamente, já fica meio que um bloco só. Tem vários outros para ir postando também, mas daqui uns meses eu posto o próximo. Depois vá deixando seus comentários! Abraço!

      Curtido por 2 pessoas

  3. Fala Kacic!?
    Ótima idéia, adoro essas listas pessoais pra comparar gostos, percepções diferentes das obras, etc, acompanhei a primeira de 120 a 81, vários vi, vários ai gostei bastante mesmo, alguns não vi ainda mais foram pra lista. Muita coisa vi a bastante tempo e deu vontade de rever (Southbound, A Dark Song, etc)
    Apenas uma coisa que você comentou na intro sobre os critérios da não entrada de The Thing por considerar como ficção científica, uma pena hehehehe
    Em breve verifico as demais listas e volto a comentar.
    Abraço

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  4. Meu queridíssimo amigo, você não imagina a felicidade que foi ver essa lista aqui! Te seguia numa rede social, mas resolvi fechá-la definitivamente (saúde mental, sabe como é né?!), e ver isso aqui é um verdadeiro deleite! Muitos filmes eu ainda não vi, mas daqueles que vi, só não concordo com o Telefone Preto, tanto o conto original quanto o filme acho bem fraco, apesar de gostar muito do Scott Derrickson (Emily Rose e Livrai-nos do Mal são fodas), no mais, concordo sempre com você! Forte abraço!

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    • Show de bola, meu amigo! De fato as redes sociais estão cada vez mais impossíveis! Fico feliz que tenha curtido a postagem. Em breve vem a lista das ficções-científicas!
      Volte sempre ao Filmes do Kacic, my friend! Abração!

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