Crítica: Baghead: A Bruxa dos Mortos (Baghead) | 2023

Após a morte de seu pai (Peter Mullan), Iris (Freya Allan) descobre que herdou um pub velho e decadente em Berlim. Mal sabe ela que, como nova proprietária do local, ela está intimamente ligada a uma criatura sinistra que vive no porão do pub – Baghead, uma assustadora entidade que pode assumir a forma dos mortos. Aqueles que estão sofrendo com o luto e têm a oportunidade de interagir com ela, têm apenas dois minutos para conversar com os mortos e aliviar sua dor. No entanto, se esta regra dos dois minutos for quebrada, todos os envolvidos enfrentarão terríveis consequências.

Como já foi muito bem dito no superior Fale Comigo este ano, algumas coisas não deveriam ser tiradas de seu esconderijo além-túmulo para responder perguntas que seriam melhor serem deixadas para trás. Isso se aplica não apenas a este Baghead: A Bruxa dos Mortos (Baghead, UK, 94 min), estreia em longas do diretor Alberto Corredor (adaptando seu próprio curta-metragem homônimo de 2017), ou ao citado Fale Comigo. Trata-se de uma verdadeira máxima do cinema de horror de Hollywood, que hoje existe praticamente dentro de um subgênero. Corredor utiliza o tradicionalismo de filmes do tipo para flertar com misticismo e moralidade, onde o protagonista do curta original é aqui apenas um coadjuvante que deixa um legado fatídico, permeado por problemáticas questões familiares.

Freya Allan em BAGHEAD: A BRUXA DOS MORTOS (BAGHEAD) | 2023

A última coisa que acontece com a jovem Iris (Freya Allan, do vindouro Planeta dos Macacos: O Reinado) vem na forma de um pub decadente que seu pai distante (o ótimo Peter Mullan, de Tiranossauro, Em Nome de Deus) deixou para ela. Um advogado de intenções obscuras (Ned Dennehy, da série Peaky Blinders), uma fita de vídeo gravada por seu pai antes de sua morte, e o misterioso visitante noturno Neil (Jeremy Irvine, de Cavalo de Guerra), informam Iris e sua melhor amiga, Katie (Ruby Barker, da série Bridgerton) sobre sua nova e horrível “colega de quarto”; banida para um buraco na parede após um ritual místico, uma criatura parecida com uma bruxa vive no porão do bar, e pode personificar os mortos por um breve período.

O reencontro dura apenas dois minutos e tem seu preço, que, como era de se esperar, vai muito além do que as garotas propõem para os incautos em luto que começam a formar a clientela das garotas. Até este ponto, o filme caminha bem, mas ao invés de tentar se manter no terreno da originalidade, o roteiro de Christina Pamies, Bryce McGuire e Lorcan Reilly dá lugar a uma atmosfera desgastada, tão comum no cinema de horror que trabalha o tema. E isso ocorre mesmo visualmente, onde a fotografia a cargo de Cale Finot não consegue entregar nada além do convencional. Mesmo estabelecendo bem sua premissa – que apesar de ser bem parecida com a de Fale Comigo, não pode ser acusada de copiá-la, já que o curta que lhe deu origem veio antes do filme citado – a produção sofre com a superexposição, tanto do sinistro personagem-título (que traz uma backstory desnecessariamente detalhada), quanto de suas jovens heroínas.

Apesar das atuações comprometidas de Allan e Barker, as duas parecem construídas dentro do molde padrão das personagens femininas do gênero. Não há nada nelas que alimente algum tipo de mistério, e com relação ao próprio mistério do filme, ele é colocado em segundo plano para dar lugar aos sustos (que nem sempre funcionam), deixando de lado as implicações emocionais e espirituais da trama em favor de um produto tipicamente comercial. O desejo de contato com os mortos, a credulidade dos enlutados, e a pronta monetização por parte de indivíduos e instituições são muito mais assustadoras e interessantes do que uma criatura com um saco de estopa desgastado na cabeça. Pensando aqui agora, talvez o saco em questão seja para disfarçar os fracos efeitos de maquiagem, apesar da figura da bruxa funcionar bem em alguns momentos.

Como tantas adaptações cinematográficas derivadas de curtas-metragens de sucesso, a empreitada sombria e desigual do diretor Alberto Corredor carece da narrativa e da substância psicológica de um longa-metragem. Os rituais necromânticos são repetidos sob condições quase idênticas, enquanto que a atmosfera genérica de terror se estabelece, estagnando a trama, que ainda padece com inúmeras pontas soltas que fazem as extensões da história parecerem ainda mais confusas e arbitrárias. Os motivos dos personagens parecem tão contraditórios quanto os da figura assustadora, cujo subtexto simbólico ignora as próprias convicções da produção, bem como seu potencial crítico-religioso.

Avaliação: 2.5 de 5.

Baghead: A Bruxa dos Mortos estreia nos cinemas brasileiros no dia 08 de fevereiro de 2024.

O Trailer Oficial de BAGHEAD: A BRUXA DOS MORTOS (BAGHEAD) | 2023

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