Crítica: Garra de Ferro (The Iron Claw) | 2023

Os triunfos e tribulações da família Von Erich ganharam o status de lenda para os fãs de velha-guarda da luta-livre profissional (ou Wrestling, se preferirem). Os mesmos fãs que ou os assistiam pela TV, ou que podiam apenas ler sobre os talentosos lutadores texanos em revistas sobre o tema. O diretor e roteirista Sean Durkin (O Ninho, Martha Marcy May Marlene), adiciona um tempero emocional sobre tal mitologia, utilizando chaves-de-braço e voadoras em abundância neste explosivo drama verídico, Garra de Ferro (The Iron Claw, UK/EUA 2023, 130 min). Trata-se de uma história tocante sobre uma paixão americana, misturada com rivalidade entre irmãos, pressão parental, e desespero brutal, em que um Zac Efron trincado entrega mais uma sensacional atuação como o coração pulsante de um clã extremamente unido, porém lamentavelmente problemático.

Acompanhando a família desde 1979 até o início dos anos 90, Garra de Ferro tem este nome graças ao golpe de finalização criado pelo patriarca Fritz Von Erich (Holt McCallany, da série Mindhunter), que queria o melhor para seus filhos, e que os ensinou a ser os mais fortes e os mais durões, a ponto de ninguém sequer ousar machucá-los. Porém, ele nunca realizou seu sonho de se tornar campeão mundial dos pesos-pesados, um sonho que ele passou para seu filho, Kevin (Efron).

Harris Dickinson, Zac Efron, Jeremy Allen White e Stanley Simons em GARRA DE FERRO (THE IRON CLAW) | 2023

Quando ele chega ao ringue no Dallas Sportatorium, Kevin é uma musculosa estrela em ascensão, lutando descalço e com um repertório de golpes aéreos de fazer inveja até aos lutadores mais experientes. Kevin é também um autêntico cara legal. Sua personalidade doce conquista a bela Pam (Lily James, de Baby Driver: Em Ritmo de Fuga), uma jovem que pede a ele um autógrafo e um encontro. Ela acha que wrestling é fake – o que o inspira a dar uma ótima explicação sobre a luta-livre para os não-iniciados – e ele também conta a ela sobre a “maldição de família” associada ao nome Von Erich. “Eu acredito que fazemos nossa própria sorte,” Pam rebate.

O relacionamento entre eles desabrocha ao mesmo tempo em que os irmãos de Kevin se juntam a ele no ringue. David (Harris Dickinson), não possui as habilidades físicas de Kevin, mas é um orador muito mais eficiente. Kerry (Jeremy Allen White, da série The Bear), se junta aos dois quando suas aspirações olímpicas são destruídas por um boicote aos Jogos de Verão em 1980. O caçula, Mike (Stanley Simons), é um garoto desajeitado e musical que se recusa a lutar, mas que acaba lutando mesmo assim, porque afinal é isso que seu pai espera dele.

Fritz é duro com seus garotos, enquanto que a mãe deles, Doris (Maura Tierney), está mais interessada na Bíblia do que em cinturões, o que força os irmãos a viver e morrer um pelo outro. À medida que a popularidade deles alcança altos níveis, as ambições os dividem, e uma série de devastadoras circunstâncias coloca Kevin entre a cruz e a espada, precisando escolher entre sua própria jovem família e o amado negócio de seu pai.

Do ponto de vista da luta-livre, Durkin conhece todos os meandros, e navega de maneira confiante por todos os lados do espetáculo: a política dos bastidores, a acirrada competição, a fraternidade entre os integrantes, o estilo de vida indulgente dos anos 80, e a empolgante ação dentro do ringue. Uma sensacional montagem ao som da clássica canção “Tom Sawyer”, do Rush, enquadra os Von Erichs quebrando o pau com os odiados ‘Fabulous Freebirds’, e a sequência é tão incrível quanto você possa imaginar. Os olhos dos entusiastas do wrestling com certeza vão brilhar.

Há muita coisa sobre esta saga da vida real para ser comprimida em pouco mais de duas horas, e alguns saltos temporais interrompem a uniformidade do plot. No geral, entretanto, Durkin mantém um forte foco em uma família que se racha ao meio e torna difícil para seus membros continuarem unidos. O diretor nos mergulha na calamidade ao mesmo tempo em que conjura um senso de esperança em torno da ideia de que aqueles que nos amam, nunca realmente nos abandonam.

O elenco é extremamente sólido, desde os astros principais até os coadjuvantes. Dickinson exala um espírito selvagem que captura a persona de David e mostra todo seu potencial. O veterano McCallany está suficientemente rústico no papel do dominador e autoritário Fritz, e Efron e White parecem fisicamente esculpidos como se estivessem nos anos 80. Além da dupla praticamente incorporar o físico dos lutadores da época, os dois também arrasam dramaticamente.

Efron prova ser a revelação mais importante do filme. A ex-estrela teen do famigerado High School Musical tem assumido papéis cada vez mais suculentos nos últimos anos; Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (2019), Operação Cerveja (2022), e principalmente o agoniante Deserto do Ouro (2022), mostraram que o ator estava às portas de algo realmente especial, e tal expectativa se concretiza com a odisseia emocional de Kevin através de um implacável e incessante trauma pessoal. É principalmente por causa de Efron, e do nítido amor do filme pela luta-livre, que Garra de Ferro captura seu público e não o solta mais. Mesmo que vá demolindo nosso coração no processo.

Avaliação: 4 de 5.

Garra de Ferro estreia nos cinemas brasileiros no dia 15 de fevereiro de 2024.

O Trailer Oficial de GARRA DE FERRO (THE IRON CLAW) | 2023 – Dir. Sean Durkin.

Um comentário sobre “Crítica: Garra de Ferro (The Iron Claw) | 2023

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