Crítica: Finestkind (2023)

No início deste Finestkind (EUA, 2023, 126 min), o pescador iniciante Charlie (Toby Wallace), pergunta por que os outros caras da equipe continuam repetindo a palavra “finestkind” o tempo todo. Sua utilização parece indeterminável, uma vez que a palavra continua sendo usada em diferentes contextos, tornando difícil cravar qual seu significado literal. Até o barco que pertence ao experiente Ray (Tommy Lee Jones), é chamado ‘FinestKind’. Em um dado momento, nós ficamos sabendo que a palavra pode ser o que você quiser que seja, que ela pode mudar de sentença para sentença, o que importa é a inflexão e intenção. Finestkind, então, é o título perfeito para este filme, que se estabelece como uma esquecível e desorganizada mistura de diferentes ideias que nunca se encaixam, repleta de astros que mereciam coisa melhor.

Charlie abandonou recentemente a faculdade, e ainda que seu pai (Tim Daly), esteja determinado a fazer o filho retornar aos estudos e se tornar um advogado, Charlie quer seguir os passos de seu irmão, Tom (Ben Foster), e se tornar um pescador de alto-mar. Mas em sua primeira viagem, o barco de Charlie e de seu irmão e equipe explode, deixando-os à deriva. Alguém pensaria que Charlie desistiria da vida de pescador, mas pelo contrário. O episódio deixa o jovem ainda mais determinado a seguir os passos do irmão.

Clayne Crawford, Jenna Ortega e Toby Wallace em FINESTKIND (2023)

A perda do barco coloca o time de pescadores em uma absurda jornada que inclui mais uma viagem malfadada (talvez Charlie seja pé-frio?), um ridículo confronto com um grupo de traficantes, e uma das mais estranhas escolhas de elenco que já existiu, uma vez que a ‘Wandinha’ Jenna Ortega interpreta Mabel, uma traficante de bom coração que inicia um relacionamento limpo de drogas com Charlie. À medida que os problemas aumentam para a equipe de pescadores, suas más escolhas tornam Finestkind um filme risível, enquanto o destino dos personagens centrais segue indo de mal a pior.

Mesmo que Finestkind seja melodramático e clichê desde o começo, há um certo charme em assistir estes dois irmãos se aproximarem um do outro através do difícl trabalho que escolheram, e também através da camaradagem que surge entre os membros da equipe. Mas o roteiro do diretor e roteirista Brian Helgeland (duas vezes indicado ao Oscar por obras-primas como Los Angeles: Cidade Proibida e Sobre Meninos e Lobos), continua encontrando maneiras de fazer a história tomar um rumo cada vez mais improvável. Enquanto que Helgeland quer que seu público confie em Tom como o capitão da equipe, é difícil entender porque ele ainda está no comando, já que ele afunda o barco, arrisca fazer com que todos percam seus empregos com uma jornada inútil rumo à águas restritas, e ainda por cima envolve a todos com um grupo de traficantes de heroína no terceiro ato. É como se Helgeland continuasse tentando fazer o time de pescadores afundar cada vez mais em seus próprios erros, sem se preocupar se a coisa toda faz o mínimo sentido.

Helgeland também lota seu Finestkind de diálogos que deveriam ser profundos, mas que acabam soando excessivamente tolos. Frases como a já cansada “você vive, você morre. O que você faz entre um e outro é o que importa”, ou a frase digna de meme onde Tommy Lee Jones proclama “I’m your fucking daddy”, são realmente de lascar. Tais momentos são apresentados como frases envolvidas dentro de um contexto mais profundo, mas na verdade elas são o que Finestkind tem de mais próximo de um show de comédia stand-up involuntário.

Ainda que Finestkind possua um forte elenco, todos são completamente desperdiçados ou terrivelmente mal escalados. Toby Wallace possui uma qualidade meio “Golden Retriever” em sua figura, mas nunca há uma boa razão para se importar com sua jornada, e muito menos para explicar porque ele quer tanto abandonar a faculdade para aparentemente ser um mau presságio para diferentes embarcações. Foster talvez seja um dos atores mais subestimados de nossa geração, mas não há nada aqui para ele mostrar seus talentos. Apesar de sentirmos que o personagem guarda sentimentos mais profundos do que aparenta, ele é na maioria das vezes apenas o taciturno e reservado capitão que parece fazer sempre a pior escolha possível. Similarmente, a lindíssima Jenna Ortega também não tem a chance de demonstrar seus talentos, já que Finestkind a transforma em nada mais do que apenas a namorada do protagonista, que por sua vez ainda é uma traficante nada convincente.

O grande Tommy Lee Jones é o único ator que consegue, de certa forma, sair do desastre ileso, e especialmente quando a merda começa a realmente bater no ventilador, é ele quem carrega os momentos mais cativantes do filme. Um destes momentos coloca Jones contra o traficante Pete (Clayne Crawford), e assistir a esta dinâmica é uma das poucas partes realmente envolventes de todo o filme. Jones ainda recebe algumas escolhas narrativas infelizes e diálogos questionáveis, mas sua mera presença já é suficiente para compensar vários dos problemas da produção.

De qualquer forma, a razão pela qual estes personagens e o próprio Finestkind não funcionam é por causa das fraquezas do roteiro. As motivações de tais personagens são puro nonsense, e a degradação da narrativa é sentida a cada instante. O elenco entrega o seu melhor para fazer o drama funcionar, mas todos estão presos em uma história que simplesmente não os ajuda. Um elenco forte como este deveria ter um roteiro digno de seu talento, e Finestkind simplesmente não entrega.

É também uma pena que Finestkind não priorize a relação entre os irmãos Charlie e Tom, o que seria o verdadeiro coração e alma do filme, mas tal ideia é completamente perdida ao longo do caminho. Assistir aos membros da equipe de pescadores conhecendo um ao outro, enquanto Charlie aprende sobre a vida no mar – ao mesmo tempo em que encontra conexões que ele não encontrava na faculdade – consistem nos momentos mais agradáveis da produção. Porém, a equipe eventualmente se torna pouco mais do que apenas diferentes fraquezas que podem ser exploradas pela narrativa, e a conexão entre os irmãos nunca possui o peso que provavelmente deveria ter, especialmente quando o time começa a navegar por águas turbulentas.

Finestkind possui todas as peças certas para construir um interessante drama, mas Helgeland não consegue juntá-las de uma maneira que não seja exagerada, forçada, ou apenas tola. Até o score do grande Carter Burwell é piegas e irritante, destacando as batidas dramáticas de maneira estranha, nada convincente. Finestkind é uma mistura ingrata de ideias, repleta de pobres escolhas que assim como algumas das embarcações do filme, simplesmente naufraga.

Avaliação: 2 de 5.

Finestkind estreia no catálogo do Paramount Plus no dia 15 de dezembro.

O Trailer Oficial de FINESTKIND (2023) – Dir. Brian Helgeland

2 comentários sobre “Crítica: Finestkind (2023)

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