Crítica: Bem-Vindo a Nova York (Welcome to New York) | 2014

Não se deixe enganar pelos 15 minutos iniciais deste Bem-Vindo a Nova York (Welcome to New York, EUA/FRA, 2014, 125 min), que mais parecem saídos de um filme pornô. A polêmica empreitada do especialista em cinema marginal, Abel Ferrara (Vício Frenético, O Rei da Noite), até começa bem ao estilo do diretor, sem um roteiro aparente, atuações canastronas e muito sexo sem qualquer tipo de pudor. Mas bastam alguns minutos adentro pela história, e o filme acaba por se revelar uma obra classuda, que discute de maneira oportuna as relações entre o poder e a moral, e que ganha demais com as presenças monstruosas da dupla Gérard Depardieu e Jacqueline Bisset.

O filme é uma livre representação dos eventos que antecederam e que se seguiram após o escândalo envolvendo o diretor do FMI, o Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, que supostamente teria abusado de uma camareira do hotel de luxo onde estava hospedado em Nova York. Ferrara faz questão de deixar bem claro que tal ato não foi isolado, já que Bem-Vindo a Nova York é na verdade um estudo sobre a conduta absolutamente imoral do político, que acumulava casos semelhantes em seu histórico, para a ira de sua esposa. Aqui, sob outro nome, o personagem é interpretado de maneira destemida e sem escrúpulos por Depardieu, que possivelmente entrega uma das melhores performances de sua carreira, participando inclusive de algumas sequências de sexo bem pesadas e com muita nudez.

Gérard Depardieu e Jacqueline Bisset em BEM-VINDO A NOVA YORK (WELCOME TO NEW YORK) | 2014

Já Jacqueline Bisset muda completamente a cara do filme assim que entra em cena, esbanjando classe no papel da esposa do político, que tenta a todo custo preservar a imagem do casal em meio à toda a sujeira e sordidez que surge de todos os lados envolvendo seu marido. As duas longas sequências de diálogo envolvendo os personagens centrais são um verdadeiro show de Depardieu e Bisset, onde a dupla visivelmente improvisa diversas falas, oscilando entre o conflito aberto e o amor velado que ainda existe entre os dois protagonistas. É um verdadeiro show da dupla de intérpretes, que consegue fazer com que apenas estas duas cenas já façam o tempo investido na sessão valer a pena.

A estilosa fotografia de Ken Kelsch, colaborador habitual de Ferrara, é um show a parte, dando uma cara completamente de NY para o filme, e ajuda a fazer de Bem-Vindo a Nova York um grande trabalho do diretor, um cineasta pelo qual eu não morro de amores. Em 2014, tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente como seu tradutor durante a prémiere do filme aqui no Brasil, no cinema Reserva Cultural, em São Paulo. O diretor se mostrou terrivelmente antipático, totalmente o contrário da belíssima Jacqueline Bisset, que foi atenciosa e educada durante todo o evento. De qualquer forma, em Bem-Vindo a Nova York, Ferrara imprime sua marca nervosa e sem concessões, em uma história que pedia um diretor de seu calibre pungente. E é claro que ter um Gérard Depardieu e uma Jacqueline Bisset completamente inspirados e à vontade, ajuda no resultado de qualquer filme.

Avaliação: 3.5 de 5.

Até a publicação deste texto, Bem-Vindo a Nova York está disponível no catálogo do serviço de streaming Imovision.

O Trailer Oficial de BEM-VINDO A NOVA YORK (WELCOME TO NEW YORK) | 2014 – Dir. Abel Ferrara

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