Crítica: O Senhor do Caos (Lord of Misrule) | 2023

De volta ao subgênero do horror gótico também conhecido como “folk horror”, temos este conto que funciona como um parente espiritual de filmes mais conhecidos e reconhecidos do gênero como o clássico O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973), e os contemporâneos A Bruxa (The Witch, 2015) e Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (Midsommar, 2018).

O Senhor do Caos (Lord of Misrule, UK/IRL, 104 min) se passa em um antigo e singular vilarejo britânico — alguém aí está surpreso? — e conta a história da nova vigária (sim, porque hoje em dia até os padres precisam ser substituídos por mulheres) da igreja local, sua filha de dez anos, e os alarmantes rituais relacionados ao “festival da colheita” anual, que faz a alegria dos residentes (e onde sempre acontece alguma desgraça).

Tuppence Middleton e Evie Templeton em O SENHOR DO CAOS (LORD OF MISRULE) | 2023

O mais recente filme do diretor William Brent Bell (O Boneco do Mal, Órfã 2: A Origem), transcorre de maneira até que esperta por aquele velho caminho onde mitos e rituais se entrelaçam, em uma história que coloca a figura religiosa contra o paganismo da Era Dourada da Bruxaria, em uma guerra pelas almas de um lugar que se associou com o Lado das Trevas provavelmente logo depois que Shakespeare bateu as botas.

Tuppence Middleton (O Jogo da Imitação, Black Mirror: White Bear), estrela como Rachel Holland, que está há poucos meses na função de vigária do condado de Burrow, tentando se adaptar à sua nova vida, mas ao mesmo tempo um tanto receosa deste tal Festival da Colheita que está chegando. Não, ela não irá aparecer no evento em seus trajes religiosos, mas ela e seu marido, Henry (Matt Stokoe), estarão lá de qualquer forma. A pequena filha do casal, a adorável Grace (Evie Templeton), foi nomeada o “Anjo da Colheita, e ela simplesmente adora usar as asas que vem com o título. Mas Grace, ainda jovem o suficiente para se referir aos trajes cléricos de sua mãe como “fantasias”, anda vendo estranhas figuras de capa com cabeça de animais. Ah! E ela também começou a torturar seu coelhinho de pelúcia. O que nunca é um bom sinal.

O festival, com seus assustadores personagens medievais e cantos sinistros, deixa Rachel bastante desconfortável. Mas os problemas realmente começam quando a pequena Grace desaparece, atraída para a floresta por uma sinistra figura fantasiada. A maneira desleixada com que os policiais tratam o desaparecimento, os arrepiantes avisos que o recluso local (o ótimo Ralph Ineson, sinistro feito o cão), que parece saber tudo o que está acontecendo, e que explode em gritos como “NÃO havera ajuda de SEU Deus” em plena igreja, colocam Rachel em modo de pânico, enquanto que seu marido repete a frase padrão “Vamos deixar isso para a polícia resolver”. Os outros locais? Bem, eles variam entre preocupados e suspeitos, como sempre acontece em filmes sobre pequenos vilarejos que realizam festivais em homenagem ao capeta.

O Senhor do Caos é derivativo, o que dá ao filme aquela boa e velha autenticidade comum ao subgênero do folk horror. Praticamente todos os filmes da vertente abordam os rituais coletivos de diferentes culturas, aqueles que existiam antes das religiões mais “organizadas” afogarem (e queimarem) os “modos antigos”. O filme é mais sinistro do que propriamente assustador, mais interessado em detalhar os encantamentos e talismãs desta “fé que protege a colheita/vila”. Mas o perigo é palpável o suficiente para que o público compre a ideia.

E o fantástico Ralph Ineson (do citado A Bruxa, entre outros filmes semelhantes), é O Cara para interpretar aquele tipo de personagem que pode ser tanto o ameaçador vilão, quanto o assustador amigo, trajando fantasias ou não, e que fielmente segue ou meramente explica um mundo ainda governado por um “Senhor do Caos”.

Avaliação: 2.5 de 5.

O Senhor do Caos estreia nos cinemas brasileiros no dia 28 de dezembro.

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