Um dos diretores-referência do horror espanhol é Paco Plaza ([Rec], A Avó, Verônica: Jogo Sobrenatural), e ele está de volta à Netflix com este spin-off de seu citado Verônica, que além de enriquecer a obra eficiente original, ainda conta uma nova história sobre a carismática freira cega presente na obra citada. Com seu Irmã Morte (Hermana Muerte/Sister Death, ESP, 2023, 90 min), Paco Plaza mais uma vez consolida seu talento dentro do gênero, dirigindo uma obra repleta de matizes que merecem ser descobertas.

Em pleno período pós-guerra, Irmã Narcisa (a estreante Aria Bedmar), uma jovem noviça tocada pela divindade e com poderes paranormais, começa a trabalhar como professora em um antigo convento. Não demora muito para ela perceber que o lugar não transmite a paz e a calma que deveria, já que os eventos sobrenaturais dos quais ela se torna testemunha, faz com que ela perceba que algo muito perigoso está acontecendo no local.

A dupla Paco Plaza e Jaume Balagueró ([Rec], Enquanto Você Dorme, Venus) alcançaram o estrelato com o citado [Rec], levando o horror espanhol rumo ao sucesso mundial. Romper tal barreira é algo desejado por todos, mas manter-se no topo quase sempre revela-se uma missão ainda mais difícil, principalmente quando nos referimos à dificuldade criativa que tal êxito costuma acarretar no futuro. Quase sempre é bastante difícil manter o mesmo nível, já que um êxito do tamanho de um [Rec], por exemplo, é como uma sombra da qual muitos diretores que tentaram a transposição internacional não conseguiram escapar. No caso de Plaza, pode-se dizer que foi necessária praticamente uma década para que ele se libertasse de sua obra magna. Porém, o diretor o fez de maneira madura, através da experiência, evoluindo e se refinando em seu ofício.

Aqui, Plaza constrói uma obra que assusta com profundidade, muito além de meros jump scares. Se com Verônica o diretor mirava em um público mais genérico, e com A Avó ele começava a mostrar seu novo cinema, com Irmã Morte ele pega seu novo cinema e o consolida. Seu filme já tem início de maneira excepcional, com uma exuberante fotografia em formato 4:3 em preto e branco a cargo de Daniel Fernández Abelló, que acompanha um grupo de habitantes de uma pequena cidade, todos de cruz em punho e perfeitamente caracterizados, pedindo a bênção de uma menina que parece ter sido tocada pela mão divina.

Trata-se de uma introdução magnética que dá início a uma obra que não aborrece em nenhum momento, mas que possui algumas irregularidades em sua narrativa. Pelo menos até sua conclusão atemporal, que traz todas as respostas para as questões que nos haviam sido propostas. Mesmo sem ser um exemplo de originalidade, o roteiro do prolífero roteirista Jorge Guerricaechevarría (O Dia da Besta, Perdita Durango, Encurralados em Veneza), colaborador habitual do cineasta Álex de la Iglesia, funciona graças à maneira madura com que ignora os clichês deste tipo de filme, e também pela forma repleta de suspense com que trata questões que normalmente seriam resolvidas na base do estardalhaço.

O filme é protagonizado pela jovem Aria Bedmar, que apesar de fazer sua estreia, se comporta como uma veterana em cena. As crianças também são ótimas, especialmente as irmãs Sara e Olimpia Roch, que se destacam de forma surpreendente nos momentos mais decisivos do filme. É curiosa também a utilização dos efeitos de som utilizados como elementos amenizadores ou agitadores dentro da produção. Tal quesito técnico é eficiente ao desestabilizar o espectador, assim como aconteceu no pós-créditos e na conclusão do citado Verônica.

Resumindo, Irmã Morte é um trabalho consolidador dentro da carreira do diretor Paco Plaza, que funciona como uma sólida adição ao subgênero do horror religioso, e que nos faz aguardar ansiosamente pelo próximo trabalho do cineasta.

Irmã Morte estreia no catálogo da Netflix no dia 27 de outubro.