Crítica: V/H/S/85 (2023)

Confesso para vocês que estou adorando esta nova tradição de um novo V/H/S a cada ano. Após um hiato de oito anos que foi de 2014 (ano de lançamento do fraco V/H/S Viral) até 2021, com a chegada do sólido V/H/S/94, a franquia entregou ainda o divertido V/H/S/99 no ano passado. Agora, o exemplar da vez é este V/H/S/85 (EUA, 2023, 110 min), que reune mais uma vez um grupo de talentosos cineastas que oferecem uma coletânea de histórias inventivas, divertidas e aterrorizantes, que situam este capítulo como um dos melhores de toda a franquia.

O primeiro segmento é “No Wake”, do diretor Michael P. Nelson (Pânico na Floresta: A Fundação), que consiste em uma interessante história que é dividida em dois diferentes segmentos. O conto tem início com um grupo de jovens em uma viagem de acampamento. O destino deles é um lago numa região isolada, e quando eles chegam lá, um deles encontra vários antigos avisos de madeira na floresta, todos já corroídos pelo tempo. Eles provavelmente foram colocados lá em um dado momento do passado, mas agora se encontram esquecidos pelo chão. Alguns deles são tão antigos, que se tornaram indecifráveis, mas a ideia parece ser “Mantenham-se Longe”, “Proibido Nadar”, etc.

V/H/S/85 (2023)

Porém, como todo jovem excitado e cretino, nosso protagonista ignora os avisos e o grupo vai até o lago para curtir. De repente, um disparo é ouvido. Eles levam um tempo para perceber que estão sob ataque, e logo, eles se encontram escondidos em um barco, tentando se proteger contra quem quer que seja que os está atacando das margens.

A história vai um pouco além (e adentra o território dos spoilers, o que eu vou evitar aqui como sempre) antes de se dividir e ser finalizada mais à frente na antologia. E quando ela volta, ela volta arrebentando. É uma maneira divertida de contar esta história em particular, sem falar que tal divisão contribui para o ritmo do filme como um todo. O espectador retorna a uma história em andamento e vê como tudo se encaixa através de um ângulo ligeiramente diferente.

Gigi Saul Guerrero (Satanic Hispanics) dirige “God of Death” (Deus da Morte, na tradução livre), e pensem em um segmento divertido! A história tem início dentro de um estúdio de notícias enquanto a âncora do noticiário faz os últimos retoques na maquiagem. Quando o programa tem início, o estúdio começa a chacoalhar. A equipe tenta se acalmar, mas o terremoto se intensifica a ponto de derrubar o teto, que cai sobre a apresentadora. Logo, as equipes de resgate chegam ao local e tentam levar os poucos sobreviventes para um lugar seguro.

A rota de fuga através dos destroços do prédio é como atravessar um aterrorizante castelo do terror em um parque de diversões do capeta. A estrutura do prédio não é mais confiável, então os corredores são tortos, as portas estão bloqueadas e eles precisam suar a camisa para encontrar alguma passagem que possam utilizar. Eventualmente, o caminho os leva ao subsolo, onde eles constatam que a causa do terremoto não foi a Mãe Natureza em fúria, mas sim o renascimento de um antigo Deus indígena.

O segmento de Guerrero é ótimo principalmente pela maneira com que equilibra a excitação de assistir aos sobreviventes tentando encontrar a saída dos destroços, com os elementos sobrenaturais que surgem no final da história. Tem muita coisa acontecendo aqui, mas o espectador nunca se entedia, e a diretora faz um excelente trabalho ao costurar tais elementos na narrativa.

Freddy Rodriguez e James Ransone em V/H/S/85 (2023)

A cineasta Natasha Kermani (dos indies Lucky e Imitation Girl) dirige “TKNOGD”, segmento que foca em uma artista performática entregando seu mais recente trabalho para um pequeno público. Ela inicia a performance se dirigindo aos membros da plateia e duscutindo as várias faces e encarnações de Deus, antes de seguir para sua tese: em nosso mundo moderno, nós matamos o Deus antigo e o substituímos por um novo Deus – o Deus da tecnologia. Através de sua performance, ela procura explorar nosso relacionamento com esta nova divindade. Mas o que ela realmente faz, é ajudar a criá-lo, e trazê-lo para seu espaço performático.

TKNOGD se estabelece com um ótimo segmento principalmente pela maneira com que incorpora uma compreensão oitentista e bastante rudimentar do espaço virtual que nós agora confortavelmente habitamos online. Mas 40 anos atrás, quando as coisas que temos hoje mais pareciam coisa de ficção-científica do que realidade, o entendimento do que espaço virtual poderia significar era significativamente diferente. Kermani se apoia no material de uma forma que é tanto criativa, quanto realmente engraçada.

“Dreamkill” é o nome do segmento dos frequentes colaboradores Scott Derrickson e C. Robert Cargill (A Entidade, O Telefone Preto), e também provavelmente o meu preferido de toda a antologia. O episódio consegue, mesmo com sua curta duração, se estabelecer como um conto de mistério e também como um apavorante conto sobrenatural. Uma série de fitas VHS começam a aparecer em uma delegacia, cada uma delas mostrando um violento assassinato. O lance é que tais assassinatos ainda não aconteceram; eles se passam um ou dois dias depois, deixando a polícia perplexa. Quando a origem dos vídeos finalmente vem à luz, o time de investigadores (interpretados com perfeição por Freddy Rodriguez e James Ransone), precisam equilibrar sua mentalidade realista com as forças sobrenaturais que eles agora estão enfrentando.

A história de Dreamkill já é ótima, mas Derrickson também, incorpora (além da óbvia grife de seu nome) várias escolhas visuais e sonoras que amarram tudo de maneira arrepiante. Os vídeos contendo os assassinatos são perturbadores, mas existem alguns floreios visuais aqui e ali que fazem a filmagem parecer particularmente sinistra. Tais escolhas estéticas e técnicas remetem à linguagem visual utilizada por Derrickson no citado A Entidade, com efeito semelhante.

“Total Copy” é o segmento dirigido pelo outro grande nome da produção, David Bruckner (O Ritual, A Casa Sombria, Hellraiser), e o trabalho de Bruckner funciona como o tecido conectivo do filme; a amarração entre todos os contos. Porém, Total Copy funciona menos como uma amarração, e mais como uma história contada em múltiplas partes, em que um grupo de cientistas se depara com uma forma de vida desconhecida. Uma espécie capaz de crescer, aprender, e o mais assustador, se replicar. Os cientistas mantêm a coisa confinada ao laboratório, e o líder do projeto está obcecado em continuar o crescimento e o desenvolvimento da espécie, mesmo sem saber nada sobre ela. Ele chamaria a si mesmo de “determinado” e “desbravador”, enquanto seus colegas provavelmente o chamariam de “obcecado” e “antiético”. De qualquer maneira, trata-se de um segmento divertido com uma conclusão sensacional.

Assim como a última adição da franquia, V/H/S/99, este V/H/S/85 também utiliza bastante o período no qual é ambientado, e o incorpora à narrativa de maneira única e divertida. Todos os segmentos são ambientados em 1985, e mais do que apenas no design de produção. Uma das coisas mais divertidas em torno disso é o fato de que os segmentos realmente parecem como se tivessem sido arrancados de fitas-cassetes dos anos 80. Não são só as imagens envelhecidas; as cores, a iluminação, o figurino… tudo soa autêntico.

Como acontece em todas as antologias (principalmente na franquia V/H/S), alguns segmentos funcionam melhor do que outros, dependendo de quem os assiste. Mas honestamente, V/H/S/85 reune um realmente sólido grupo de histórias no geral. Não existe um link que possa ser considerado fraco, e realmente fica a impressão de que os cineastas agregaram o que têm de melhor neste exemplar da franquia. Todos os segmentos são espertos, criativos e divertidos. Se você tem apreciado esta última onda de antologias de horror sob o selo V/H/S, prepare-se para se divertir e se assustar à beça. V/H/S/85 é a prova de que a franquia está muito longe de terminar, e depois do ótimo resultado final do filme, confesso que me encontro ansioso por um possível novo exemplar no Halloween do ano que vem.

Avaliação: 3.5 de 5.

V/H/S/85 estará disponível para download na próxima sexta-feira, dia 06 de outubro.

O Trailer Oficial de V/H/S/85 (2023)

Um comentário sobre “Crítica: V/H/S/85 (2023)

  1. Pingback: Crítica: Nefarious (2023) | Os Filmes do Kacic

Deixe um comentário