Crítica: Buzzard (2014)

Mais uma das produções que tive o prazer de acompanhar no Indie Festival 2014, realizado nos estados de Minas Gerais e São Paulo, este inusitado Buzzard (EUA, 2014, 97 min.) foi uma das produções que mais apreciei. Ao lado do excelente Queda Livre, do diretor húngaro György Pálfi (que ganhou uma retrospectiva de sua filmografia aqui mesmo no Filmes do Kacic), Buzzard se estabelece como um dos retratos mais dilacerantes sobre até onde pode chegar a alienação em um indivíduo.

No filme, o indivíduo em questão é o jovem Marty Jackitansky (o esquisitão Joshua Burge, de O Regresso), um funcionário temporário de um banco cuja vida consiste em jogar videogames, ler histórias em quadrinhos, brincar com uma luva do personagem cinematográfico Freddy Krueger, e aplicar pequenos golpes, de onde ele tira boa parte do dinheiro que o sustenta. Porém, quando Marty vai longe demais em um desses golpes, ele foge para o porão da casa de seu único amigo (na verdade mais um colega de trabalho), e posteriormente embarca para Detroit, onde os efeitos devastadores de sua alienação serão revelados da pior maneira possível.

Joshua Burge em BUZZARD (2014) – Dir. Joel Potrykus

Escrito e dirigido por Joel Potrykus (que também interpreta Derek, o único amigo do protagonista), Buzzard é na verdade o capítulo final de uma trilogia do diretor, apelidada de “Trilogia Animal”, já que os dois títulos posteriores consistem em Coyote (2010) e Ape “Macaco”, de 2012, todos protagonizados pelo bom Joshua Burge, que em alguns momentos parece um Benedict Cumberbatch mais enfeiado. A cena em que seu personagem, o Buzzard “urubu” do título, devora sem pressa um enorme prato de macarrão por exemplo, engloba bem o propósito do filme e de seu bizarro personagem, além de mostrar o inusitado talento de Burge.

É difícil “sacar” o protagonista Marty logo de cara. Trata-se de um indivíduo que transita entre os estereótipos do nerd e do espertalhão, mas que em nenhum momento se encaixa em alguma das duas categorias. O próprio propósito de Buzzard em minha opinião é exatamente esse: a criação de um personagem que não sabe seu lugar no mundo. Marty não tem amigos (com exceção do bobão Derek, ele próprio um retrato de um tipo diferente de alienação), seu contato com a família é pífio e superficial, e sua idéia de diversão é venerar ícones do cinema e dos games dos anos 80 e 90, como se estivesse parado no tempo. Porém, quando Marty é colocado para fora de sua zona de conforto, é que vemos o estrago que tal existência sem propósito causou em sua cabeça e principalmente em seu caráter, que permanece em um estado de total desconstrução e alienação.

A produção faz questão de salientar esta pesada e mórbida transformação pela qual o personagem passa, já que o filme começa como uma comédia até certo ponto leve, mas que toma um rumo dark e até triste, em seu terço final. A própria estética desleixada do filme contribui para a sensação incômoda que deixa no público após seu encerramento.

Buzzard não é nenhuma obra-prima, ou mesmo uma produção definidora sobre a juventude perdida. Mas é um filme importante e muito bem executado, que transmite com êxito sua mensagem dura e crua, além de criar um personagem que de certa forma, acaba sendo inesquecível. Você de fato não vai esquecer Marty Jackitansky tão cedo.

Avaliação: 4 de 5.

Buzzard esteve disponível no sistema de streaming Mubi, mas enquanto não retorna ao catálogo, pode ser encontrado através de plataformas informas de download.

O Trailer Oficial de BUZZARD (2014) – Dir. Joel Potrykus

2 comentários sobre “Crítica: Buzzard (2014)

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