O fã de horror simplesmente adora o universo Invocação do Mal. Desde 2013, quando o primeiro filme da franquia foi lançado, os admiradores do universo compartilhado idealizado por James Wan aguardam ansiosamente pelo próximo e aterrorizante capítulo. Entre as sequências do filme original, Annabelles e Choronas, um dos personagens mais aterrorizantes e amados pelos fãs é o demônio Valak, carinhosamente conhecido como A Freira, que após dar as caras pela primeira vez em Invocação do Mal 2, ganhou seu próprio filme em 2018. E apesar do apelo visual do personagem mostrar-se bastante forte, o filme dirigido por Corin Hardy mostrou-se uma decepção.
Agora, cinco anos depois, o diretor Michael Chaves (do citado A Maldição da Chorona e Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio), retorna ao universo criado por Wan com este A Freira 2 (The Nun II, EUA, 2023, 110 min.), que surpreendentemente, não só é disparado o melhor filme do diretor, como também é infinitamente superior ao filme anterior, além de se colocar como um dos melhores exemplares do universo Invocação do Mal como um todo.
Nesta sequência, que se passa após os eventos do primeiro filme, uma força maligna poderosa assombra e causa danos sobrenaturais a todos que se envolvem com ela de alguma forma. Trata-se da mesma força maligna por trás dos acontecimentos do filme original, e agora, o mal começa a se espalhar por uma cidade da França, em 1956. Nesta mesma cidade, um padre foi violentamente assassinado, e a Irmã Irene (Taissa Farmiga), começa a investigar o assassinato. Durante o curso da investigação, Irene descobre que um demônio está por trás do crime — o mesmo demônio que a aterrorizou em forma de freira há alguns anos atrás — Valak (Bonnie Aarons), a quem ela mais uma vez precisará confrontar.
O roteiro do filme, a cargo de Ian Goldberg e Richard Naing (A Autópsia) e Akela Cooper (Maligno), explora de maneira oportuna a profundidade em torno da criatura que dá nome ao filme, e tal exploração faz uma interessante ponte com a maneira com que Ed e Lorraine Warren eventualmente enfrentam o ser maligno na franquia Invocação do Mal. No final do primeiro filme da Freira, é revelado que Maurice, também conhecido como “Frenchie”, foi possuído pelo demônio Valak. O exorcismo de Maurice é mostrado no vídeo exibido nos seminários de Ed e Lorraine vinte anos depois. Trata-se do mesmo exorcismo em que Lorraine vivencia as terríveis visões da morte de Ed, e tal relação entre as duas histórias é bem amarrada aqui.
Como comentei, A Freira 2 é infinitamente melhor do que o primeiro filme. É muito mais assustador e intenso. Enquanto que o primeiro é um tanto carregado demais, tanto na atmosfera quanto no folclore, esta sequência agrega o elemento da diversão à empreitada, e o público pode finalmente se divertir com sua aterrorizante vilã. O elenco é sólido e a atmosfera visual é sombria e sinistra. Sem exageros, o filme se estabelece como uma masterclass de som, iluminação, perspectiva e ritmo, onde o espectador acompanha tudo grudado na cadeira. Isso quando não está saltando da mesma a cada aparição de Valak.
Além do roteiro escrito a seis mãos ser uma tremenda melhoria em relação ao primeiro filme, parece que o próprio diretor Michael Chaves se refinou em seu ofício nos últimos anos. Seu trabalho é mais amplo, em escopo e qualidade, o que alinhado à boa história, se transforma em um produto muito mais assustador. Uma tendência interessante também é o fato de que no universo de Invocação do Mal, as sequências quase sempre são melhores que os originais. Invocação 2 é melhor que o primeiro; tanto Annabelle 2 e 3 são melhores que o Annabelle original, e agora, posso afirmar com certeza que o mesmo vale para os filmes da Freira.
Os personagens também são tratados com respeito e por consequência, todos são bem interpretados. Farmiga está visivelmente mais à vontade no papel da Irmã Irene, que finalmente ganha força e se torna uma força por si só. E é sempre um prazer mórbido observar Bonnie Aaarons sob a pesada maquiagem da Freira endemoniada. Resumindo, A Freira 2 é uma sequência de horror super sólida, que apesar de ainda carregar um pouco demais no folclore religioso, é repleto de diversão e sustos. O filme possui duas boas histórias que se entrelaçam em um terceiro ato fantástico, que perde só um pouquinho do foco em seus momentos finais. Porém, a cena extra no meio dos créditos faz tudo valer a pena. Sério, não saiam do cinema antes dos créditos finais.
A Freira 2 estreia nos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira, dia 07 de setembro.
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