Novo filme do diretor Carter Smith (do recente Engolidos), este O Passageiro: Carona Aterrorizante (The Passenger, EUA, 2023, 94 min.), é um thriller filmado de maneira exímia, e que também funciona como um íntimo estudo de personagem. O onipresente Kyle Gallner (Sorria, Mother, May I?) e Johnny Berchtold (Procura-se Gonker) encabeçam esta perturbadora história sobre uma intensa e brutal jornada por uma moribunda cidadezinha americana. O roteirista Jack Stanley (do thriller Lou), recheia seus dois protagonistas de camadas, onde traumas e segredos do passado e complexas personalidades, desenvolvem uma narrativa que vai se tornando cada vez mais trágica. O sentimento de compaixão por um atirador certamente não é algo fácil de se obter, porém o roteiro de O Passageiro: Carona Aterrorizante de alguma forma consegue exatamente isso.

Randy Bradley (Berchtold), vive sua vida à distância, receoso de se conectar com qualquer coisa ou qualquer pessoa. Na cena de abertura do filme, Randy desperta de um terrível pesadelo. Ele ainda é assombrado por um traumático evento que aconteceu quando ele estava no segundo ano, e como resultado, Randy não consegue externar reações humanas normais em seu dia-a-dia. Em seu trabalho numa lanchonete de fast food, tanto o gerente quanto seus colegas de trabalho mal sabem seu nome, e Randy nem se dá ao trabalho de tentar mudar isso. Berchtold interpreta Randy com pouca confiança e um discurso silencioso pouco mais alto que um sussurro. Mesmo quando o gerente da lanchonete oferece a ele um cargo melhor em uma nova filial, Randy mal reage.

Até que o bullying no trabalho vai longe demais; um dos colegas de Randy, Chris (Matthew Laureano) e sua namorada (Jordan Sherley), forçam o rapaz a comer e engolir um hamburguer velho e fedido. A única outra pessoa no local, Benson (Gallner), surta completamente. Ele sai da loja, vai até o seu carro, pega uma espingarda no porta-malas, e dá início ao massacre. Enquanto Benson aniquila seus colegas de trabalho, Randy assiste a tudo em choque. Pouco depois, Benson manda Randy ajudá-lo a limpar a bagunça que ele deixou para trás. Com os corpos bem escondidos no freezer, o palco está pronto para uma intensa road trip entre os dois homens.

O Passageiro toma uma abordagem única aqui. Enquanto Randy é o foco central da história, a performance de Gallner como Benson possui muita coisa sob a superfície. Benson percebe a inteligência de Randy, mas o enxerga como um ser patético, e talvez caiba a ele transformar o rapaz. Algumas paradas em lanchonetes, shoppings, escolas e casas vibram com energia, graças à química entre Gallner e Berchtold. Randy, virgem aos 21 anos de idade, parece deslocado quando mais tarde, surge trajado com um longo sobretudo, roupas folgadas e uma camiseta da banda Motörhead; em um casaco de pele amarelo-mostarda ao estilo grunge, Benson tem a tendência de roubar o show, com sua personalidade falante e agressiva. Uma improvável forma de camaradagem se forma entre os dois, apesar da constante presença de uma arma carregada entre eles.

O Passageiro é apenas o trabalho mais recente da filmografia do diretor Carter Smith, que é pontuada por filmes excitantes como As Ruínas, o citado Engolidos, e Jamie Marks Está Morto. Smith continua a criar seu próprio nicho, na boa companhia de cineastas contemporâneos como Gregg Araki, entre outros. O Passageiro: Carona Aterrorizante fornece um excelente veículo para Berchtold e Gallner voarem baixo e demonstrarem seu talento dramático. Ao mesmo tempo, o filme de Smith contém arrepiantes mensagens sobre os efeitos à longo-prazo do trauma físico e emocional. Talvez a única forma de superar nossos traumas seja reconhecer que eles realmente aconteceram. A mudança não acontece da noite para o dia, mas reprimir sentimentos ao invés de abraçá-los, nos leva por um caminho de auto-destruição difícil de ser evitado.

[UPDATE]: O Passageiro: Carona Aterrorizante está disponível no catálogo do Prime Video.