Crítica: Mother, May I? (2023)

A maioria dos filmes sobre assombrações giram em torno de uma única hipótese: o que está enterrado irá voltar à superfície mais uma vez. Mother, May I? (EUA, 2023, 99 min.), do diretor e roteirista Laurence Vannicelli, ainda que não seja uma história de fantasma convencional, não é exceção à regra, e explora questões reprimidas envolvendo abandono através de um possível caso de possessão.

O filme acompanha Emmett (Kyle Gallner, de Sorria), um jovem que vive afastado de sua mãe desde a infância, apesar de que, conforme viremos a descobrir, talvez ele não fosse tão jovem quanto ele diz que era quando o abandono aconteceu. Quando sua mãe morre e deixa para ele uma grande e isolada casa no interior de Nova York, Emmett viaja para o local acompanhado de sua noiva, Anya (Holland Roden), uma poeta que está lutando para ter seu trabalho reconhecido.

Kyle Gallner e Holland Roden em MOTHER, MAY I? (2023)

Não demora para as rachaduras no relacionamento do casal virem à tona. Frustrada pelo fato de que seu parceiro não demonstra suas emoções, Anya insiste para que eles pratiquem um exercício onde um finge ser o outro, e coloquem para fora o que estão sentindo. Mas após tomarem alucinógenos para turbinar a brincadeira, o já questionável exercício parece abrir uma porta para que algo mais tome conta de Anya; ela de repente começa a agir como a mãe de Emmett, e se recusa a parar.

Deste ponto em diante, Mother, May I? se torna intrigante e um tanto frustrante ao mesmo tempo. O roteiro quer que acreditemos que Anya está possuída, mas ao mesmo tempo brinca com a ideia de que a mulher é na realidade uma pessoa manipuladora, e que está fingindo a coisa toda. Há alguns elementos sobrenaturais espalhados pela narrativa, mas eles nunca são explorados o suficiente para serem satisfatórios. A ambiguidade nem sempre é uma coisa ruim, mas pode ser quando o roteiro parece pensar que é mais esperto do que realmente é.

Mas Mother, May I? é menos sobre plot do que é sobre personagens, estabelecendo um íntimo cenário para seus dois protagonistas darem tudo o que têm. Os fãs do horror vão logo reconhecer Gallner; o ator tem construído discretamente seu nome dentro do gênero ao longo da última década, mais recentemente aparecendo nos sucessos de bilheteria Pânico e no citado Sorria. Aqui, ele tem muito mais material com o que trabalhar, mas seu personagem não é lá um cara muito legal. Roden é o destaque, especialmente no “modo mãe”, mas o filme nos dá tão pouco tempo com Anya antes de sua transformação, que acaba precisando se apoiar em algumas pistas visuais óbvias e tiques da personagem para sinalizar que trata-se de outra pessoa. Roden ainda consegue imprimir sua marca na personagem, mas uma mudança mais sutil teria ajudado nas tentativas de ambiguidade do filme.

Uma vez que Anya volta a si mesma, Mother, May I? não tem muitos lugares para ir, enterrando a si mesmo em buracos cada vez mais fundos enquanto seus personagens revelam suas personalidades cada vez mais desagradáveis. Surpreendentemente, a falecida mãe de Emmett se torna a personagem mais emocionalmente compreensível, apesar de suas muitas, muitas falhas e manias nada lisonjeiras. Nós nunca a conhecemos, e vemos apenas a parte de trás de sua cabeça quando ela morre, mas sua presença é fortemente sentida ao longo da produção. Emmett recebe a chance de se reconciliar com a mulher que nunca realmente o quis, mesmo quando ele e sua noiva tentavam engravidar para salvar o relacionamento, e fica a impressão de que ele não aprendeu nada com a experiência.

O público em geral irá dizer que Mother, May I? é sobre a velha máxima do Complexo de Édipo, e que os homens no final das contas querem casar com mulheres que as lembrem de suas mães. E o filme certamente se aproveita da ideia para fazer várias piadas desta natureza. Algumas até bem inspiradas. Mas na realidade, trata-se de um filme sobre pessoas que odeiam umas às outras e se mantém juntos por todas as razões erradas, achando que a chegada de um bebê irá resolver as coisas. Não deixa de ser interessante, mas um cuidado um pouco maior faria de Mother, May I? um filme muito mais apreciável.

Avaliação: 3 de 5.

Mother, May I? estará disponível para download e em VOD à partir do dia 21 de julho.

O Trailer Oficial de MOTHER, MAY I? (2023)

Um comentário sobre “Crítica: Mother, May I? (2023)

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