Este final de 2ª temporada da polêmica série de ficção-científica Black Mirror (se bem que muito do que é apresentado na série já não é tão sci-fi assim, e sim uma quase realidade), não é tão pungente quanto um final de temporada deveria ser. O episódio, na realidade, é um dos mais fracos da série, o que não quer dizer que o segmento não seja dotado de alguns valiosos e críticos insights, voltados principalmente para a política (aqui no caso a política britânica, mas bem que poderia ser até a do Brasil), e seus corruptos tentáculos. Lembrando que o episódio piloto da série, The National Anthem, também atacava abertamente a política da Grã-Bretanha, mas de maneira muito mais ousada e inteligente.

O episódio tem como “protagonista” o urso azul Waldo, uma animação controlada por uma espécie de “captura de movimento”, comandada por Jamie (Daniel Rigby, do drama Flyboys), que é responsável também pela voz do urso desbocado. Waldo tem um quadro em um late show na TV, onde durante alguns minutos, entrevista alguma celebridade convidada para o show. Numa noite, Waldo recebe um candidato ao parlamento britânico, e após humilhar o político, acaba virando a principal figura do mundo do entretenimento no país, e consequentemente, numa manobra da equipe de sua emissora de TV, acaba ele próprio virando um dos candidatos à eleição. Entretanto, aos poucos Jamie percebe que sua criação está fugindo de seu controle, e tornando-se maior do que ele próprio.

The Waldo Moment (O Momento Waldo) é um dos episódios que flerta mais discretamente com os efeitos sombrios da tecnologia, principal vertente da série Black Mirror. O episódio começa bem, com narrativa dinâmica e humor ácido, outra marca da série. Entretanto, o episódio não deslancha, e vai caindo à medida que deixa a tecnologia de fora da narrativa, para focar na questão política da situação exposta na trama. O urso Waldo em si é irritante, e a falta de carisma do protagonista, tanto em sua versão animada como em sua versão humana, prejudica a identificação do público tanto com o personagem, como também com o episódio de maneira geral.

O segmento, entretanto, não passa em branco, e algumas de suas críticas mais pontuais aos sujos meandros da política, funcionam e levam à reflexão. Contudo, a falta de uma junção mais natural entre o principal tópico da série – o mal uso da tecnologia – com o tema central do episódio – a política – traz problemas ao segmento, que quando tenta retomar esta junção, acaba por fazê-lo de maneira exagerada, e entrega uma conclusão bem pouco convincente.

Dirigido por Bryn Higgins, diretor do interessante drama Electricity (2014), este The Waldo Moment não merece ser descartado (aliás, nenhum episódio de Black Mirror merece esta ação). Contudo, não está nem perto de ser um dos mais memoráveis da série, que como poucas, encontrou o exato ponto de equilíbrio entre os excessos da tecnologia e o elemento tragicamente satírico que os envolvem.

The Waldo Moment está disponível na Netflix.