Crítica: Black Mirror | S01E01 – The National Anthem (Hino Nacional) | 2011

Confesso que demorei para começar a assistir esta pungente Black Mirror, série inglesa da rede Channel 4, lançada em 2011, e posteriormente adquirida pela toda-poderosa Netflix em 2016. Após valiosas indicações, resolvi me aventurar, lá pelos idos de 2013, por esta série de natureza polêmica e confrontadora, que examina e, por vezes, extrapola os efeitos sempre irreversíveis da exacerbada utilização da tecnologia na sociedade moderna, nos dias de hoje.

Em tempos de uso desmedido de Facebook, YouTube, Trending Topics no Twitter, torrentes de selfies, avanços da Inteligência Artificial e culturas de cancelamento, nada mais atual e relevante do que se aventurar por esta antologia, que pode não vir a mudar seus hábitos tecnológicos, mas, com certeza, o levará à reflexão.

Black Mirror | S01E01 – The National Anthem (Hino Nacional) | 2011

Composta (até o momento) de seis temporadas e 28 episódios (sendo dois deles episódios especiais, não-presos a uma temporada), Black Mirror carrega, em sua narrativa, uma aguda mistura entre ficção-científica e sátira, derramando sobre seus episódios os mais escuros reflexos de seu “espelho negro”, aquele que você encontra em qualquer parede, mesa e na palma da mão de qualquer indivíduo: a fria e brilhante tela de uma TV, de um monitor, ou de um smartphone. Criada pelo produtor e roteirista Charlie Brooker, vale lembrar que Black Mirror se trata de uma antologia, onde os episódios são independentes e não estão ligados uns aos outros, a não ser pelo tema central da série.

Neste primeiro episódio, lançado no “longínquo” (quando nos referimos a tecnologia) ano de 2011, The National Anthem (Hino Nacional), a jovem princesa Susannah (Lydia Wilson, de Questão de Tempo), Condessa de Beaumont, foi sequestrada, colocando o Reino Unido e toda a Europa em polvorosa. Como se a situação não fosse complicada o suficiente, a única exigência do sequestrador para não assassinar e, posteriormente, libertar a princesa é, no mínimo, inusitada: ele exige que o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha (o ótimo Rory Kinnear, da série Penny Dreadful), até às 16h00 daquele dia, faça sexo com uma porca e que o ato seja transmitido ao vivo, pela TV.

Pela premissa, The National Anthem poderia render uma comédia de humor dark ou algo até mais escrachado. Mas estamos falando de Black Mirror e, aqui, o episódio funciona como uma angustiante parábola sobre a viralidade virtual, onde, através do uso das redes sociais, qualquer coisa se espalha incontrolavelmente pela internet. O episódio lida de maneira madura com a sensação de irreversibilidade e impotência que um evento transmitido via internet causa nas vidas das pessoas, marcando-as para sempre.

Assim como no excepcional filme O Abutre, thriller protagonizado por Jake Gyllenhaal em 2014, The National Anthem escancara também a mórbida e irrefreável necessidade do ser-humano em ver o que é proibido e sujo, e de como ainda existem indivíduos que encontram satisfação em acompanhar eventos desta natureza. O episódio ainda encontra tempo para espetar o excessivamente formal governo inglês, desmoralizando, sem dó, seu teatral jogo de aparências.

Não é pouco para um segmento de apenas 50 minutos, que dá um certeiro pontapé inicial a uma série que veio para, literalmente, destruir. Nem que faça isso através de uma oportuna reflexão: a de que nós nunca estivemos tão próximos uns dos outros e, ao mesmo tempo, tão terrivelmente expostos e sozinhos.

Avaliação: 4.5 de 5.

The National Anthem está disponível no catálogo da Netflix.

O Teaser Oficial de Black Mirror | S01E01 – The National Anthem (Hino Nacional) | 2011

6 comentários sobre “Crítica: Black Mirror | S01E01 – The National Anthem (Hino Nacional) | 2011

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