Crítica: Black Mirror | S03E03 – Shut Up and Dance (Manda Quem Pode) | 2016

Este terceiro episódio da terceira temporada da sensacional série Black Mirror, Shut Up and Dance (por aqui batizado de Manda Quem Pode), com certeza se estabelece como um dos melhores da referida temporada, e também um dos mais efetivos de toda a série. Ambientado em um cenário bem pé no chão, o segmento não alça voos tão imaginativos como a maioria dos episódios da série. Entretanto, a realidade retratada em Shut Up and Dance é absolutamente aterradora, e com certeza vai deixar os marmanjos por aí pensando duas vezes antes de fazer alguma coisa errada em frente ao computador…

Extremamente bem dirigido pelo cineasta inglês James Watkins (A Mulher de Preto, 2012), Shut Up and Dance apresenta ao público o introvertido adolescente Kenny (Alex Lawther, de O Jogo da Imitação), cuja timidez crônica impede que tenha amigos ou mesmo um convívio social com alguém que não seja sua mãe e sua irmã mais nova. Numa noite, utilizando o notebook em seu quarto, Kenny torna-se vítima de uma armadilha online, e passa a ser chantageado, em troca da prestação de um serviço incomum. Se Kenny cumprir as exigências dos responsáveis pelo golpe, estará liberado. Caso contrário, seu futuro estará ameaçado para sempre. Desesperado, o frágil Kenny embarca em uma angustiante jornada, acompanhado de outra vítima do esquema, o esquentado Hector (Jerome Flynn, o Bronn da série Game of Thrones), que assim como o garoto, precisa realizar sua parte da missão, antes que sua existência também seja ameaçada para sempre.

Jerome Flynn e Alex Lawther em Black Mirror | S03E03 – Shut Up and Dance (Manda Quem Pode) | 2016

Agonia. O melhor termo para resumir este Shut Up and Dance. Movimentado, o episódio prende como poucos a atenção completa do espectador, que segura o coração na boca durante toda sua duração. Parte dos méritos com certeza está no nervoso roteiro de William Bridges (do thriller Shallow, 2012), em parceria com o criador da série, Charlie Brooker, que não faz concessões e coloca protagonistas e público lado a lado em uma viagem infernal por entre os meandros covardes da chantagem. A outra grande fatia dos méritos do episódio, vai para a soberba dupla de protagonistas, Alex Lawther e Jerome Flynn, absolutamente perfeitos e com ótima química em cena. Especialmente o garoto Lawther, em uma performance monstruosa, em que a angústia na face do personagem é tanta, que chega a ser palpável.

Shut Up and Dance pouco traz da faceta sci-fi de Black Mirror. A ficção aqui resume-se apenas à história em si, já que os elementos que circundam a narrativa são todos bem atuais, como a invasão de privacidade online, e os aparatos utilizados ao longo da trama, como o uso incessante de celulares, monitoração por GPS, e até o uso de drones. No entanto, o episódio é mesmo uma enervante e assustadora alegoria para escancarar os perigos da internet, especialmente, no que concerne a suas informações pessoais e sigilosas. Conforme um dos personagens sabiamente diz em um momento do episódio, “A internet não tem cura”, e qualquer pequeno deslize online pode custar o anonimato de uma vida.

É em cima deste medo tão atual, e inerente em todos nós, que Shut Up and Dance carrega tão plenamente a essência de Black Mirror e os maus usos da tecnologia moderna, com uma narrativa que não precisa de nenhuma artimanha de ficção-científica para apavorar o espectador. Cuidado com suas navegações cibernéticas, caro leitor. Você pode estar sendo vigiado.

Avaliação: 5 de 5.

Shut Up and Dance está disponível no catálogo da Netflix.

O Trailer Oficial da Terceira Temporada de BLACK MIRROR (2016)

6 comentários sobre “Crítica: Black Mirror | S03E03 – Shut Up and Dance (Manda Quem Pode) | 2016

    • Meu também! No meu caso é este, White Christmas, Fifteen Million Merits e San Junipero.
      Juro por Deus que quando vi Fifteen Million Merits lá em 2013, eu falei que o Daniel Kaluuya seria um astro. BINGO! Virou um monstro o maluco. Kkkkk

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