Crítica: Indiana Jones e a Relíquia do Destino (Indiana Jones and the Dial of Destiny) | 2023

Indiana Jones. A mera menção deste nome evoca lembranças de aventuras e a gostosa sensação de nostalgia de um mundo e de um cinema que não existem mais. Quando Steven Spielberg e George Lucas trouxeram o aventureiro de chapéu e chicote às telas pela primeira vez, no longínquo ano de 1981, eles não tinham ideia da dimensão que o personagem tomaria, a ponto de hoje, 42 anos depois, ele retornar às telas para sua dolorida, porém necessária despedida. A ironia reside no fato de que Spielberg, que comandou todos os quatro filmes da franquia na cadeira de diretor, dá lugar nesta última aventura para o competente James Mangold, detentor de filmaços na carreira, como Logan, Ford vs Ferrari, Johnny & June, entre outros. Neste Indiana Jones e a Relíquia do Destino (Indiana Jones and the Dial of Destiny, EUA, 2023, 142 min.), Spielberg atua como produtor-executivo da empreitada.

E a mudança na cadeira de diretor é sentida; ao contrário do criticado exemplar anterior da franquia, o decepcionante Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008), que marcava o retorno do icônico personagem às telas 19 anos depois do clássico Indiana Jones e a Última Cruzada, Mangold e seu Relíquia do Destino procuram recolocar a franquia nos trilhos, após outro longo hiato do personagem nas telas. 15 anos após o Reino da Caveira de Cristal, Mangold traz a saga de Indiana Jones de volta ao básico, em uma aventura que atravessa continentes em mais uma corrida contra os nazistas.

Harrison Ford em INDIANA JONES E A RELÍQUIA DO DESTINO (INDIANA JONES AND THE DIAL OF DESTINY) | 2023

In 1969, Indiana Jones (Harrison Ford), já deixou seus dias de aventura para trás há muito tempo. Diferente da persona de seu próprio e eterno intérprete, Indy se tornou grosso e endurecido pela vida, o típico vizinho rabugento do qual você quer distância. Logo se torna aparente de que em sua velhice, o arqueólogo aposentado virou um homem amargo, talvez até depressivo, com os papéis do divórcio em cima do balcão de sua cozinha, enviados há muito tempo por Marion (Karen Allen), sua eterna paixão. No mesmo dia em que se aposenta de seu trabalho como professor na universidade, ele é abordado por Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge, da série Fleabag), sua afilhada e filha de seu amigo Basil (Toby Jones), que serviu com ele na Segunda Guerra.

Helena está procurando pelo ‘mecanismo de Anticítera’, o artefato de Arquimedes há muito tempo perdido, e que levou seu pai à beira da loucura. Existem rumores de que a relíquia é capaz de guiar seu usuário através de “fissuras no tempo”, ou em outras palavras, fazê-lo viajar no tempo. Também na caçada pelo Anticítera está um grupo de nazistas remanescentes da época da guerra — liderados pelo cientista Jürgen Voller, interpretado pelo sempre ótimo (e sempre sinistro) Mads Mikkelsen — que precisa do dispositivo para os pérfidos propósitos nazistas, como de costume. Mais precisamente, eles querem reescrever a guerra. Ou seja, agora é hora do bom e velho Indy tirar a poeira de seu famoso chapéu e embarcar na aventura, talvez pela última vez.

A Relíquia do Destino é carregado de empolgantes sequências de ação, que vão desde uma briga em cima de um trem em movimento, até uma frenética corrida de cavalos pelos túneis do metrô de Nova York. Uma perseguição de tuk tuks através dos becos estreitos da cidade de Tânger, no Marrocos, é igualmente divertida, especialmente uma vez que Helena e Indiana precisam saltar de veículo em veículo. Mas à medida em que as sequências se tornam mais explosivas e a escala da produção vai aumentando, os efeitos-visuais irreais tomam conta. A derradeira perseguição áerea é puro lixo digital, e não oferece absolutamente nada de visualmente atraente.

Harrison Ford e Phoebe Waller-Bridge em INDIANA JONES E A RELÍQUIA DO DESTINO (INDIANA JONES AND THE DIAL OF DESTINY) | 2023

Mangold é um excelente diretor, capaz de comandar produções bastante sólidas com o potencial de agradar profundamente seu público, como os citados Johnny & June e Ford vs Ferrari. Ele também foi capaz de injetar vida nova na moribunda franquia X-Men com seu primoroso Logan, em 2017. Mas seu Indiana Jones e a Relíquia do Destino soa anônimo. O estilo visual da produção é morno, a ponto de subtrair do filme qualquer tipo de personalidade. Quando Indiana Jones trilha seu camiho através de cavernas repletas de armadilhas com uma tocha na mão em Caçadores da Arca Perdida, o contraste entre o mundo exterior e esta arrepiante tumba evoca uma admiração singular. Mas aqui, cada uma das cenas ambientadas na escuridão são iluminadas de maneira escassa, difíceis de enxergar alguma coisa. E como acontece em muitos blockbusters modernos, infelizmente, Relíquia do Destino se apóia em rápidos cortes de edição que aceleram o passo das brigas de Indiana com os nazistas, mas cuja coreografia é quase que indecifrável.

Julgando pela maneira afetuosa com que Harrison Ford falou sobre Indiana Jones durante a premiere do filme em Cannes, este é sem dúvidas um dos personagens pelo qual o ator mais tem apreço, e ele realmente dá tudo o que tem nesta suposta despedida do personagem. Indiana navega as sequências de ação de alta voltagem com a compreensível perícia fisica desajeitada de um homem mais velho, ao mesmo tempo em que ainda carrega um soco pesado na hora da pancadaria. Mas Ford também entrega emoção nos momentos mais calmos do filme, onde sua postura inabalável dá lugar a ternos momentos de reflexão.

Assim como o big hit Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa reuniu Homens-Aranha anteriores para criar efeito nostálgico, esta é outra sequência de legado que sacrifica a história em favor de frequentes participações especiais, sugando a boa vontade da franquia até a medula. Mangold (que co-escreveu o roteiro com a dupla Jez e John-Henry Butterworth e David Koepp), despeja referências a antigas aventuras de Indy; uma cena envolvendo enguias leva a uma piada sobre como elas se parecem com cobras, e a futilidade do chicote do aventureiro contra armas de fogo remete àquela clássica cena de Caçadores da Arca Perdida.

E bem quando parecia que Mangold estaria comprometido a entregar um movimento ousado no final da história, o filme caminha para uma despedida repleta de glicose que mais uma vez mira no fan service e no reconhecimento, desapontando a essência de seu herói em favor de uma última participação especial. Tal decisão reflete o que sequências de legado realmente representam: uma forma de concluir uma história não de uma maneira que faça justiça a seus personagens, mas sim de modo que agrade um público maior, se apoiando em alguma coisa que eles adoraram no passado.

Para um filme que tenta corrigir o curso depois do decepcionante final que O Reino da Caveira de Cristal deixou para trás como uma conclusão prévia da franquia, Indiana Jones e a Relíquia do Destino é também uma decepcionante cópia dos filmes muito melhores que o antecederam na saga do amado herói interpretado por Ford. Trata-se um filme concebido de maneira competente, com sequências divertidas o suficiente para entreter o público durante suas longas duas horas e meia de duração. Mas ao mesmo tempo, é um filme que se arrisca tão pouco, que seus momentos memoráveis se tornam escassos. No final das contas, Indiana Jones e a Relíquia do Destino é apenas um doloroso lembrete do quão bom o cinema de entretenimento costumava ser.

Avaliação: 3 de 5.

Indiana Jones e a Relíquia do Destino estreia nos cinemas brasileiros no dia 29 de junho.

O Trailer Oficial de INDIANA JONES E A RELÍQUIA DO DESTINO (INDIANA JONES AND THE DIAL OF DESTINY) | 2023

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