Crítica: The Breach (2022)

Este The Breach (CAN, 2022, 92 min.), começa onde o clássico slasher Sexta-Feira 13 (1980) termina, com uma canoa flutuando calmamente na água – o que quer dizer que, à medida que a embarcação se desloca rio abaixo, o filme está tanto anunciando quanto literalizando sua própria derivabilidade, que além de outras fontes que em breve mencionarei, bebe fortemente na obra do pai do horror cósmico, H.P. Lovecraft.

Contudo, a canoa não está transportando uma ‘final girl’ traumatizada, mas sim um cadáver em uma condição bastante anormal – e quando John Hawkins (Allan Hawco), em sua última semana como chefe de polícia da fictícia cidadezinha de Lone Crow, parte para a cena do crime com sua ex, Meg Fullbright (Emily Alatalo) e o ex dela, Jacob Redgrave (Wesley French), para tentar descobrir a fonte do que quer que tenha deixado o corpo de maneira tão abominável, este segundo filme do diretor Rodrigo Gudiño (do pouco conhecido The Last Will and Testament of Rosalind Leigh, 2012), revela-se uma interessante mistura de referências do horror moderno.

Allan Hawco em THE BREACH (2022)

Adaptado pelo roteirista Ian Weir à partir do livro escrito por Craig Davidson em 2020 (sob o pseudônimo Nick Cutter), o filme se aproveita de clichês narrativos familiares (dos tipos “aquele último trabalho antes da aposentadoria”, “triângulo amoroso”) até outros títulos do gênero como a trilogia ‘Gates of Hell‘ de Lucio Fulci, A Morte do Demônio de Sam Raimi, o Alien de Ridley Scott, O Nevoeiro de Frank Darabont, entre outros de uma longa tradição de filmes sobre invasores de corpos, com o objetivo de construir – e disfarçar – sua própria identidade. Apesar dos excelentes efeitos de gore e efeitos práticos de criaturas serem realmente muito acima da média.

The Breach é, em seu núcleo, um filme ao estilo “cabana na floresta”, em que o trio de protagonistas investiga uma casa isolada na mata, que pertencia ao corpo em questão, Cole Parsons (Adam Kenneth Williams), enquanto procura pistas do que pode ter acontecido a Cole, um físico de partículas recluso, e também à sua filha desaparecida, Isabelle (Ava Weiss). À medida em que portas trancam e destrancam sozinhas, insetos surgem aos montes, e coisas caem e estalam à noite, a cabana na floresta, com sua fiação problemática, tábuas que rangem e iluminação errática, se torna uma clássica casa assombrada, capturada por ângulos enviesados que remetem diretamente à série de games Resident Evil. Quando pessoas, algumas vivas, outras nem tanto, começam a surgir em torno do local, os mistérios se acumulam, e o filme de Gudiño toma seu tempo para aparar as arestas e revelar o que realmente está movendo este mecanismo infernal.

“O que é esse cara,” Hawkins questiona em determinado momento, “um físico ou um maldito mágico?” Esta é a pergunta-chave em um filme que explora os limites entre a ciência e o ocultismo – e é também o que situa o trabalho de Gudiño no sombrio portal entre ficcção-científica e horror. Pois The Breach diz respeito a uma invasão apocalíptica que ocorre tanto de dentro quanto de fora, onde todas as armadilhas do gênero são substituíveis e, finalmente, reprodutíveis. Resta ao espectador imaginar que implicações cósmicas podem estar em gestação.

Avaliação: 3 de 5.

The Breach seré exibido no Festival Fantaspoa 2023 no dia 27 de abril, mas ainda não possui data de lançamento oficial em território brasileiro.

O Trailer Oficial de THE BREACH (2022)

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