Crítica: Baby Ruby (2022)

A maternidade é aterrorizante. Cada aspecto de se tornar uma nova mãe fomenta terror e ansiedade, desde o parto até a identidade da mãe pós-bebê, e ao longo das décadas, diversas produções do gênero horror exploraram cada faceta deste processo. Mesmo assim, o terror sempre encontra algo novo para dizer, e o filme de estréia da diretora e roteirista Bess Wohl, Baby Ruby (EUA, 2022, 89 min.), utiliza o horror psicológico para colocar o espectador no lugar de uma nova mãe desmoronando após dar à luz. Baby Ruby é no mínimo um meio fascinante de iniciar conversas e derramar uma luz no delicado tema da psicose pós-parto.

Jo (Noémie Merlant), exala um ar de estilo e perfeição. Ela é uma influencer dona de um blog tão bem sucedido que ela possui até uma equipe de apoio, incluindo um assistente como seu braço-direito. Jo é tão controladora no que diz respeito à imagem de seu blog, que ela não permite que ninguém faça sequer um chá de bebê para seu primeiro filho com seu marido, Spencer (Kit Harrington, o Jon Snow da série Game of Thrones). Ela encana com a decoração e com os ângulos exatos do local do bolo para que as fotos saiam perfeitas. Mas sua vida cuidadosamente idílica começa a desabar no momento em que a recém-nascida Ruby chega ao mundo. As ansiedades maternais do dia-a-dia se transformam em paranóia total, uma vez que Jo teme que Ruby possa estar querendo ver seu fim, já que a bebê passa a se comportar de maneira cada vez mais bizarra.

Noémie Merlant e Kit Harrington em BABY RUBY (2022)

Wohl conduz com cuidado o agravamento dos problemas de Jo. De início, nada parece particularmente fora do comum. Jo parece uma mãe como qualquer outra, que está lutando após ser arremessada no meio das dificuldades de se cuidar de um recém-nascido. O choro incessante, a falta de sono, e uma inabilidade em se encontrar novamente, tudo faz parte dos sinais em torno de uma mulher que se tornou mãe recentemente. Mas para Jo e sua natureza controladora, tudo isso bate mais forte. Ela se recusa a dar um tempo a si mesma, mesmo antes de parecer que Ruby está agindo contra sua própria mãe. Wolh vai aos poucos amplificando o horror perturbador em torno da situação, que pode levar Jo à loucura.

A narrativa trabalha de maneira ambígua a questão se tudo não passa de uma criação da mente de Jo, ou se há algo realmente errado com Ruby. Ou seria tudo uma típica experiência enfrentada por mães recentes, especialmente as que possuem a personalidade forte de Jo? Mas logo se torna evidente que não, não se trata disso. Em seu filme, Wohl procura colocar o foco em uma pouco discutida doença que pode afetar novas mães; a psicose pós-parto. Baby Ruby não é um filme de terror no sentido convencional da palavra, mas se desenrola como um para suscitar empatia pela situação difícil e devastadora enfrentada por Jo. Sussurros, alucinações, saltos surreais no tempo, paranóia, e distorções da realidade deixam o público desconfortável e incerto sobre o que realmente está acontecendo.

Não é apenas no uso de artifícios do horror e linguagem visual que Wohl captura o terror e o sofrimento de Jo. Merlant comanda o filme no papel de uma mulher desesperada, à procura de uma bóia em águas tumultuosas. Suas extremas alterações de humor, medos e stress, ao mesmo tempo em que precisa amar e proteger sua bebê, adicionam profundidade e evocam a empatia do espectador. Já Harrington não se sai tão bem no papel do marido confuso, profundamente inseguro de como ajudar sua esposa. Por sorte, o foco do filme é mesmo quase que totalmente em Merlant.

Wohl captura com sucesso a jornada, desde os primeiros sinais de alerta até o colapso total da protagonista, mas a diretora encontra um pouco de dificuldade na hora de amarrar o pacote final. Baby Ruby externaliza muito bem a aflição de Jo através de personagens secundários, mas de alguma forma acaba não conseguindo internalizar com sucesso as tentativas de Jo de se reconciliar com sua realidade nos momentos finais do filme. Wohl estende demais tal conclusão com um final metafórico um tanto fora de tom. Ainda assim, Wohl e Merlant conduzem o horror de maneira eficiente e criam uma personagem envolvente em Jo, que funciona como ferramenta para desestigmatizar uma doença mental que deveria ser muito mais discutida.

Avaliação: 3 de 5.

Baby Ruby não possui informação de lançamento oficial no Brasil, mas o filme deve chegar ao público através de plataformas alternativas no dia 03 de fevereiro.

O Trailer Oficial de BABY RUBY (2022)

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