Crítica: Solum (2021)

Há pouco tempo atrás, na crítica de outro curta, o irlandês The Rock in the Sea, publicada aqui mesmo no Filmes do Kacic, eu discorro brevemente sobre a solidão, e do quanto ela está tematicamente presente no cinema. O próprio The Rock in the Sea se baseia totalmente em cima do tema, assim como este ótimo curta co-produzido entre Brasil e Estados Unidos, Solum (BRA/EUA, 2021, 15 min.), projeto da atriz nordestina Vitória Vasconcellos, de apenas 24 anos, que atuou, produziu e dirigiu a empreitada enquanto estudava no exterior. O filme é um dos destaques do CINE PE – Festival Audiovisual, que acontece em Recife (PE), nesta semana de 09 a 14 de dezembro. O curta concorre ao prêmio Calunga e foi o merecido vencedor do prêmio de ‘Melhor Figurino’ no Festival de Curta Taquary, em 2020.

O curta acompanha sua protagonista (cujo nome nunca é informado) interpretada pela própria Vasconcellos, que durante uma caminhada pela floresta, descobre o corpo de um homem. Sempre munida de sua máquina fotográfica, ela tira uma foto do corpo, e sempre flertando com a fantasia surrealista, o filme desenvolve uma narrativa que aos poucos vai revelando a rotina peculiar da protagonista, ressaltando sua solidão constante e os efeitos devastadores do isolamento em sua mente.

Vitória Vasconcellos em SOLUM (2021)

Segundo a própria Vasconcellos, ela escreveu o roteiro de Solum durante a pandemia do coronavírus, o que fica bastante nítido em seu filme. Os reflexos do isolamento forçado pelo qual o mundo precisou (e em alguns casos ainda precisa) passar, refletem-se na personagem central do curta e em seus atos. Seus hábitos incomuns são uma extrapolação de nossos próprios hábitos durante este difícil período pelo qual, de certa forma, ainda estamos enfrentando, o que faz com que Solum ressoe com mais força junto ao espectador.

O curta surpreende bastante visualmente. A estética, direção de arte e figurinos a cargo de Mackenzie Starr, especialmente no que se refere ao apartamento da protagonista, são excelentes, e fomentam aquela sensação incômoda no espectador de que há algo muito errado com essa jovem de hábitos peculiares e minimalistas. A ausência de diálogos pensada por Vasconcellos e sua montagem habilidosa estimulam quem assiste a montar o quebra-cabeças em torno da triste e enigmática personagem central, e a recompensa, ainda que amarga, tem muito a dizer sobre o estrago que a solidão é capaz de causar.

Solum é um pequeno grande esforço de sua jovem e talentosa realizadora. Pequeno em duração, mas enorme na forma em que discorre sobre um dos maiores males da sociedade atual. Mal que se agravou ainda mais depois do terrível período pelo qual tivemos que sobreviver, por vezes literalmente sozinhos, e em alguns casos, isolados dentro de nossas próprias mentes. Este, talvez, como Vasconcellos e seu Solum evidenciam, seja o pior tipo de isolamento afinal.

Avaliação: 3 de 5.

Como mencionado acima, Solum está sendo exibido gratuitamente no CINE PE – Festival Audiovisual, que vai de 09 a 14 de dezembro em Recife, e estará disponível em breve para o público em geral.

O Teaser Trailer de SOLUM (2021)

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