Crítica: The Outwaters (2022)

O horror cósmico é um subgênero traiçoeiro de se capturar em filme. As indizíveis entidades antigas, a imensidão do vazio espacial, as visões indescritíveis demais para que as mentes humanas possam compreender… como fazer um filme sobre tais horrores tão… bem, indescritíveis? Talvez se H.P. Lovecraft estivesse vivo hoje em dia e fosse um cineasta de mão cheia, quem sabe…

O que nos traz a este terror ao estilo found footage The Outwaters (EUA, 2022, 100 min.), a mais recente tentativa de capturar em imagens os escorregadios tentáculos do gênero. O filme é estrelado por Robbie Banfitch (que também dirige, escreve e edita a obra) no papel de Robbie (todos os personagens têm o mesmo nome de seus intérpretes), um cineasta que aceita filmar o clipe musical de sua amiga (Michelle May), no deserto de Mojave. Eles são acompanhados pelo irmão de Robbie (Scott Schamell) e a amiga maquiadora (Angela Basolis), e por um breve período, tudo caminha dentro da normalidade. Mas é claro que a viagem do grupo não demora para ir pro vinagre, e o quarteto desaparece sem deixar vestígios. Tendo início à partir de um áudio desesperado de uma chamada telefônica de emergência, o filme conta sua história em três atos, onde cada seção é retirada de três cartões de memória que o grupo deixou para trás.

THE OUTWATERS (2022)

Se você já assistiu um filme em formato found footage na sua vida, você provavelmente já está se perguntando o que há naquele último memory card, e confesso que The Outwaters me deixou seriamente tentado a botar o filme no fast forward e descobrir logo o que aconteceu, muito antes do terceiro ato chegar. Banfitch faz um nobre esforço para oferecer um pouco de desenvolvimento de personagem antes do inimaginável pesadelo ter início, mas há pouco humor, medo ou drama nestas cenas iniciais, e a premissa de um cineasta e seus amigos planejando um clipe no meio do deserto é, cá entre nós, tão empolgante quanto fazer um exame de urina.

Mas depois de testar a paciência do espectador na primeira metade do filme, o terço final de The Outwaters nos leva de zero a 300km/h em questão de segundos. Pode-se dizer que a trupe de amigos levantou acampamento acidentalmente em uma falha no deserto que leva diretamente ao inferno, e o resto do filme acompanha o último sobrevivente, Robbie, preso em uma interminável espiral de loucura e mutilação. Acreditem-me, tem de tudo: tentáculos deslizantes, poças de vômito e sangue, um pênis arrancado, e entidades cabulosas que gritam mais que o capeta. E o tempo todo eu pensando, “bem que eu gostaria de poder ver mais de tudo isso!” Afinal, enfrentando os desafios de capturar em filme forças cósmicas indescritíveis sob as óbvias limitações orçamentárias do filme, Banfitch opta por filmar toda a longa sequência quase que exclusivamente em primeira pessoa, iluminando tudo com apenas uma pequena lanterna. Para aqueles com pouca paciência para a propensão do found footage em preencher a tela com quantidades generosas de gritos e uma câmera constantemente instável, assistir The Outwaters será um tormento.

Ainda que muito de The Outwaters seja entediante e confuso, há algo mais que vocês precisam saber. Enquanto assistia aos últimos trinta minutos do filme, me encontrei diversas vezes me encolhendo no sofá com as mãos no rosto em um estado de ansiedade e antecipação. A pequena lanterna em primeira pessoa nunca deixa de ser uma incômoda distração do found footage, e eu raramente conseguia dizer o que diabos estava acontecendo durante toda a sandice, mas assistir um filme arremessar tanta coisa horripilante na sua cara durante um longo período de tempo revelou-se uma experiência eletrizante, que recompensa os fãs de horror mais pacientes em seus momentos finais. Eu nunca tinha visto um filme partir de um corpo ensanguentado se contorcendo no deserto utilizando uma sequência estendida que transporta o filme, literalmente, ao cosmos. Por fim, The Outwaters arranca o espectador da loucura da referida noite sem fim e o traz de volta à relativa calmaria do meio-dia do deserto de Mojave, e neste ponto eu fui presenteado com uma das mais arrepiantes e engenhosas tomadas que tive a sorte de ver nos últimos tempos. Tal cena não me sai da cabeça até agora.

Não tenho dúvidas de que The Outwaters será divisivo entre os fãs do horror quando chegar a um público maior. Na minha visão, é tão fácil para mim imaginar uma pessoa sensata odiando este filme, assim como também consigo facilmente imaginar alguém vibrando de excitação porque recebeu aquele raro presente do gênero: algo que você simplesmente não havia visto antes. Com The Outwaters, Robbie Banfitch nos convida a parar de nos preocupar com o que se esconde nos cantos escuros, e a voltar nossa atenção para as estrelas. Com certa apreensão.

Avaliação: 3.5 de 5.

The Outwaters ainda não tem data de lançamento definida para o público em geral.

O Trailer Oficial de THE OUTWATERS (2022)

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