Crítica: Hellraiser (2022)

Este novo Hellraiser (EUA/Sérvia, 2022, 120 min.), chegou meio que de surpresa. Há apenas alguns meses, o diretor David Gordon Green (responsável pelo retorno de outro ícone do horror, Michael Myers, na nova trilogia Halloween), anunciou que estava planejando um retorno de Pinhead e cia assim que ele terminasse seu trabalho em Halloween. Este Hellraiser não tem nenhuma relação com Green ou qualquer outro nome interessado em mexer com a franquia. Dirigido pelo sempre eficiente David Bruckner (um dos idealizadores da saga V/H/S/, e diretor dos ótimos O Ritual e A Casa Sombria), o filme não se trata de um novo capítulo da gasta franquia original (em seu DÉCIMO filme até o momento); e nem pode ser considerado um remake do original de 1987, escrito e dirigido por Clive Barker, e baseado em seu próprio conto. De certa forma é um bom modo de conhecer o universo de Barker uma vez que você não seja familiarizado com ele, porém, os fãs do original dificilmente terão sua sede por um bom filme com a brand Hellraiser saciada completamente.

A jovem Riley (Odessa A’zion), é uma viciada em drogas em busca de reabilitação que vive com seu irmão, Matt (Brandon Flynn), o namorado dele, Colin (Adam Faison), e sua companheira de moradia, Nora (Aoife Hinds). Riley está namorando um rapaz, Trevor (Drew Starkey), que obviamente não é nada bom para ela. Além de ocasionalmente atraí-la de volta à bebida e às drogas, ele a convence a ajudá-lo a roubar um container abandonado que pertencia a um milionário supostamente morto. Riley o ajuda, mas tudo o que ela encontra no container é um quebra-cabeças em forma de cubo (hmmm…). Ela é hipnotizada pelo objeto e decide mantê-lo até que eles descubram onde penhorá-lo em troca de uma boa grana. Mais tarde porém, quando o cubo revela sua nova forma após um sangrento incidente, Riley decide pesquisar sobre o objeto, e descobre que o ricaço dono do container era Roland Voight (Goran Visnjic), um bon vivant conhecido por suas festas repletas de sexo e sadomasoquismo, as quais ele utilizava para atrair novas vítimas para o cubo (ou caixa, se preferirem).

Goran Visnjic como Voight em Spyglass Media Group’s HELLRAISER, Photo courtesy of Spyglass Media Group. © 2022 Spyglass Media Group. All Rights Reserved.

Na verdade, o cubo (quando colocado em uma certa configuração), tem o poder de libertar temíveis criaturas conhecidas como Cenobitas, que habitam em outra dimensão, onde a dor e o prazer são a mesma coisa, e tais criaturas buscam apenas sensações e experiências, as mais sangrentas possíveis. Riley então passa a compreender o que cada configuração da caixa significa, e agora ela e seus amigos precisam adentrar a propriedade de Voight, com os Cenobitas em seu encalço.

Eu desisti da franquia Hellraiser após o terceiro filme, Hellraiser III: Inferno na Terra (1992), e confesso que vi apenas de relance alguma coisa dos tantos outros filmes que vieram depois. Isso ocorreu principalmente porque a ideia que eu tinha dos dois primeiros filmes (e até um pouco do terceiro), era que eles não se tratavam apenas de filmes com temática slasher (onde um assassino mascarado enfileira vítimas, uma a uma); eles eram filmes mais profundos dentro do gênero horror. Mais adultos. Infelizmente, o Hellraiser de Bruckner não é. O que de certa forma não é necessariamente um problema, mas quem espera o nível de profundidade dos primeiros exemplares originais, vai se decepcionar bastante.

O novo Hellraiser é o tipo de filme que se torna esquecível assim que os créditos finais começam a rolar. Os personagens são desinteressantes; não há absolutamente nada de especial neles, nada que se destaque, seja de maneira positiva ou negativa. Todos eles são apenas clichês-padrão: uma viciada em recuperação, seu namorado má-influência, seu irmão boa-influência e o namorado dele, e por aí. O roteiro, que vem escrito a seis mãos por nomes de respeito como David S. Goyer (Blade II, a série Sandman), e a dupla Ben Collins e Luke Piotrowski (do citado A Casa Sombria e Tempos Obscuros), também segue o desenrolar padrão, sem nenhum ponto realmente original, com exceção de que o filme oferece uma melhor explicação em torno do cubo (cujo verdadeiro nome não direi aqui para não dar spoilers a quem não conhece o universo Hellraiser). Aqui, cada forma do objeto recebe uma explicação, assim como o que o “grande prêmio” para quem decifrar o cubo realmente é. Esta parte funciona muito bem na produção.

Mas o que funciona realmente é o novo (ou nova) Pinhead (o Cenobita-mor cuja face é toda permeada por pregos espetados na sua carne), interpretada por Jamie Clayton (da série Sense 8). Doug Bradley sempre será meu Pinhead favorito, mas Clayton está excelente no papel. Bruckner disse em entrevistas que sempre idealizou seu Pinhead como sendo uma mulher (claro, ele precisa cumprir a nova cota do politicamente correto), porém eu realmente não vi nada que a nova Pinhead faz ou diz que a caracterizasse especificamente como uma mulher, o que só comprova minha impressão. Independente do gênero do personagem, Clayton foi uma boa escolha. Um bom ponto também é que o personagem não foi super-utilizado, como aconteceu com Pinhead nos últimos exemplares da franquia. Aliás, nenhum dos cenobitas foi; seu tempo e presença em cena, ainda que em comando da ação, funcionam melhor quando limitados.

Creio que meu maior problema com o novo Hellraiser pode até parecer uma bobagem, mas não é. Tive um problema sério em aceitar o figurino da produção. Mais precisamente o visual dos cenobitas. Explico: Os Cenobitas neste Hellraiser parecem todos vestidos com roupas de látex que cobrem o corpo todo. Eles todos exalam qualidade em torno da produção, mas não parecem exatamente ameaçadores; Eles parecem atraentes, até meio que na moda. Tenho certeza que tal abordagem do figurino foi mais fácil para os atores e exigiam menos maquiagem, mas definitivamente fez com que os Cenobitas pareçam menos assustadores. Os Cenobitas que eu me lembro vestiam roupas pretas de couro com fendas estratégicas espalhadas pelo traje, que revelavam cuidadosamente os efeitos práticos que faziam parecer que sua pele era arrancada de seus corpos e presas aos trajes. Aquilo soava intimidador, soava real. Aqueles Cenobitas pareciam entusiastas hardcore do bom e velho sadomasoquismo. Os Cenobitas do filme de Bruckner mais parecem saídos de um teste de trajes do novo Matrix.

Roupas à parte, e resumindo a peleja, o novo Hellraiser não é inteiramente ruim. É apenas opaco, sem vida. Esquecível. E no mundo dos filmes de horror, isso é definitivamente pior do que ser um filme ruim.

Avaliação: 2.5 de 5.

Hellraiser chega para download e digital no próximo dia 07 de outubro.

O Trailer Oficial de HELLRAISER (2022)

3 comentários sobre “Crítica: Hellraiser (2022)

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