Os fãs do horror há tempos mereciam um bom filme sobre lobisomens. Este The Cursed (antes batizado de Eight For Silver, EUA, 2021, 113 min.), filme dirigido, escrito e fotografado por Sean Ellis (Reflexos, Operação Anthropoid), não é nenhum Lobisomem Americano em Londres ou Dog Soldiers, mas pode ser considerado um sólido exemplar do subgênero. Trata-se de um suspense dramático ambientado no final do século 18, em uma terra sempre coberta de névoa e habitada por aristocratas intolerantes, onde um crime terrível foi cometido contra a comunidade cigana do local.
Pouco tempo depois, uma força maligna desconhecida começa a perseguir as crianças da cidade, incluindo o filho do influente Seamus Laurent (Alistair Petrie) e sua esposa, Isabelle (a bela Kelly Reilly, de O Voo e Yellowstone), e à medida em que o medo se espalha pela comunidade, eles recorrem ao misterioso John McBride (Boyd Holbrook, de Logan e O Predador), um homem que já teve de lidar com estranhos acontecimentos do tipo no passado.
Os pontos fortes de The Cursed são suas interessantes ideias em torno da mitologia envolvendo os lobisomens, seu visual impactante e as sólidas performances de seu bom elenco, especialmente do elenco de apoio. A direção e o roteiro de Sean Ellis também funcionam, porém com algumas ressalvas. Em um dado momento da narrativa, fica a sensação de que as ideias que tornaram o início do filme tão interessante, simplesmente deixam de ser importantes, uma vez que o drama e a dinâmica familiar em torno dos personagens centrais, além de uma subtrama romântica, ganham o foco e acabam enfraquecendo o plot como um todo, já que seus elementos não são tão cativantes quanto a mitologia e as questões sociais que permeavam o início da produção.
Tais insights iniciais que giram em torno do mito dos licantropos mergulham o espectador na história de maneira profunda, e é justamente quando eles voltam a aparecer de tempos em tempos ao longo da narrativa que o filme ganha força. A boa conclusão do longa no entanto traz a história de volta à forma inicial, o que fortalece bastante o conjunto. A verdade é que The Cursed é um bom filme de lobisomem. Quando a trama está a todo vapor, o bicho pega pra valer. Literalmente. Além dos óbvios elementos do horror, Ellis procura explorar a complexidade de seus personagens, de forma que até os bandidos da trama tenham sua ações justificadas. Curiosamente, ao tentar transformar o preto no branco em tons de cinza em torno dos heróis e vilões da trama, Ellis trava um pouco o andamento de seu filme, mas nada que desqualifique a experiência.
Mesmo com seus problemas, The Cursed tem potencial para se tornar um dos expoentes do subgênero, com sua mitologia original e intrigante em torno das criaturas, sua fotografia impecável e atuações todas acima da média. Duas destas atuações em especial, das atrizes Roxane Duran (A Fita Branca, A Família Bélier) como Anais, e Áine Rose Daly (Boiling Point, Hanna) como Anne-Marie, são bons exemplos de excelente atuação aliada à direção competente de Ellis. Holbrook também está ótimo como o heróico protagonista. Como o lendário Van Helsing dos filmes do Drácula, seu caçador de monstros é corajoso e impetuoso, e o ator o encarna de maneira crível e honesta. Os lobisomens em si são uma mistura de efeitos animatrônicos práticos e CGI/CGV, e o visual das criaturas é formidavelmente diferente da grande maioria dos designs de lobisomem que estamos acostumados a ver no cinema.
Se um bom filme de lobisomem apetece o seu paladar de horror, The Cursed é altamente recomendável. Trata-se de uma produção diferente em ambientação e tom, e que traz cenas que realmente assustam e impressionam, o que basicamente é tudo o que você pode pedir de um filme de terror. Ah sim! Sem dúvida The Cursed já tem o espantalho mais horripilante da história do cinema. Isso é fato.
The Cursed chega em breve ao Brasil através de serviços de streaming e VOD. A data oficial de lançamento ainda não foi confirmada.
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