Crítica: The Last Bus (2021)

É fácil criticar filmes como este The Last Bus (UK, 2021, 86 min.). É o tipo de filme sentimental e delicado, feito na medida para se assistir naquela manhã nublada de sábado tomando um chocolate quente e enxugando as lágrimas. Sem dúvida é uma análise redutiva, mas de qualquer forma, eu não fiquei com um nó na garganta ao final do filme. Na verdade o nó ficou lá o tempo todo. Muito da emoção que o filme provoca está respaldado na força do veterano ator inglês Timothy Spall (O Último Samurai, Vanilla Sky), que demonstra uma forma física frágil e vulnerável, que adiciona ao menos 20 anos em sua idade.

Ele interpreta Tom, um veterano da Segunda Guerra que está enfrentando o luto pela morte da sua esposa, Mary (Phyllis Logan, da série Downton Abbey), que perdeu a batalha para o câncer. Através de flashbacks, ficamos sabendo que o casal saiu de sua casa no interior da Inglaterra nos anos 50, depois de uma tragédia não especificada. Mary pediu a Tom para levá-la o mais longe possível da dor que estava sentindo, e como resultado, o casal pegou dezenas de ônibus e viveram uma vida juntos, a quilômetros e quilômetros de distância daquele local. Porém, após fazer uma promessa para Mary em seu leito de morte, Tom decide repetir a longa viagem, agora seguindo o caminho contrário.

Timothy Spall em THE LAST BUS (2021)

Spall vende cada segundo da história com a mesma habilidade inerente que demonstrou ao longo de toda sua carreira. Sua interpretação do idoso frágil e determinado nunca escorrega para a caricatura, e seus grunhidos e tropeços entregam um retrato convincente de um homem com o peso de uma vida em seus ombros. Sua saúde em declínio é quase sempre abordada com o típico humor inglês, e o diretor Gillies MacKinnon e seu roteirista Joe Ainsworth conduzem a história com sensibilidade no coração.

De maneira esperta, o filme de MacKinnon nem sempre acompanha a perspectiva de seu personagem central, mas ao mesmo tempo parece ficar em dúvida sobre qual tese seguir. The Last Bus funciona melhor quando foca na determinação de Tom em cumprir a promessa que fez para sua esposa, mas às vezes se enrola em momentos episódicos ocasionais, em que Tom cruza o caminho de símbolos de uma Grã-Bretanha diversa e multicultural. Contudo, nunca é Tom quem é desafiado por tal diversidade, mas sim aqueles ao redor. Quando Tom intervém para defender uma mulher que está sendo assediada e ofendida, a situação soa superficial – ainda que louvável – principalmente por ter pouca relação com o núcleo central da história.

Entretanto, um segmento em que Tom silenciosamente se torna uma celebridade nas redes sociais agita o subtexto da narrativa. Tal acontecimento nunca soa intrusivo, e apenas se manifesta em algumas transmissões de rádio e breves tomadas de outros viajantes digitando a hashtag #BusHero no Instagram. Contudo, todos estes elementos se misturam e culminam em um final vibrante e otimista, que retrata a diversidade e o espírito de comunidade da sociedade britânica atual de maneira que aquece o coração.

Não é preciso ser um exímio conhecedor de cinema para saber onde The Last Bus quer chegar com sua história, mas seria necessário um coração de pedra para não se comover nem que seja um pouco com a jornada de Tom para cumprir sua promessa de uma vida. Spall evoca simpatia a cada passo de seu personagem, e isso é mais que suficiente para compensar uma narrativa tão velha quanto as montanhas e estradas pelas quais tom viaja. Dificilmente você será surpreendido por The Last Bus, mas sem dúvida a emoção estará presente.

Avaliação: 3 de 5.

The Last Bus será lançado em VOD no dia 18 de fevereiro.

O Trailer Oficial de THE LAST BUS (2021)

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