Crítica: Agnes (2021)

Não tenho como não começar esta review sem expressar desapontamento com este Agnes (EUA, 2021, 93 min.). Depois do ótimo Saint Maud (2019), Agnes parecia ser mais um bom exemplar do subgênero do horror religioso que o público tanto adora. Porém, se o que você procura é algo na linha dos filmes sobre possessão demoníaca ao estilo do famigerado Os Demônios (The Devils, 1971), garanto que o mesmo desapontamento que eu tive será inevitável. Os problemas deste Agnes se estendem além de apenas não conseguir entregar um sólido terror sobre possessão, e fica a impressão de que o diretor e co-roteirista Mickey Reece e seu parceiro de roteiro John Selvidge tentaram juntar dois filmes diferentes em um só. De maneira bastante ineficaz, diga-se de passagem.

Em Agnes, o cínico Padre Donaghue (Ben Hall), e seu aprendiz, Benjamin (Jake Horowitz, de A Vastidão da Noite), são convocados pela cúpula da Igreja Católica para investigar rumores de uma possessão demoníaca dentro de um pequeno convento. A vítima de tal possessão seria a personagem-título (Hayley McFarland, de Invocação do Mal), uma jovem freira que teve uma súbita explosão de fúria e blasfêmia. Agora, o que aguarda Donaghue e Benjamin dentro das paredes do convento são forças malignas de tentação e dúvida, que os colocarão frente à frente com um verdadeiro teste de fé.

Ben Hall, Jake Horowitz e Mary Buss em AGNES (2021)

A intenção e espírito por trás de Agnes não é sutil. É um filme preocupado com as hipocrisias da Igreja Católica, e que tenta o tempo todo jogar vários exemplos desta hipocrisia na cara do espectador. E o longa não brinca em serviço: temos o padre que é acusado de abusar de uma menor; temos o carismático telepastor que lucra em cima da dramatização dos exorcismos; temos a jovem garota decepcionada com sua fé e se perguntando porque Deus ignora suas orações, e por aí vai. Este verdadeiro desfile de desamparados e pecadores lota o primeiro ato da produção, deixando pouco tempo para a verdadeira trama do filme ser desenvolvida.

Não me entendam mal, meu problema com Agnes não é uma crítica ao seu tema central. Desconstrução espiritual e críticas à instituição do Catolicismo são válidas, fascinantes até, e têm sido bem utilizadas no cinema ao longo das décadas. O problema é que Agnes não consegue apresentar nada de substancial para apoiar suas denúncias. As tentativas de ilustrar as falhas na fé se mostram apenas maldosas ao invés de sérias e equilibradas. O filme posa como uma história de possessão demoníaca, e até consegue ser uma durante o primeiro ato, mas o que se segue depois é uma inconstante história sobre uma jovem tendo uma crise de fé. Trata-se de um exercício sobre o sofrimento que parece ser construído sobre uma base de miséria e angústia que não é agradável de se ver, e também não é particularmente assustador.

O longa sofre de uma séria crise de identidade. Seu núcleo está mais para um drama indie do que um filme de horror, e até correndo o risco de simplificar demais esta review, fica a impressão de que Agnes não tem a mínima idéia do filme que quer ser, e portanto, acaba se estabelecendo como um filme sem gênero e nem mesmo uma tese. Há pouco o que recomendar em Agnes. O filme é uma indigesta mistura de mensagens incompletas e estrutura narrativa bizarra que sofre de um sério problema de ritmo. É uma pena ver as boas performances do ótimo elenco e seus interessantes personagens serem desperdiçados desta maneira. Tudo o que Agnes tenta fazer, muitos outros exemplares do gênero já fizeram melhor.

Avaliação: 1.5 de 5.

Agnes foi exibido em diversos festivais, incluindo o Fantastic Fest e o Sitges 2021, e estará disponível através de sistemas de streaming e VOD no dia 10 de dezembro.

O Trailer de AGNES (2021)

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