Crítica: 7 Prisioneiros (2021)

Um tenso thriller de sequestro nacional, embalado em uma dura história de amadurecimento, este 7 Prisioneiros (BRA, 2021, 93 min.), marca o segundo filme do diretor Alexandre Moratto (do bom drama Sócrates, 2018), e apresenta ao público o dilema moral que confronta um jovem pobre de 18 anos, que abandona a pequena cidade onde mora e parte para São Paulo, com o objetivo de conseguir dinheiro para enviar para sua mãe doente.

O nome do garoto é Mateus (Christian Malheiros, protagonista do citado Sócrates), e logo de cara já fica nítido de que o rapaz é capaz de tudo para ajudar sua família. É com evidente relutância que ele concorda em sair de casa, e ele segura as lágrimas quando sua mãe compra uma camisa nova para ele celebrar a ocasião (ela poderia ter feito compras para um mês com o dinheiro). Com grandes sonhos e uma cabeça boa sobre os ombros, o céu é o limite para Mateus, e o homem que o vem buscar promete à mãe do rapaz que o filho dela a deixará orgulhosa.

Rodrigo Santoro e Christian Malheiros em 7 PRISIONEIROS (2021)

Mateus e outros três rapazes que o acompanham na van ficam maravilhados com os arranha-céus e a agitação das ruas de São Paulo, mas a alegria deles dura pouco, uma vez que os garotos chegam ao velho galpão onde trabalharão removendo o revestimento de fios de cobre de dia, e dormindo em um dormitório imundo à noite. O sinal de alerta se acende de vez quando eles conhecem seu chefe, o ameaçador bandidão Luca (o sempre competente Rodrigo Santoro), que não hesita em sacar o revólver em qualquer situação e enrolar com relação ao pagamento de seus trabalhadores (escravos seria um termo melhor). Mateus, cuja propensão natural o transforma em líder da mão-de-obra de Luca, insiste que está somente interessado em um trabalho honesto, o que Luca enxerga como uma ameaça.

A situação então se deteriora rapidamente deste ponto em diante, uma vez que os fios de cobre dão lugar ao tráfico de pessoas. Luca tranca os rapazes no ferro-velho, e insiste que só os deixará sair se pagarem a “dívida” que têm com ele. Se tentarem escapar, ele mata suas famílias, se recorrerem à polícia, serão mortos por sua insolência. E de repente, para Mateus e seus novos companheiros, os arranha-céus já não soam como oportunidade, mas sim como os portões de um inferno sem saída.

Porém, Mateus não é o tipo de vítima com o qual Luca e seus parceiros de crime estão acostumados a lidar. Com sua educação de oitava série e cabeça fria, ele acaba forçando Luca a reconhecê-lo como um dos gerentes de seus negócios, e menos de um mês após ser trancado com seus novos amigos, Mateus já é o responsável pela chave da cela. O que ele quer é ajudar os rapazes, mas ele sabe que subir dentro da corporação criminosa de Luca é a única maneira de ajudar a sustentar sua mãe. Mateus é um garoto esperto, mas ele ainda tem muito o que aprender sobre a frágil linha entre auto-preservação e obediência, e os testes que o aguardam vão se tornando cada vez mais pesados dia após dia.

7 Prisioneiros é propelido principalmente pela tensão natural de sua premissa, que é simples e cativante e se desenvolve em um arco linear onde as coisas em torno de Mateus escalam de ruim para pior. A direção direta e visceral de Moratto parece sufocar cada cena com a sensação de que as paredes estão se fechando em torno dos personagens, e o roteiro co-escrito por ele e Thayná Mantesso enfatiza a falta de escolhas disponíveis para eles (incluindo Luca). A performance de Malheiros é realista para um personagem que se encontra em tal situação, e o ator personifica com inteligência a perigosa relação entre poder e responsabilidade, fazendo com que suas escolhas mais cruéis sejam duas vezes mais sofridas para ele, principalmente devido à violência que elas impõem ao seu próprio senso moral.

Não há muito mais neste econômico porém recompensador filme, mas Moratto complica o dilema central com a habilidade de um mestre na arte do drama. As tensões latentes que se formam entre Mateus e os outros trabalhadores são simples mas sentidas no âmago do espectador, e a segunda metade do filme honra seu título ao expandir o elenco de maneira que força Mateus a colocar sua coragem à prova de maneira urgente e inimaginável. Contudo, é sua relação com Luca que dá o maior fôlego à produção; os desvios inesperados da nova vida de crime de Mateus inspira o entendimento de como ele realmente chegou até ali, e provocam empatia pelo homem que ele se tornou.

Há alguns momentos na reta final deste 7 Prisioneiros em que o filme bem que poderia se chamar “6 Prisioneiros”, ou então “8 Prisioneiros”. Cabe aqui um crédito imenso a Moratto e à maneira que ele leva seu público a trabalhar a sua própria matemática. O diretor ainda conduz sua história em direção a uma conclusão de inexorável honestidade, que se recusa a insultar todo e qualquer garoto nas pequenas cidades de onde Mateus e tantos outros esperam por uma chance de sair e ir a São Paulo, uma cidade que não espera por ninguém.

Avaliação: 3 de 5.

7 Prisioneiros teve sua premiére mundial no Festival de Veneza 2021, e será lançado nos cinemas brasileiros pela O2 Play no próximo dia 05 de novembro, e no catálogo da Netflix no dia 11 do mesmo mês.

O Trailer de 7 PRISIONEIROS (2021)

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