Crítica: Finch (2021)

O astro Tom Hanks está de volta ao serviço de streaming Apple TV Plus, depois do sólido drama de guerra Greyhound, lançado no ano passado. Em Finch (EUA/UK, 2021, 115 min.), sob a direção do britânico Miguel Sapochnik (Repo Men: O Resgate de Órgãos e episódios de séries como Game of Thrones e House), Hanks interpreta o personagem-título, um engenheiro e gênio da robótica que sobrevive a um evento solar cataclísmico que transformou a Terra em um cenário digno de Mad Max. Sua única companhia é seu cachorro, Goodyear, um esperto vira-lata, e juntos, eles tem sobrevivido em um galpão subterrâneo abandonado.

Contudo, Finch tem duas certezas: a primeira delas é que ele vai morrer em breve. Ele sofre de uma doença terminal e seus dias estão contados. A segunda é que ele sabe que se ficarem ali, no mesmo galpão, eles também estarão com os dias contados. Então, antes de partir em uma perigosa viagem contra o tempo e as condições externas para tentar encontrar um novo lar, ele decide criar um androide inteligente, o qual ele dá o nome de Jeff (voz de Caleb Landry Jones, de Corra!), para que este cuide de Goodyear quando ele partir desta para melhor.

Bem, é isso. Tom Hanks, um cachorro e um robô. Como resistir a uma combinação dessas? Afinal, se no até certo ponto semelhante Náufrago, Hanks conseguiu fazer o público chorar por uma bola de vôlei, imagina quando ele vem acompanhado de um cachorro e um robô. Não sei se já era premeditado por Sapochnik e seus roteiristas, o estreante Craig Luck e o veterano produtor de filmes como Alien e Blade Runner, Ivor Powell, mas à partir do momento em que um astro com tamanha identificação com o público embarca num projeto desta natureza, a coisa muda de figura. Finch é antes de tudo um filme para os fãs do ator, que apesar do carisma de seu companheiro peludo e de seu novo amigo cibernético, carrega o filme nas costas, como de costume.

Como já era de se esperar pelo trailer da produção, Finch passeia por uma infinidade de clichês do subgênero dos filmes pós-apocalípticos, ou dos filmes que envolvem relações de amizade entre homem e cão, homem e máquina. Não é segredo para ninguém que ao longo da viagem, Finch irá ensinar a Jeff as maravilhas e dificuldades da vida, ao mesmo tempo em que tenta fazer o cão e o robô se entenderem. Visualmente, o filme de Sapochnik também não apresenta nada de novo, porém trata-se de uma produção classe A, e tanto a concepção visual quanto os efeitos-especiais são muito acima da média, especialmente os que são utilizados na criação de Jeff, uma mistura do Sonny de Eu, Robô com o Johnny 5 de Um Robô em Curto Circuito.

Mesmo entre a variedade de clichês, há elementos bem interessantes em Finch. O principal deles, é claro, é a sempre cativante performance de Hanks, aquele cara que pode te vender uma granada sem pino e você ainda assim vai comprar sorrindo. É realmente impressionante o carisma deste grande ator. Outro ponto a favor são as interações entre o improvável trio de protagonistas, especialmente entre o cão e o robô. Algumas sacadas nos diálogos entre Finch e seus companheiros também chamam a atenção, especialmente quando ele relembra a Terra antes de seu colapso.

Eu mencionei o filme Náufrago lá em cima não foi por acaso. De certa forma, há uma conexão espiritual entre este Finch e o filme citado, além, obviamente, da presença de Hanks no papel principal. A conexão se dá especialmente pelo fato de que ambas as histórias são sobre pessoas em estado de solidão. Enquanto que Náufrago é sobre um homem cuja vida é inesperadamente melhorada pela infeliz circunstância de como ele se encontra, nada de realmente especial acontece com o personagem de Hanks. Finch é na realidade um filme sobre um homem que ganhou um “tempo extra” para conseguir deixar um pequeno legado quando se for.

O tempo de Finch é limitado, e o cachorro simboliza responsabilidade e amor, dois sentimentos que valem a pena ser cultivados em uma terra devastada onde talvez não exista mais qualquer resquício de humanidade. Sua jornada é, em certo grau, uma jornada de permanência, sobre deixar algo que dure eternamente, e isso se materializa na relação que se desenvolve entre a máquina e o animal. Uma vez que se elimina o óbvio da roupagem deste Finch, fica um pedido para que se olhe no coração da história, e trata-se de um coração que bate de maneira muito bonita e edificante. E claro, ter Tom Hanks como protagonista faz toda a diferença.

Avaliação: 3 de 5.

Finch estreia exclusivamente no catálogo do sistema de streaming da Apple TV Plus no próximo dia 05 de novembro.

O Trailer de FINCH (2021)

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