Crítica: Os Tradutores (Les Traducteurs/The Translators) | 2019

Depois de sua primeira exibição em festivais em novembro de 2019, e após ser exibido ao longo de 2020 em festivais e cinemas da Europa, a distribuidora Imovision finalmente está lançando nos cinemas brasileiros este Os Tradutores (Les Traducteurs/The Translators, FRA/BEL, 2019, 105 min.), suspense que fará os fãs de Agatha Christie se deliciarem com seus mistérios e reviravoltas. O diretor Régis Roinsard (A Datilógrafa, 2012), e seus roteiristas Daniel Presley e Romain Compingt constróem um thriller estiloso e misterioso, ao mesmo tempo em que utilizam uma roupagem moderna para contar uma história de natureza clássica, que remete aos contos de mistério do passado. Não sei bem se Roinsard e companhia conseguiram realmente amarrar todas as pontas de seu mistério, mas com certeza eu me diverti bastante ao vê-lo tentar.

Eric Angstrom (Lambert Wilson, do recente Benedetta), construiu uma bem-sucedida editora apoiado na altamente popular série de livros de mistério, “Daedalus”. O fato de que o autor da série é um recluso misterioso com certeza ajudou a tornar os livros um sucesso, e agora, Angstrom está pronto para lançar o livro final da trilogia, para ansiedade dos fãs e do mercado como um todo. Determinado a alavancar as vendas de todas as formas possíveis, ele recruta um time de nove tradutores para que o livro esteja pronto em múltiplas versões internacionais assim que ele for lançado na França.

O time inclui a bela russa Katerina Anisinova (Olga Kurylenko, de 007: Quantum of Solace); o nerd britânico Alex Goodman (Alex Lawther, das séries Black Mirror e The End of the F***ing World); e o italiano caladão Dario Farelli (Riccardo Scamarcio, de John Wick: Um Novo Dia Para Morrer), entre outros. E para proteger o livro, Angstrom basicamente aprisiona o time em um bunker sob a vigília de sua assistente, Rose-Marie (Sara Girardeau) e uma equipe de segurança. O bunker tem algumas qualidades (como um chef gourmet, por exemplo), mas a verdade é que todos estão presos lá dentro.

Angstrom planeja passar algumas páginas por vez para seus tradutores, também como uma medida de segurança, apesar de ser virtualmente impossível que algum deles consiga vazar o conteúdo de alguma forma. Mas é exatamente o que acontece; Angstrom vê seus planos irem por água abaixo quando alguém vaza as dez primeiras páginas do livro online. Pior, o vazamento vem acompanhado de extorsão, uma vez que o responsável pede uma considerável quantia em dinheiro para não vazar mais páginas do livro. Angstrom rapidamente constata que o vazamento deve ter vindo de dentro do bunker, e logo ele embarca em uma perigosa caçada para descobrir o culpado. Caçada que ameaça não só a editora de Angstrom, mas também a vida dos tradutores.

Roinsard mostra uma boa mão para o suspense, aumentando o nível de tensão com estilo. O segundo ato em particular passa voando aos olhos do público, à medida que o cerco sobre os personagens vai se fechando e o risco se tornando mais alto. Apesar da estrutura de thriller de mistério convencional, o filme “sai do bunker” em alguns momentos através de uma série de flashbacks e flash-forwards, que inclui até uma empolgante corrida contra um trem em movimento, numa das melhores sequências da produção.

O roteiro deixa algumas pistas de maneira esperta (e até alguns easter eggs) para o espectador mais atento, e o filme referencia diretamente Agatha Christie (revelar qual livro dela seria um spoiler), além de claramente prestar homenagem ao grande Alfred Hitchcock. Tudo isso culmina em um mistério que eu realmente não consegui solucionar antes da revelação final, por mais que eu tentasse. Como mencionei anteriormente, o filme se move rápido, então ainda não tenho certeza se Roinsard e seus roteiristas conseguiram realmente amarrar todas as pontas soltas. Caso ele não tenha conseguindo, entretanto, sinceramente isso não me incomodou, uma vez que eu realmente me diverti durante a sessão. Se o filme tem uma falha, talvez seja a escolha de utilizar nove tradutores. São muitos personagens para se monitorar, e como resultado, alguns deles acabam sendo deixados de lado.

As atuações são ótimas, de maneira geral. Lambert está seguro como sempre no papel principal, e a “Bond girl” Olga Kurylenko emprega seu charme costumeiro na produção; o jovem e talentoso Alex Lawther emprega senso prático e inteligência a seu personagem, enquanto que Riccardo Scamarcio, Anna Maria Sturm e Frédéric Chau estão excelentes como os tradutores de italiano, alemão e chinês, respectivamente; Já Sara Giraudeau (A Bela e a Fera, 2014) agrega nuance ao papel da conflituosa assistente de Angstrom.

Resumindo, Os Tradutores é feito sob medida para os fãs de um bom mistério. Um thriller inteligente e envolvente que garante um frescor ao subgênero dos filmes cuja narrativa são confinadas a um só espaço. Trata-se de um dos raros filmes que você pode escolher seguir com um olhar mais atento e matar a charada antecipadamente (se for capaz), ou apenas embarcar sem compromisso e esperar a grande revelação. De uma forma ou de outra, Os Tradutores é diversão garantida.

Avaliação: 2.5 de 5.

Os Tradutores será lançado pela Imovision nos cinemas brasileiros no próximo dia 28 de outubro.

O Trailer de OS TRADUTORES (LES TRADUCTEURS/THE TRANSLATORS) | 2019

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