Crítica: O Ninho (Il Nido/The Nest) | 2019

Para quem assistir ao suspense gótico italiano O Ninho (Il Nido/The Nest, Itália, 2019, 107 min.), serão inevitáveis as comparações com outros exemplares recentes do gênero, como por exemplo o tenso Fuja (2020), ou a série The Act (2019). Em ambas as produções, a devoção de uma mãe à sua cria não conhece limites, e também existem segredos capazes de destruir esta relação. É assim também neste thriller dirigido por Roberto De Feo (do recente Um Clássico Filme de Terror, lançado este ano na Netflix), onde tal relação de amor/dependência entre mãe e filho supera sua premissa manjada e as aparentes limitações da produção.

O Ninho é um filme que requer bastante paciência de seu espectador, uma vez que prevalece o ritmo lento que constrói um bom clima e uma atmosfera macabra, longe dos jump scares e do gore. Ao abraçar com naturalidade os ingredientes de um conto gótico, De Feo cria no espectador uma falsa sensação de saber exatamente o que esperar de seu filme. Afinal, o cenário não surpreende ninguém: uma velha mansão isolada que poderia muito bem ter surgido de uma história do mestre Edgar Allan Poe, cuja citada atmosfera é delineada por interiores que parecem nunca ver a luz do dia e personagens que escondem sua reais intenções.

Alexander Korovkin e Francesca Cavallin em O NINHO (IL NIDO/THE NEST) | 2019

Samuel (um abatido Alexander Korovkin), é prisioneiro em sua própria casa. Aos 11 anos de idade e preso à uma cadeira de rodas, ele está à mercê de sua tirânica mãe, Elena (Francesca Cavallin), uma mulher cujas vestimentas e comportamento severo refletem uma mãe rígida e direta, cujo trabalho segundo ela própria é preparar Samuel para um futuro onde ele administrará a propriedade e construirá um futuro melhor. Um prólogo mostra eventos acontecidos dez anos antes, onde um trágico acidente toma a vida do pai de Samuel, e um triste diagnóstico revela que o garoto nunca mais andará novamente. Elena, então, construiu um santuário para ele, um santuário que se estende pelo vasto território de sua casa, a qual o garoto não tem a permissão de deixar em hipótese alguma.

Em que exatamente consiste a “propriedade” da família e como ela funciona é sempre um tanto escondido em O Ninho. Nós sabemos que a palavra de Elena é a lei, que os empregados tremem em sua presença e que a desobediência é punida de maneira extrema. Há também um sinistro doutor no local, Sebastian (o esquisitão Maurizio Lombardi), que também parece saber mais do que sua face sombria mostra, e algumas pessoas da família que parecem dispensáveis de acordo com a vontade de Elena.

Esta dinâmica muda radicalmente com a chegada de Denise (Ginevra Francesconi), uma nova empregada de 15 anos de idade. É ela quem tem a audácia de apresentar Samuel ao Rock n’ Roll entre outras coisas, e finalmente sugerir que existe um mundo inteiro lá fora, novo e pronto para ser explorado por ele. A sensação de que Denise é uma ameaça às regras inflexíveis de Elena dá um gás todo novo na narrativa, que ganha em ritmo e conduz o filme a dez minutos finais que são surpreendentes e bastante satisfatórios.

Apesar de não desenvolver alguns aspectos da trama como deveria e por demorar para dar forma para o que seu filme realmente quer mostrar, De Feo brinca com as matrizes do horror gótico e se apoia na gélida convicção de Francesca Cavallin e sua implacável Elena, e também na simpatia imediata de seu público pelo garoto e vítima inocente, para criar e sustentar a credibilidade de sua história, que por vezes flerta com a implausibilidade. Trata-se de uma produção com qualidades que precisam ser descobertas com um olhar mais cuidadoso, como por exemplo a trilha-sonora do músico instrumentista Teho Teardo, e o design de som que surpreende em alguns momentos. Mas no geral, é mesmo na incansável dinâmica entre mãe e filho (ainda que seja uma dinâmica soturna e deprimente), que O Ninho segura o espectador durante longos cem minutos até sua bem-vinda surpresa final.

Avaliação: 3 de 5.

O Ninho será lançado pela A2 Filmes nos cinemas brasileiros no dia 28 de outubro.

O Trailer de O NINHO (IL NIDO/THE NEST) | 2019

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