Crítica: The Sadness (2021)

Em um mundo em relativa pós-pandemia COVID-19, estamos começando a receber os primeiros exemplares do cinema que exploram esta situação mundialmente sem precedentes. Depois de tudo que passamos nestes últimos 18 meses e continuamos passando devido ao efeito do vírus em nossa vida cotidiana, será que pandemias zumbis e vírus que atacam o cérebro e transformam pessoas em cães raivosos ainda seriam irreais o suficiente para fornecer uma fuga para os fãs do horror? Trata-se de uma questão que, tenho certeza, terá uma resposta diferente para cada um. Mas para o diretor e roteirista canadense Rob Jabbaz, não só é o momento de voltar para um dos mais amados (e explorados) subgêneros da história do cinema, como também é a hora de anabolizar a porra toda.

The Sadness (Taiwan, 2021, 99 min.), é o filme de estreia de Jabbaz, um horror genuinamente perturbador ambientado na cidade de Taipei, em Taiwan, durante a epidemia de um misterioso vírus chamado Alvin. Pouco depois do final da epidemia do COVID, Alvin surge e se espalha rapidamente, transformando os infectados não em zumbis comedores de cérebro, mas estupradores e assassinos sádicos. Trata-se de uma espécie de filme de zumbi sob efeito de crack; uma gore fest ultra repugnante com o mais incômodo dos plots: o público em geral se alimentando não da carne ou intestinos, mas sim do genuíno sofrimento humano.

Tzu-Chiang Wang em THE SADNESS (2021)

Não tenho como não afirmar que se trata de um tremendo twist no gênero, um twist que Jabbaz entrega diretamente na jugular do espectador, descartando qualquer tipo de humor e mantendo seu esquálido roteiro apoiado em choque atrás de choque, sempre escalando em direção ao desconcertante. O resultado é algo incrivelmente eficaz, mas também profundamente desagradável, sem a menor preocupação de agradar seu público. Jabbaz evoca aspectos da onda extreme do cinema asiático da década de 2000, onde nomes como Takashi Miike e Chan-wook Park surgiram, e o que se vê na tela são atrocidades descomunais, verdadeiras orgias de sangue onde órgãos, membros e tudo que você imaginar são arrancados por puro prazer doentio. Nem preciso dizer que os fãs de gore e horror de natureza explícita irão se esbaldar, porém o restante do público dificilmente embarcará na mesma vibe.

Quem ainda estiver ligado na produção depois da primeira onda de barbaridades sangrentas, vai se deleitar com o que Jabbaz guarda para seu público no restante deste The Sadness. O diretor filma a ação em explosões de violência que pasmem (!) chegam a ser belas em sua loucura e excentricidade visual. A dupla de protagonistas, os desconhecidos e esforçados Regina Lei e Berant Zhu, são a perfeita mistura de pessoas que vivenciam algo completamente fora de seu controle, porém que conseguem se garantir na hora do perigo, sem falar nos espetaculares efeitos práticos de gore, que explode cabeças com tamanha perfeição que deixaria até o mestre David Cronenberg orgulhoso.

The Sadness é um tipo bastante específico de filme de terror; do tipo que tem apelo com o lado mais depravado de todos nós, mais aterrorizante em seu niilismo e falta de esperança do que em sua violência desmedida. Não é o tipo de horror que funciona como uma simples e divertida fuga do dia-a-dia mundano, ou mesmo um filme que ofereça uma libertação catártica de nossos medos mais profundos. The Sadness é um poço sem fundo de maldade e sofrimento; um filme que deita e rola no obsceno. Não deixa de ser uma realização ímpar, mas não uma agradável, do tipo que você recomenda para qualquer um.

Avaliação: 3 de 5.

The Sadness chega em breve ao mercado de Home Entertaining.

O Trailer de THE SADNESS (2021)

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