Crítica: Army of the Dead: Invasão em Las Vegas (Army of the Dead) | 2021

Você sabe o que eu mais gosto no cinema do diretor Zack Snyder? Não são as câmeras lentas, nem o apuro visual comum em seus filmes. O que me faz um fã incondicional do cineasta é o fato de que ele sempre entrega o que o povo quer. Em Army of the Dead: Invasão em Las Vegas (Army of the Dead, EUA, 2021, 148 min.), Snyder entrega o épico definitivo sobre o subgênero do horror envolvendo zumbis (ou mortos-vivos, se preferir). Tudo no escopo de Army of the Dead é tão grande, ambicioso e exagerado, que fica nítida a necessidade do diretor em se libertar das amarras da Warner, responsável por mutilar o que o diretor tinha em mente para o universo da DC Comics no cinema. Snyder se esbalda em sua produção, que pega sua refilmagem de O Despertar dos Mortos e amplifica a adrenalina, o humor ácido e a violência, ao mesmo tempo em que desenvolve uma subtrama que pode até emocionar os menos preparados.

O filme começa acompanhando um comboio militar que cruza o deserto de Nevada, vindo da famigerada Área 51. Obviamente, o comboio acaba sofrendo um acidente, e a “carga” (um zumbi anabolizado) de um dos caminhões escapa. Primeiro, ele aniquila os soldados restantes, e em seguida, parte para Las Vegas, transformando todo jogador de carta, todo idoso viciado em jogo e todo imitador de Elvis em zumbis. Tudo isso acontece nos primeiros 15 minutos de filme, numa sequência de abertura simplesmente espetacular ao som da clássica (e não poderia ser diferente), “Viva Las Vegas”. O governo então, numa medida drástica mas necessária, constrói um muro em torno de toda a cidade, como forma de conter os zumbis na área.

Pouco tempo depois, entra em cena o bilionário Bly Tanaka (Hiroyuki Sanada, do recente Mortal Kombat), que, inacreditavelmente, quer ENTRAR na Vegas tomada pelos defuntos ambulantes. O motivo? Bem, melhor perguntar os $200 milhões de motivos. O dinheiro ainda se encontra no cofre de seu cassino, e ele está disposto a pagar a uma equipe tática para recuperar a grana. Além disso, ele deixará os sobreviventes da missão dividirem um quarto do dinheiro. Como nada que é bom vem fácil, além da horda de zumbis que habita dentro dos muros recém-construídos em volta da cidade, a equipe precisa correr contra o tempo, já que o governo planeja jogar uma bomba nuclear na cidade dentro de poucos dias.

ARMY OF THE DEAD: INVASÃO EM LAS VEGAS

Todo mundo sabe que é possível despachar um zumbi com um tiro ou golpe bem dado na cabeça da criatura. Porém, no mundo do entretenimento, os zumbis nunca morrem realmente. Desde a obra-prima A Noite dos Mortos Vivos (1968), do “Pai” do subgênero, o mestre George A. Romero, os zumbis têm sido os monstros mais duráveis da cultura pop. Isso se explica pelo fato de que apesar de cambalearem por aí comendo cérebros, tais criaturas frequentemente preenchem um papel metafórico também, representando diferentes alegorias como os perigos do comunismo e também do capitalismo e seu consumismo desenfreado (era este inclusive, o mote por trás do fantástico O Despertar dos Mortos, também do mestre Romero, e de seu remake, Madrugada dos Mortos, dirigido pelo próprio Zack Snyder).

Aqui, em seu desolador e caótico show de horrores, Snyder também trabalha sua legião de mortos-vivos como reflexões sociais. Esta horda de zumbis em particular, foi criada (até certo ponto) pelos militares americanos, refletindo um certo cinismo social em relação à instituição. Os campos de detenção (e outros horrores variados que são vistos lá dentro), remetem aos campos ao longo da fronteira do país com o México hoje. Mas não vamos forçar nas metáforas ou dar tanto crédito assim ao filme nesse sentido. Army of the Dead é sobre os zumbis, os verdadeiros, não os metafóricos. Como em Madrugada dos Mortos, os zumbis de Snyder são verdadeiras máquinas de matar, rápidas como Usain Bolt e famintas como os tigres dos espetáculos de Vegas. Um destes animais, inclusive, ressurge zumbificado para a alegria do espectador sedento por sangue. Aliás, sangue e vísceras é o que não falta durante as portentosas duas horas e meia de filme. Army of the Dead é sem dúvida o filme mais violento dos últimos anos. A contagem de corpos é impossível de acompanhar, mandíbulas são arrancadas, pessoas são transformadas em fontes de sangue, cabeças são esmagadas, zumbis são empalados e moídos em pedaços e pasmem (!) um rapaz e um zumbi trocam socos em uma briga! Nem preciso dizer quem leva a pior…

Entretanto, mesmo em meio à carnificina descontrolada, Snyder pontua seu filme com uma carga de humanidade inesperada e bem-vinda dentro da narrativa. O líder da equipe encarregada do resgate do dinheiro, Scott Ward (Dave Bautista, excelente nas cenas de ação e surpreendente no quesito dramático), é o centro do filme, e a problemática relação com sua filha, Kate (Ella Purnell), é o fio condutor da trama, que influencia desde os motivos para Scott aceitar a missão, até o que acontece depois dela. Os coadjuvantes são excelentes, e cada um à sua maneira tem um tempo para brilhar. O alemão Dieter (Matthias Schweighöfer), responsável por abrir o cofre, e que carrega um taco de beisebol com pregos na ponta a la Negan da série The Walking Dead; a durona Marianne (Tig Notaro) e o pessimista Martin (Garret Dillahunt, da série Fear The Walking Dead), estão entre os favoritos. Todos os membros do time obviamente começam a missão pensando exclusivamente na grana, mas no final das contas, todos arriscam suas vidas um pelo outro, Alguns, fazem o sacrifício definitivo.

Do lado dos zumbis, é aí que Army of the Dead ganha alguns pontos consideráveis. A ideia de zumbis conscientes já foi explorada antes, a melhor delas no último bom filme do mestre Romero, Terra dos Mortos (2005). Porém, em Army of the Dead, Snyder tira alguns coelhos da cartola. Alguns dos zumbis aqui são mais fortes, mais rápidos e mais inteligentes do que o zumbi comum. Isso inclui os líderes da horda; a “Rainha”, que usa uma roupa ao estilo Raquel Welch, e seu companheiro “Zeus”. Tanto Zeus quanto a Rainha são elementos que funcionam de maneira primorosa dentro do filme. E uma chocante revelação envolvendo os dois é a cereja no bolo da bizarrice proposta por Snyder.

No final das contas, Army of the Dead: Invasão em Las Vegas é uma mistura muito bem equlibrada de filmes de roubo como Onze Homens e um Segredo e horror apocalíptico. Snyder finalmente pôde entregar um filme como realmente queria, e o homem nos entrega sangue, vísceras, gore, e mais sangue, tudo embalado em um pacote visual impecável, obscenamente grotesco, engraçado e emocionante. Um dos melhores filmes do ano até agora.

Avaliação: 3 de 5.

Army of the Dead: Invasão em Las Vegas estreia na próxima sexta-feira, dia 21 de maio, no catálogo da Netflix.

4 comentários sobre “Crítica: Army of the Dead: Invasão em Las Vegas (Army of the Dead) | 2021

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